domingo, 14 de novembro de 2010

Entrevista

De modo geral, mudanças e novas experiências incomodam. É mais fácil manter-se na zona de conforto sem a preocupação de encarar fatos novos. Mas, ao mesmo tempo, a curiosidade inerente à nossa espécie nos move a experimentar. Foi essa a sensação que eu tive ao saber que deveria fazer uma entrevista com uma pessoa com mais de 60 anos e depois, baseado no documento gerado pela entrevista, escrever um artigo sobre a história de vida dessa pessoa. Primeiro vieram as dúvidas quanto à entrevista: Quem entrevistar? Como guiar uma entrevista deixando o interlocutor à vontade? Como reagir a uma resposta inesperada? Depois, as dúvidas quanto ao artigo: Como fazer um artigo, se nunca eu fiz um? Como transferir informações obtidas em uma entrevista para um artigo e concatená-las adequadamente?
Mesmo não tendo certeza se o que foi realizado está de acordo com o que deveria ser feito, a experiência desfrutada na realização dessa empreitada - entrevista, artigo - foi única. Primeiro, a sensação de estar me transportando no tempo e no espaço enquanto ouvia os relatos da pessoa entrevistada é inigualável. Segundo, as interpretações dos acontecimentos fornecida por ela, mostrando-me que as visões do mundo não são únicas sequer para a mesma pessoa, que pode mudar de opinião com o tempo, de acordo com os estímulos externos recebidos. E, por último, as reações no momento da entrevista: perceber as emoções, ver os olhos mirarem um ponto incerto, como se olhassem através do tempo, lágrimas e sorrisos. Depois disso, ao escrever o artigo, a resposabilidade, o respeito e o cuidado com a fidelidade daquele relato.
Muito gratificante. O novo incomoda, mas a curiosidade nos faz seguir adiante. E a incerteza transforma-se então em fascínio.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Duas faces do governo brasileiro: eleições x ENEM

Apenas seis dias bastaram para o governo brasileiro mostrar as suas duas faces administrativas extremas sem deixar dúvidas.
No domingo, 31 de outubro de 2010, houve a demontração de eficiência e organização nas eleições e na apuração dos votos. Às 20h13 (horário de Brasília), o TSE anunciou o resultado da eleição presidencial, declarando a candidata Dilma Rousseff eleita.
Nos dias 6 e 7 de novembro de 2010, foram aplicadas as provas do Exame Nacional do Ensino Médio - o ENEM 2010. Várias universidades do país utilizam os resultados do ENEM como fase única de ingresso ou como complementação da nota de seus vestibulares de ingresso.
Os problemas ocorridos na aplicação das provas do ENEM 2010 foram vários. Parte das provas (o caderno de perguntas de capa amarela) trouxe vários erros de impressão, com questões faltando e questões diferentes com mesma numeração. A folha de respostas também apresentou problemas. No caderno de perguntas, as questões de 1 a 45 eram de ciências humanas e, de 46 a 90, de ciências da natureza. Na folha de respostas, o cabeçalho de ciências da natureza aparecia primeiro (na numeração de 1 a 45). O de ciências humanas vinha depois (na numeração de 46 a 90). O escritor Laurentino Gomes, autor dos livros "1808" e "1822", criticou o erro de citação de um trecho de um dos seus livros. A questão cita a data de 1810 como ano da abertura dos portos no Brasil. Segundo Gomes, o ano correto é 1808. Mais erros ocorreram, o que provocou tumulto em alguns locais de aplicação de provas.
Vale lembrar que em 2009 o ENEM precisou ser adiado porque as provas vazaram na gráfica responsável pela impressão.
Estes dois eventos mostram duas facetas do nosso governo. Uma muito eficiente (ligada à política) e outra sombria, recheada de erros e descaso (ligada à educação). Coincidência?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Sem candidatos

Quem irá presidir o nosso país nos próximos quatro anos é Dilma Rousseff, que foi eleita ontem com os votos de 41,1% dos eleitores. Mesmo sendo a candidata do atual presidente, que atingiu níveis de popularidade quase insanos, Dilma se elegeu sem a aprovação sequer da maioria simples daqueles com obrigação de votar no país. Além disso, a abstenção nesse segundo turno representou 21,5% dos eleitores (mais de 29,1 milhões preferiram não votar!). Somando-se a isso os votos em branco e nulos, chegamos a 26,8%. Ou seja, a cada quatro eleitores, mais de um preferiu não escolher ninguém para governá-lo dentre os candidatos possíveis. Chego à conclusão de que a eleição de Dilma foi apenas o resultado do apoio do governo de Lula e de não haver candidatos de oposição pelo menos "factíveis"; isso mesmo: a oposição foi incapaz sequer de fabricar um candidato. O marasmo político que se estabeleceu no país nos últimos anos apaziguou o antagonismo. Aqueles que governam e aqueles que são da "oposição" se mesclam em turbilhões de negociatas de cargos públicos e falcatruas tais que acabaram se tornando quase indistinguíveis. É isso que se reflete na frieza dos números da eleição. Votou-se por obrigação e por falta de opção. O nosso país merece mais do que isso.