quinta-feira, 30 de junho de 2011

Religião canaanita

As tribos israelitas durante o período de condução e liderança principalmente de Moisés e Josué tiveram que lutar contra tribos nômades; em seus contatos com estes grupos, elas absorveram algumas das atitudes e motivos do estilo de vida nômade, tais como independência, amor pela liberdade de se mover sem destino, e o medo ou desdém pelo estilo de vida sedentário, agrícola e dos povos urbanos.

Já os canaanitas, com quem os israelitas entraram em contato durante a conquista por Josué e o período dos juízes, eram um povo urbano e agrícola sofisticado. O nome Canaã significa “País da Púrpura” (a tinta púrpura era extraída de um molusco encontrado no litoral da Palestina). Os canaanitas, um povo que absorveu e assimilou as características de muitas culturas do antigo Oriente Próximo por pelo menos 500 anos antes dos israelitas entraram na sua área de controle, eram um povo que, até onde se sabe, inventou a forma de escrever que se tornou o alfabeto, que, através de gregos e romanos, foi transmitida a muitas culturas influenciadas pelos seus sucessores – especialmente, as nações e povos da civilização ocidental.

A religião dos canaanitas era uma religião agrícola, com motivos de fertilidade pronunciados. Suas divindades principais eram chamadas Baalim (Senhores), e suas consortes Baalot (Senhoras) ou Asherah (singular), normalmente conhecidas pelo nome pessoal no plural Ashtoret. O deus de Siquém, cidade que os israelitas absorveram pacificamente sob Josué, era chamado de Baal-berith (Senhor da Aliança) ou El-berith (Deus da Aliança). Siquém se tornou o primeiro centro da confederação tribal religiosa (chamado de anfictiônia pelos gregos) dos israelitas durante o período dos juízes. Quando Siquém foi escavada no começo da década de 1960, o templo de Baal-berith foi parcialmente reconstruído; o pilar sagrado (geralmente um símbolo fálico ou, muitas vezes, uma representação de Asherah, o símbolo da fertilidade feminina), foi colocado na sua posição original diante da entrada do templo.
Acreditava-se que os Baalim e as Baalot, deuses e deusas da Terra, revitalizavam as forças da natureza das quais a agricultura dependia. O processo de revitalização envolvia um casamento sagrado (hieros gamos), repleto de atividades sexuais simbólicas e reais entre homens, representando os Baalim, e as prostitutas sagradas do templo (quedeshot), representando as Baalot. As cerimônias rituais envolvendo atos sexuais entre membros masculinos das comunidades agrícolas e as prostitutas sagradas dedicadas às Baalim eram focadas no conceito canaanita de magia favorável. Como as Baalim (através das ações de homens selecionados) tanto simbólica quanto de fato fecundavam as prostitutas sagradas, então também, acreditava-se, as Baalim (como deusas das condições atmosféricas e da Terra) enviariam as chuvas (frequentemente identificadas com o sêmen) à Terra de forma que elas pudessem render safras abundantes de grãos e frutos. Histórias lendárias canaanitas incorporando tais mitos de fertilidade estão representadas nos textos mitológicos da antiga cidade de Ugarit (a moderna Ras Shamra) no norte da Síria; embora o deus supremo El e sua consorte fossem importantes como o primeiro casal do panteão, Baal e sua esposa-irmã sexualmente apaixonada eram importantes na criação do mundo e na renovação da natureza.
A religião dos agricultores canaanitas mostrou ser uma forte atração para as tribos israelitas nômades menos sofisticadas. Muitos israelitas sucumbiram às seduções dos rituais e práticas carregados de fertilidade da religião canaanita, parcialmente porque era nova e diferente da religião de Javé e, possivelmente, por causa da tendência da fé rigorosa e da ética enfraquecerem sob a influência de atrações sexuais. À medida que os canaanitas e os israelitas começaram a viver em contato próximo entre si, a fé de Israel tendeu a absorver alguns dos conceitos e práticas de religião canaanita. Alguns israelitas começaram a dar nomes a suas crianças homenageando os Baalim; até mesmo um dos juízes, Gideão, também era conhecido pelo nome Jerubbaal (“Deixe Baal Lutar”).
À medida que as tendências sincréticas se tornaram profundamente estabelecidas na fé israelita, o povo começou a perder o conceito de sua exclusividade e de sua missão de ser testemunha das nações, tornando-se enfraquecido em resoluções internas e responsável pela opressão de outros povos.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os elamitas

O platô iraniano não experimentou o surgimento da civilização urbana e letrada no final do IV e no começo do III milênio AEC no padrão mesopotâmico, mas o vale do Kuzestão, no sudoeste do Irã atual, o fez. Lá existiu a civilização elamita.
Geograficamente, O Elã incluía mais que essa região; era uma combinação desses vales e das áreas montanhosas adjacentes a norte e a leste. A força elamita estava baseada na habilidade de manter estas várias áreas unidas sob um governo coordenado que permitia o máximo intercâmbio dos recursos naturais únicos de cada região. Tradicionalmente, isso era feito através de uma estrutura governamental federativa.
Muito relacionado a essa forma de governo era o sistema elamita de herança e distribuição de poder. O padrão normal de governo consistia de um soberano governando sobre príncipes vassalos, Nas épocas mais antigas, o soberano vivia em Susa, que funcionava como uma capital federal. Com ele governava seu irmão mais próximo em idade, o vice-rei, que normalmente tinha sua sede de governo na cidade nativa da dinastia governante. O vice-rei era o presumível herdeiro do soberano. Existia ainda um terceiro oficial, o regente ou príncipe de Susa (a região), que dividia o poder com o soberano e com o vice-rei. Ele normalmente era filho do soberano ou, se este não tivesse filhos, seu sobrinho. Com a morte do soberano, o vice-rei se tornava o senhor; o príncipe de Susa permanecia em sua posição, e o irmão seguinte em idade se tornava o novo vice-rei. Apenas se todos os irmãos estivessem mortos era que o príncipe de Susa era promovido a vice-rei, habilitando assim o soberano a nomear seu próprio filho (ou sobrinho) como o novo príncipe de Susa. Tal complicado sistema de controle governamental, balanços e herança de poder frequentemente era rompido apesar da descendência bilateral e do casamento levirato (o casamento compulsório da viúva com o irmão de seu falecido marido). O que é impressionante é que o sistema funcionava com frequência; apenas nos períodos médio e neoelamita é que os filhos mais frequentemente sucederam os pais.
A história elamita pode ser dividida em três fases principais: os períodos antigo, médio e neoelamita. Em todos os períodos o Elã esteve intimamente envolvido com Suméria, Babilônia e Assíria, às vezes através de comércio pacífico, mas mais frequentemente através de guerras. Da mesma maneira, o Elã foi muitas vezes um participante nos eventos do platô iraniano. Ambos os envolvimentos estavam relacionados às necessidades combinadas de todas as civilizações das planícies em controlar os povos guerreiros do leste e de explorar os recursos econômicos do platô.

Os reis mais antigos do período elamita antigo talvez datem de aproximadamente 2700 AEC. Já o conflito com a Mesopotâmia, neste caso aparentemente com a cidade de Ur, foi característico da história elamita. Estes primeiros governantes foram sucedidos pela dinastia Awan (Shustar). O décimo-primeiro rei dessa linhagem firmou tratados de aliança com o grande Naram-Sin de Acad (c. 2254-c. 2218 AEC). No entanto, logo surgiu uma nova casa governante, a dinastia Simash (provavelmente oriundos das montanhas do norte). O evento considerável desse período foi a virtual do Elã por Shulgi da III dinastia de Ur (c. 2094-c. 2047 AEC). Finalmente, os elamitas se rebelaram e derrubaram a III dinastia de Ur, um evento muito lembrado nos textos de lamentações e presságios mesopotâmicos. Por volta da metade do século XIX AEC, o poder no Elã passou para uma nova dinastia, de Eparti. O terceiro rei dessa dinastia, Shirukdukh, esteve ativo em várias coalisões militares contra o poder crescente de Babilônia, mas Hamurabi (c. 1792-c. 1750 AEC) prevaleceu e O Elã foi arrasado em 1764 AEC. O Primeiro Império Babilônico, no entanto, entrou em rápido declínio após a morte de Hamurabi, e não demorou muito até que os elamitas fossem capazes de se vingar. Kutir-Nahhunte I atacou Samsuiluna (c. 1749-c. 1712 AEC), filho de Hamurabi, e conseguiu impor uma derrota tão substancial aos babilônios que o evento foi lembrado mais de 1.000 anos depois numa inscrição do rei assírio Assurbanipal. Presume-se que com este golpe o Elã mais uma vez conquistou sua independência. Do fim da dinastia de Eparti, que deve ter ocorrido no final do século XVI AEC, nada se sabe, está sepultado em silêncio.

Após dois séculos dos quais as fontes nada revelam, o período médio elamita se iniciou com a ascensão ao poder da dinastia anzanita, cujas origens provavelmente estavam nas montanhas a nordeste do Kuzestão. A expansão política sob Khumbannumena (c. 1285-c. 1266 AEC), o quarto rei desta linhagem, progrediu rapidamente, e seus sucessos foram comemorados por sua assunção do título “Expansor do Império”. Ele foi sucedido por seu filho, Untash-Gal, contemporâneo de Shalmaneser I da Assíria (c. 1274-c. 1245 AEC) e fundador da cidade de Dur Untash (hoje conhecida como Tchogha Zanbil). Nos anos imediatamente seguintes a Untash-Gal, o Elã progressivamente encontrou-se em real ou potencial conflito com o poder crescente da Assíria. Tukulti-Ninurta I da Assíria (c. 1244-c. 1208 AEC) realizou campanhas militares nas montanhas do norte do Elã. Os elamitas sob Kidin-Khutan, segundo rei depois de Untash-Gal, reagiram com uma incursão devastadora e bem sucedida em Babilônia. Todavia, finalmente, o poder assírio parece ter se tornado muito grande. Tukulti-Ninurta conseguiu expandir, em um breve período, o controle assírio ao extremo sul da Mesopotâmia, e Kidin-Khutan desapareceu na obscuridade, terminando a dinastia anzanita.
Após um pequeno período de problemas dinásticos, a segunda metade do período médio elamita se iniciou com o reinado de Shutruk-Nahhunte (c. 1160 AEC). Dois reis igualmente poderosos e dois menos influentes se seguiram a esse fundador de uma nova dinastia, que provavelmente governava em Susa, e nesse período o Elã se tornou uma das grandes potências militares do Oriente Médio. Tukulti-Ninurta morreu por volta de 1208 AEC, e a Assíria entrou em um período de fraqueza interna e conflito dinástico. O elã rapidamente tirou vantagem desta situação fazendo extensivamente campanhas na região do rio Diyala penetrando no coração da Mesopotâmia. Shutruk-Nahhunte capturou Babilônia e levou para Susa como presa de guerra a estela na qual estava inscrito o famoso código legal de Hamurabi. Shilkhak-In-Shushinak, irmão e sucessor do filho mais velho de Shutruk-Nahhunte, Kutir-Nahhunte, ainda ansioso em tirar vantagem da fraqueza assíria, realizou campanhas bem mais ao norte, na região da moderna Kirkuk. Todavia, em Babilônia, a II dinastia de Isin liderou uma revolta nativa contra o controle elamita lá exercido, e o poder elamita no centro da Mesopotâmia foi finalmente rompido. O império militar elamita começou a encolher rapidamente. Nabucodonosor I de Babilônia (c. 1124-c. 1103 AEC) atacou o Elã e foi derrotado. Todavia, um segundo ataque babilônio se sucedeu, e todo o Elã foi aparentemente invadido, terminando com o período elamita médio.
É digno de atenção que durante o período elamita médio o antigo sistema de sucessão e de distribuição do poder parece ter se deteriorado. Progressivamente, o filho passou a suceder o pai, e cada vez menos se percebe a divisão de autoridade dentro de um sistema confederado. Isto provavelmente reflete um esforço para aumentar a autoridade central em Susa para a condução de campanhas militares efetivas no exterior e para manter as conquistas elamitas estrangeiras. O antigo sistema de regionalismo equilibrado com federalismo deve ter sofrido um conflito seccional e fraternal que então enfraqueceu o Elã e no período neoelamita deve ter tido suas raízes nos desenvolvimentos centrífugos dos séculos XIII e XII AEC.

Um longo período de escuridão separa o período médio do neoelamita. Em 742 AEC, um certo Huban-nugash é mencionado como rei do Elã. O país parece ter sido dividido em principados separados, com o poder central razoavelmente enfraquecido. Os cem anos seguintes testemunharam as constantes tentativas dos elamitas de interferir nos assuntos mesopotâmicos, normalmente em aliança com Babilônia, contra a constante pressão da expansão neoassíria. De vez em quando, eles tinham sucesso em sua política, tanto militar quanto diplomaticamente, mas no todo, foram forçados a desistir ante o crescente poder assírio. Problemas dinásticos elamitas locais foram de tempos em tempos agravados por interferências assírias e babilônias. Enquanto isso, o exército assírio reduziu gradualmente o poder elamita e a influência no Lurestão, ao norte. Com o tempo, essas pressões internas e externas resultaram no colapso quase total de qualquer autoridade central no Elã. Em uma série de campanhas entre 692 e 639 AEC, num esforço para organizar a bagunça política e diplomática que tinha se tornado uma dor de cabeça crônica para os assírios, os exércitos de Assurbanipal destruíram completamente Susa, encerrando assim a história da civilização elamita.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Paranthropus

Os australopitecinos robustos, membros do extinto gênero hominíneo Paranthropus (do grego para “ao lado” e anthropos “humano”), eram hominídeos bipedais que provavelmente descendiam dos australopitecinos gráceis (Australopithecus).
Todas as espécies de Paranthropus até aqui descobertas eram bipedais, e muitas viveram numa época em que espécies do gênero Homo (que possivelmente também descendiam dos Australopithecus) eram prevalentes. O Paranthropus apareceu primeiramente conforme o registro fóssil há aproximadamente 2,7 milhões de anos. A maioria das espécies de Paranthropus tinha um cérebro com cerca de 40% do tamanho daqueles dos humanos modernos. Havia certa diferenciação entre as diferentes espécies de Paranthropus, mas a maioria media aproximadamente 1,3 metros de altura e eram bastante musculosos. Acredita-se que tenham vivido em áreas arborizadas em vez das savanas habitadas pelos Australopithecus.
O comportamento do Paranthropus era bastante diferente daqueles do gênero Homo, na medida em que não eram tão adaptáveis ao seu meio ambiente ou capazes de lidar com dificuldades. Evidências disso existem na forma de sua fisiologia, que era especificamente direcionada a uma dieta de raízes e plantas. Isto o teria tornado mais dependente de condições ambientais favoráveis que os membros do gênero Homo, como o Homo habilis, que aparentemente se alimentavam de uma maior variedade de comida. Então, devido à baixa capacidade adaptativa, os Paranthropus se extinguiram sem deixar descendentes.
Em 2011, Thure E. Cerling e equipe, da Universidade de Utah, publicaram um estudo baseado no carbono do esmalte de 24 dentes de 22 indivíduos Paranthropus que viveram na África oriental entre 1,4 e 1,9 milhões de anos. Um tipo de carbono é produzido a partir de folhas de árvores, nozes e frutas, e outro de gramas e plantas gramíneas chamadas caniços. Seus resultados revelaram que o Paranthropus boisei ao contrário das teorias prévias, não comia nozes, mas se alimentava muito mais pesadamente de gramíneas que qualquer outro ancestral ou parente humano estudado até agora. Apenas uma espécie extinta de babuíno comia mais grama. Um dos coautores deste artigo é Meave Leakey, nora de Mary e Louis Leakey.

O biólogo evolucionário Richard Dawkins observa que “talvez várias diferentes espécies” de hominídeos robustos, “assim como suas afinidades e seu número exato de espécies são ardentemente controversas. Os nomes que foram ligados a várias dessas criaturas são Australopithecus (ou Paranthropus) robustus, Australopithecus (ou Paranthropus ou Zinjanthropus) boisei e Australopithecus (ou Paranthropus) aethiopicus”. Opiniões diferem quanto a se as espécies P. aethiopicus, P. boisei e P. robustus deveriam ser incluídas dentro do gênero Australopithecus. O surgimento dos robustos poderia ser uma mostra de evolução convergente ou divergente. Não há atualmente consenso na comunidade científica se as espécies de P. aethiopicus, P. boisei e P. robustus deveriam ser colocadas num gênero distinto, Paranthropus, que se acredita tenha evoluído de uma linha ancestral australopitecina. Até a metade da década passada, a maioria da comunidade científica incluía todas as espécies de Australopithecus e Paranthropus em um só gênero. Atualmente, os dois sistemas taxonômicos são usados e aceitos na comunidade científica. No entanto, embora Australopithecus robustus e Paranthropus robustus sejam intercambiáveis para os mesmos espécimes, alguns pesquisadores, como Robert Broom e Bernard A. Wood, acreditam que há uma diferença entre Australopithecus e Paranthropus, e que estes deveriam ser dois gêneros distintos.

A maior parte das espécies Australopithecus (A. afarensis, A. africanus, e A. anamensis) desapareceu do registro fóssil antes do surgimento dos primeiros humanos e aparentemente elas (ou uma delas) devem ter sido ancestrais do Homo habilis, já o P. boisei e o P. aethiopicus continuaram a evoluir ao longo de um caminho separado e desvinculado dos primeiros humanos. Os Paranthropus compartilharam a Terra com alguns dos primeiros membros do gênero Homo, como o H. habilis, o H. ergaster e possivelmente até mesmo o H. erectus. O A. afarensis e o A. anamensis tinham, na maior parte, desaparecido nessa época. Havia também diferenças morfológicas significativas entre Australopithecus e Paranthropus, embora as diferenças encontradas estivessem em vestígios cranianos. Os vestígios pós-cranianos ainda eram muito similares. Os Paranthropus tinham crânios e dentes mais robustos e tendiam a ostentar cristas sagitais cranianas semelhantes às dos atuais gorilas que ancoravam músculos temporais massivos para mastigação.

As espécies de Paranthropus tinham caixas cranianas menores que as do Homo, mas que eram maiores que as dos Australopithecus. O gênero Paranthropus é associado a ferramentas de pedra no sul e no leste da África, embora haja considerável debate se elas foram feitas e utilizadas por estes australopitecinos robustos ou por seus contemporâneos do gênero Homo. A maior parte da comunidade científica acredita que os primeiros Homo eram os fabricantes de ferramentas, mas fósseis de mãos encontrados em Swartkrans, na África do Sul, indicam que a mão do Paranthropus robustus já estava também adaptada para agarrar com precisão e para o uso de ferramentas. A maioria das espécies de Paranthropus parece quase certamente não ser capaz do uso da linguagem ou de ter controlado o fogo, embora eles estejam diretamente associados a este último em Swartkrans.

Um crânio parcial e uma mandíbula de Paranthropus robustus foram descobertos em 1938 por um estudante, Gert Terblanche, em Kromdraai (70 km a sudoeste de Pretória) na África do Sul. Ele foi descrito como um novo gênero e espécie por Robert Broom do Museu Transvaal. O sítio tem sido escavado desde 1993 por Francis Thackeray também do Museu Transvaal. Esse primeiro fóssil foi datado em pelo menos 1,95 milhões de anos.
O Paranthropus boisei foi descoberto por Mary Leakey em 17 de julho de 1959, no sítio da garganta de Olduvai na Tanzânia. Ela estava trabalhando sozinha, porque Louis Leakey estava adoentado. Em suas notas, Louis registrou um primeiro nome, Titanohomo mirabilis, refletindo a sua impressão inicial de afinidade humana próxima. Louis e Mary passaram a chamá-lo de “Dear Boy”. Ele estava em um contexto com ferramentas olduvaienses e ossos de animais. A descrição do fóssil foi publicada na Nature de 15 de agosto de 1959. Nela Louis colocou o fóssil na família australopitecina, criando um novo gênero para ele, Zinjanthropus, espécie boisei. “Zinj” é uma antiga palavra árabe para a costa leste da África e “boisei” era uma referência a Charles Boise, um benfeitor antropológico dos Leakeys. Louis tinha considerado o gênero de Broom, Paranthropus, mas o rejeitou porque acreditava que Zinj fosse ancestral do gênero Homo, mas o fóssil descoberto na África do Sul não.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Átila, o huno

Átila se tornou rei dos hunos em algum momento depois de 435 e governou até sua morte, em 453. Os hunos eram guerreiros ferozes que incutiram terror nos corações dos habitantes do Império Romano. Vivendo na Grande Planície Húngara, eles dominaram a fronteira norte do Império Romano, cobrando tributo dos imperadores do Ocidente e do Oriente, principalmente da rica Constantinopla. Os romanos consideravam os hunos bárbaros selvagens, e contos sobre a crueldade huna são abundantes na literatura romana posterior. Na época de Átila, os hunos não eram mais arqueiros montados nômades. Estabelecidos na Hungria, eles desenvolveram uma infantaria, e se diferenciavam das outras tribos bárbaras da fronteira romana pela sua habilidade em sitiar de maneira bem sucedida cidades fortificadas.
No final da década de 440, Átila estava visando o oeste, e em 451 ele atravessou o Reno e penetrou na Gália, tomando Reims, Mainz, Estrasburgo, Colônia e Trier. Paris resistiu, até que os hunos então partiram para a Gália Central e sitiaram Orleans. Nesse ponto, o general Aécio mobilizou uma força de romanos e aliados bárbaros (alanos e visigidos) e se deslocou para encontrar os hunos. Na batalha de Châlons, Aécio derrotou Átila e sob considerável crítica, permitiu que se retirasse cruzando o Reno de volta. Mas, por enquanto, o Império Romano Ocidental estava a salvo.
No ano seguinte, Átila e os hunos cruzaram os Alpes e penetraram na Itália, deixando um rastro de destruição. A grande cidade de Aquileia, às margens do Adriático, foi apagada do mapa (os habitantes que sobreviveram depois fundaram a cidade de Veneza). As principais cidades do vale do Pó ante os invasores: Milão, Verona e Pádua. Parecia que toda a Itália seria tomada.
De acordo com uma lenda, o papa Leão I encontrou Átila no norte da Itália e o impressionou com as vestes sacerdotais e com bravatas. Segundo ele, um grande milagre ocorreu: São Pedro e São Paulo apareceram para Átila e ameaçaram o líder huno com a morte se ele ignorasse os apelos do papa. Mais provavelmente, Átila decidiu desistir da Itália porque suas tropas estavam começando a sofrer com doenças e coma falta de suprimentos. Seja lá o que tenha ocorrido, Átila abandonou a invasão, e a Itália foi salva.
Átila morreu no ano seguinte, de uma hemorragia nasal, enquanto celebrava o seu casamento com uma nova e jovem esposa. O seu nome e o dos hunos se tornaram sinônimo de selvageria. Átila, “o flagelo dos deuses”, não deixou nenhum líder poderoso para substitui-lo, e os hunos rapidamente desapareceram das páginas da história.

domingo, 26 de junho de 2011

Guerras púnicas

As três guerras púnicas entre Cartago e Roma ocorreram no decorrer de quase um século, começando em 264 AEC e terminando com a destruição de Cartago em 146 AEC. Na época do início da Primeira Guerra Púnica, Roma tinha se tornado o poder dominante em toda a península Itálica, enquanto Cartago – uma poderosa cidade-estado no norte da África – estabelecera-se como principal potência marítima do mundo. A Primeira Guerra Púnica estourou em 246 AEC, quando Roma interferiu em uma disputa na Sicília, ilha controlada pelos cartagineses; a guerra terminou com Roma controlando as ilhas da Sicília e da Córsega e marcou surgimento do império como uma potência naval e terrestre. Na Segunda Guerra Púnica, o grande general cartaginês Aníbal invadiu a Itália e conseguiu importantes vitórias no lago Trasimeno e em Cannae, antes de sua derrota final por Cipião Africano em 202 AEC, passando para o domínio romano o Mediterrâneo ocidental e a maior parte da Espanha. Na Terceira Guerra Púnica, os romanos, liderados por Cipião o Jovem, capturaram e destruíram a cidade de Cartago em 146 AEC, tornando a África mais uma província do poderoso Império Romano.
Ruínas de Cartago
A tradição afirma que colonizadores fenícios da cidade mediterrânea de Tiro (no que é hoje o Líbano) fundaram a cidade-estado de Cartago no litoral norte da África, próximo a atual Túnis, capital da Tunísia, por volta de 814 AEC (púnico, termo que nomeou uma série de guerras entre Cartago e Roma, deriva da palavra latina para fenício, Punicus). Perto de 265 AEC, Cartago era a cidade mais rica e avançada da região, assim como a principal potência naval. Embora Cartago tenha confrontado violentamente várias outras potências na região, principalmente a Grécia, suas relações com Roma eram historicamente amigáveis, e as cidades tinham assinado vários tratados definindo direitos de comércio com o passar dos anos.
Em 264 AEC, Roma decidiu intervir numa disputa na costa oeste da ilha da Sicília (então uma província cartaginesa), envolvendo um ataque por soldados da cidade de Siracusa contra a cidade de Messina. Enquanto Cartago apoiou Siracusa, Roma apoiou Messina, e a disputa transformou-se em um conflito direto entre as duas potências, com o controle da Sicília em disputa. Durante o curso de quase 20 anos, Roma reconstruiu toda sua frota para confrontar a poderosa marinha cartaginesa, conseguindo sua primeira vitória naval em Mylae em 260 AEC e uma vitória mais importante na batalha do cabo Ecnomo em 256 AEC. Embora sua invasão do norte da África naquele mesmo ano tenha terminado em derrota, Roma se recusou a desistir, e em 241 AEC, a frota romana foi capaz de conquistar uma vitória decisiva contra os cartagineses no mar, quebrando sua lendária superioridade naval. No final da Primeira Guerra Púnica, a Sicília se tornou a primeira província exterior de Roma.

Nas duas décadas seguintes, Roma também conquistou o controle da Córsega e da Sardenha, mas Cartago foi capaz de estabelecer uma nova base de influência na Espanha no começo de 237 AEC, sob a liderança do poderoso general Amílcar Barca e, depois, de seu genro Asdrúbal. De acordo com Políbio e Tito Lívio em suas histórias de Roma, Amílcar Barca, que morreu em 229 AEC, fez seu jovem filho Aníbal fazer um juramento de sangue contra Roma quando era apenas uma criança. Com a morte de Asdrúbal e 221 AEC, Aníbal passou a comandar as forças cartaginesas na Espanha. Dois anos depois, ele conduziu seu exército atravessando o rio Ebro em Sagunto, uma cidade ibérica sob proteção romana, efetivamente declarando guerra a Roma. A Segunda Guerra Púnica viu as tropas de Aníbal – que incluía até 90.000 homens na infantaria, 12.000 na cavalaria e vários elefantes – saírem da Espanha, atravessarem os Alpes e entrarem na Itália, onde conseguiram uma sequência de vitórias sobre as tropas romanas nas batalhas de Ticino, Trébia e Trasimeno. A ousada invasão de Aníbal a Roma alcançou seu auge em Cannae em 216 AEC, onde sua genialidade militar ficou evidente: ele usou sua cavalaria superior para cercar um exército romano duas vezes maior que o seu em tamanho e infligiu pesadas baixas.
Contudo, após essa desastrosa derrota, os romanos conseguiram se recuperar, e os cartagineses perderam poder na Itália à medida que Roma conquistava vitórias na Espanha e no norte da África sob o comando do ascendente jovem general Públio Cornélio Cipião (depois conhecido como Cipião Africano). Em 203 AEC, as forças de Aníbal foram forçadas a abandonar a luta na Itália para defender o norte da África, e no ano seguinte, o exército de Cipião derrotou os cartagineses em Zama. As perdas de Aníbal na Segunda Guerra Púnica efetivamente estabeleceram o final do império cartaginês no Mediterrâneo ocidental, deixando Roma no controle da Espanha e permitindo a Cartago reter apenas seu território no norte da África. Cartago também foi forçada a abrir mão de sua frota e a pagar uma grande indenização a Roma em prata.

A Terceira Guerra Púnica, de longe o mais controverso dos três conflitos entre Roma e Cartago, foi o resultado dos esforços de Marco Pórcio Catão (Catão o Velho) e de outros membros linha-dura do Senado Romano para convencer seus colegas que Cartago (mesmo em seu estado debilitado) era uma ameaça contínua à supremacia romana na região (Catão terminava os seus discursos no Senado com a frase “Carthago delenda est", “Cartago deve ser destruída!”). Em 149 AEC, depois de tecnicamente Cartago quebrar seu tratado com Roma ao declarar guerra ao estado vizinho da Numídia, os romanos enviaram um exército ao norte da África, começando a Terceira Guerra Púnica.
Cartago resistiu ao cerco romano por dois anos antes de uma mudança no comando romano colocar o jovem general Cipião Emiliano (depois conhecido com Cipião o Jovem) na liderança da campanha no norte da África em 147 AEC. Após fortalecer as posições romanas em volta de Cartago, Emiliano lançou um vigoroso ataque pelo porto da cidade na primavera de 146 AEC, penetrando na cidade e arrasando casa após casa, enquanto empurrava as tropas inimigas em direção à sua cidadela. Após sete dias de um terrível derramamento de sangue, os cartagineses se renderam aos romanos, que destruíram uma cidade que tinha existido por cerca de 700 anos. Os 50.000 cidadãos sobreviventes de Cartago foram vendidos como escravos. Também em 146 AEC, as tropas romanas se deslocaram para o leste e derrotaram o rei Filipe V da Macedônia nas Guerras Macedônicas. No final daquele ano, Roma reinava suprema sobre um império que se estendia da costa atlântica da península Ibérica às fronteiras da Grécia na Ásia Menor.

sábado, 25 de junho de 2011

Cruzadas

A primeira das cruzadas teve início em 1095, quando exércitos de cristãos da Europa ocidental responderam ao apelo do papa Urbano II para irem à guerra contra as forças muçulmanas na Terra Santa. Após a Primeira Cruzada alcançar seu objetivo com a captura de Jerusalém em 1099, os invasores cristãos estabeleceram vários estados latinos cristãos, mesmo com os muçulmanos prometendo fazer guerra santa (jihad) para reconquistar o controle sobre a região. A deterioração das relações entre os cruzados e seus aliados cristãos no Império Bizantino culminou no saque de Constantinopla em 1204 durante a Terceira Cruzada. Quase no final do século XIII, a ascendente dinastia mameluca no Egito realizou o ajuste de contas final com os cruzados, fazendo cair a fortaleza costeira de Acre e expulsando os invasores europeus da Palestina e da Síria em 1291.
No final do século XI, a Europa ocidental tinha emergido como um poder significativo em si mesmo, embora ainda muito atrasada em relação a outras civilizações mediterrâneas tais como o Império Bizantino (anteriormente a parte oriental do Império Romano) e o império islâmico do Oriente Médio e norte da África. Enquanto isso, Bizâncio estava perdendo território consideravelmente para os turcos seljúcidas invasores, que derrotaram o exército bizantino na batalha de Manzikirt em 1071 e continuaram até conquistar o controle da maior parte da Anatólia. Após anos de caos e guerra civil, Aleixo Comneno tomou o trono bizantino em 1081 e consolidou o controle sobre o que restava do império.
Em 1095, Aleixo I enviou mensageiros ao papa Urbano II solicitando tropas mercenárias do Ocidente para ajudar a enfrentar a ameaça turca. Apesar das relações entre cristãos ocidentais e orientais não serem boas, o pedido de Aleixo chegou numa época em que a situação estava melhorando. Em novembro de 1095, no Concílio de Clermont no sul da França, o papa exortou os cristãos ocidentais a levantar exércitos para ajudar os bizantinos e recapturar a Terra Santa do controle muçulmano. O apelo do papa Urbano foi respondido extraordinariamente, tanto entre os níveis mais baixos da elite militar (que formariam uma nova classe de cavaleiros) como entre os cidadãos comuns; foi determinado que aqueles que se juntassem à peregrinação armada usariam uma cruz como símbolo da Igreja.
Quatro exércitos de cruzados foram formados por tropas de diferentes regiões da Europa ocidental, liderados por Raimundo de Saint-Gilles, Godofredo de Bouillon, Hugo de Vermandois e Boemundo de Taranto (com seu sobrinho Tancredo); eles estavam prontos para partir com destino a Bizâncio em agosto de 1096. Um bando menos organizado de cavaleiros e plebeus conhecido como “Cruzada Popular” partiu antes dos outros, sob o comando de um pregador popular conhecido como Pedro o Eremita. O exército de Pedro perambulou pelo Império Bizantino, deixando um rastro de destruição por onde passava. Resistindo ao aviso de Aleixo para esperar pelo resto dos cruzados, eles atravessaram o Bósforo no começo de agosto. No primeiro confronto importante entre cruzados e muçulmanos, as forças turcas esmagaram os invasores europeus em Cibotus. Outro grupo de cruzados, liderado pelo notório conde Emich, realizou uma série de massacres de judeus em várias cidades da Renânia em 1096, atraindo indignação generalizada e causando uma importante crise nas relações entre cristãos e judeus.
Quando os quatro exércitos principais de cruzados chegaram a Constantinopla, Aleixo insistiu que seus líderes fizessem um juramento de lealdade a ele e reconhecessem sua autoridade sobre qualquer terra recuperada dos turcos, assim como sobre qualquer território que eles pudessem conquistar; todos, menos Boemundo, opuseram-se a fazer o juramento. Em maio de 1097, os cruzados e seus aliados bizantinos atacaram Niceia (atual İznik, Turquia), a capital seljúcida na Anatólia; a cidade se rendeu no final de junho. Apesar das relações deteriorantes entre os cruzados e os líderes bizantinos, a força combinada continuou sua marcha através da Anatólia, capturando a grande cidade síria de Antióquia em junho de 1098. Após várias disputas internas pelo controle de Antióquia, os cruzados começaram sua marcha em direção a Jerusalém, então ocupada pelos fatímidas egípcios (que como muçulmanos xiitas eram inimigos dos seljúcidas sunitas). Acampando diante de Jerusalém em junho de 1099, os cristãos forçaram o governador da cidade sitiada a se render na metade de julho. Apesar da promessa de Tancredo de proteção, os cruzados massacraram centenas de homens, mulheres e crianças em sua vitoriosa entrada na cidade.
Tendo alcançado seu objetivo em um inesperado curto espaço de tempo, muitos cruzados partiram para casa. Para governar o território conquistado, aqueles que ficaram estabeleceram quatro grandes estados cruzados: em Jerusalém, Edessa, Antióquia e Trípoli. Protegidos por castelos formidáveis, os estados cruzados mantiveram a supremacia na região até cerca de 1130, quando forças muçulmanas começaram a ganhar terreno em sua própria guerra santa (jihad) contra os cristãos, a quem eles chamavam de “francos”. Em 1144, o general seljúcida Zangi, governador de Mosul, capturou Edessa, levando à perda do estado cruzado mais setentrional.
A notícia da queda de Edessa abalou a Europa, e levou as autoridades cristãs no Ocidente a requererem uma nova cruzada. Liderada por dois grandes soberanos, o rei Luís VII da França e o sacro imperador romano-germânico Conrado III, a Segunda Cruzada teve início em 1147. Em outubro desse ano, os turcos esmagaram as forças de Conrado em Dorylaeum, lugar de uma grande vitória cristã durante a Primeira Cruzada. Após Luís e Conrado conseguirem suas tropas em Jerusalém, eles decidiram atacar a fortaleza síria de Damasco com um exército de cerca de 50.000 homens (a maior força cruzada até então). Anteriormente de boa disposição para com os francos, o governador de Damasco foi forçado a apelar por ajuda a Nur al-Din, sucessor de Zangi em Mosul. As forças combinadas muçulmanas impuseram uma humilhante derrota aos cruzados, terminando decisivamente a Segunda Cruzada; Nur al-Din acrescentaria Damasco ao seu crescente império em 1154.
Após várias tentativas dos cruzados de Jerusalém para capturar o Egito, as forças de Nur al-Din (lideradas pelo general Shirkuh e por seu sobrinho. Saladino), tomaram o Cairo em 1169 e forçaram o exército cruzado a se retirar. Com a morte subsequente de Shirkuh, Saladino assumiu o controle e começou uma campanha de conquistas que se acelerou após a morte de Nur al-Din em 1174. Em 1187, Saladino deu início a uma importante campanha contra o reino cruzado de Jerusalém. Suas tropas na prática destruíram o exército cristão na batalha de Hattin, tomando a cidade e grande parte do seu território.
A indignação por estas derrotas inspirou a Terceira Cruzada, liderada pelo envelhecido sacro-imperador Frederico Barbarossa (que morreu afogado na Anatólia antes que seu exército alcançasse a Síria), pelo rei Filipe II da França e pelo rei Ricardo Coração de Leão da Inglaterra. Em setembro de 1191, as forças de Ricardo derrotaram as de Saladino na batalha de Arsuf; esta seria a única batalha verdadeira da Terceira Cruzada. Com a retomada da cidade de Jaffa, Ricardo estabeleceu o controle cristão sobre parte da região e se aproximou de Jerusalém, embora ele tenha se recusado a sitiar a cidade. Em setembro de 1192, Ricardo e Saladino assinaram um tratado de paz que restabeleceu o reino de Jerusalém (embora sem a cidade de Jerusalém), pondo fim à Terceira Cruzada.
Acredita-se que o poderoso papa Inocêncio III convocou uma nova cruzada em 1198. Disputas de poder entre a Europa e Bizâncio compeliram os cruzados a se desviarem de sua missão para derrubar o imperador bizantino reinante, Aleixo III, em favor de seu sobrinho, que se tornou Aleixo IV na metade de 1203. As tentativas do novo imperador de submeter a igreja bizantina a Roma encontraram dura resistência, e Aleixo IV foi estrangulado depois de um golpe de estado no começo de 1204. Em resposta, os cruzados declararam guerra a Constantinopla, e a Quarta Cruzada terminou com a conquista e saque da magnífica capital bizantina no final daquele ano.
O que restava do século XIII viu uma variedade de cruzadas que não visava apenas a derrubada das forças muçulmanas na Terra Santa, mas também combater a todo e qualquer que fosse visto como inimigo da fé cristã. A Cruzada Albigense (1208-09) teve como objetivo exterminar a seita herética cátara ou albigense do cristianismo na França, enquanto as Cruzadas Bálticas (1211-25) procuravam subjugar pagãos no norte da Europa, próximo às costas sul e leste do mar Báltico. Na Quinta Cruzada, posta em movimento pelo papa Inocêncio III antes de sua morte em 1216, os cruzados atacaram o Egito por terra e mar, mas foram forçados a se render aos defensores muçulmanos liderados pelo sobrinho de Saladino, Al-Malik al-Kamil, em 1221. Em 1229, no que se tornou conhecido com Sexta Cruzada, o imperador Frederico II conseguiu a transferência pacífica de Jerusalém para o controle cruzado através de negociação com al-Kamil. O tratado de paz expirou uma década depois, e os muçulmanos facilmente reconquistaram o controle de Jerusalém.
No final do século XIII, grupos de cruzados procuraram ganhar terreno na Terra Santa através de incursões efêmeras que mostraram ser pouco mais que um aborrecimento para os governantes muçulmanos da região. A Sétima Cruzada (1239-41), liderada por Teobaldo IV de Champagne, recapturou brevemente Jerusalém, perdendo-a novamente em 1244 para forças corasmianas alistadas pelo sultão do Egito. Em 1249, o rei Luís IX da França liderou a Oitava Cruzada contra o Egito, que terminou com a derrota em Mansura no ano seguinte (o mesmo lugar da derrota da Quinta Cruzada). À medida que os cruzados se esforçavam, uma nova dinastia conhecida como mamelucos – descendentes de antigos escravos do sultão – tomou o poder no Egito. Em 1260, forças mamelucas na Palestina conseguiram deter o avanço dos mongóis, uma força invasora liderada por Gêngis Khan e por seus descendentes que tinha emergido como um potencial aliado dos cristãos na região. Sob o cruel sultão Baybars, os mamelucos destruíram Antióquia em 1268, estimulando Luís IX a iniciar outra cruzada, que terminou com sua morte no norte da África. Ele foi depois canonizado.
Um novo sultão mameluco, Qalawan, derrotou os mongóis no final de 1281 e voltou sua atenção para os cruzados, capturando Trípoli em 1289. No que foi considerado a última cruzada, uma frota de navios de guerra de Veneza e Aragão chegou para defender o que restava dos estados cruzados em 1290. No ano seguinte, o filho e sucessor de Qalawan, al-Ashraf Khalil, marchou com um exército gigantesco contra porto litorâneo de Acre, a capital efetiva dos cruzados na região desde o fim da Terceira Cruzada. Após apenas sete semanas sob cerco, Acre caiu, terminando efetivamente as cruzadas na Terra Santa após quase dois séculos. Embora a Igreja tenha organizado cruzadas menores com objetivos limitados depois de 1291 (principalmente campanhas militares visando expulsar muçulmanos de territórios conquistados ou conquistar regiões pagãs), o apoio a tais esforços desapareceu no século XVI, com o surgimento da Reforma e o correspondente declínio da autoridade papal.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Tradições do solstício de verão

Para muitas das antigas civilizações o solstício de verão – o dia mais longo do ano – era visto com grande importância. As pessoas celebravam este dia especial, que cai em junho no hemisfério norte, com festivais, comemorações e outras práticas, algumas das quais ainda sobrevivem ou experimentam uma retomada nos tempos modernos.
Egípcios antigos – o solstício de verão era particularmente importante para os antigos egípcios porque coincidia com o começo da estação da cheia do Nilo. Acreditava-se que nesta época a deusa Isis derramava lágrimas de luto pela morte de seu marido Osíris, causando a elevação do rio e a fertilização do vale do Nilo. Festivais eram realizados em honra a ambas as divindades e celebrava fertilidade e abundância.

Gregos antigos – de acordo com certas variações do calendário grego – eles diferiam amplamente por região e época – o solstício de verão era o primeiro dia do ano. Vários festivais eram organizados por volta dessa época, incluindo o Cronia, que celebrava o deus da agricultura Cronos. O rigoroso código social era temporariamente suspenso durante o Cronia, com os escravos participando das festividades em igualdade ou até mesmo sendo servidos por seus senhores. O solstício de verão também marcava o início da contagem regressiva de um mês para o início dos jogos olímpicos.

Romanos antigos – nos dias que precediam o solstício de verão, os antigos romanos celebravam o festival de Vestália, que pagava tributo a Vesta, a deusa da família. Os rituais incluíam o sacrifício de um bezerro não nascido removido do útero de sua mãe. Esta era a única época do ano em que era permitido às mulheres casadas entrar no templo sagrado das virgens vestais e lá fazer suas oferendas.

Chineses antigos – Os antigos chineses participavam de uma cerimônia no solstício de verão em homenagem à terra, à feminilidade e à força conhecida como yin. Ela complementava o ritual de solstício de inverno, que era devotado ao paraíso, à masculinidade e ao yang.

Antigas tribos da Europa central e do norte – Muitos germânicos, eslavos e celtas pagãos saudavam o verão com fogueiras, uma tradição que ainda é apreciada na Alemanha, Áustria, Estônia e outros países. Algumas tribos antigas praticavam um ritual no qual casais pulavam as chamas para adivinhar o quanto as safras daquele ano iriam crescer.

Vikings – o início do verão era uma época crítica do ano para os navegantes nórdicos, que se encontravam para discutir assuntos legais e resolver disputas nos dias em torno do solstício de verão. Eles também visitavam poços que acreditavam ter poderes de cura e construíam grandes fogueiras. Hoje, as celebrações “vikings” do solstício de verão são populares entre residentes e turistas da Islândia.

Nativos americanos – muitas tribos nativas americanas participavam há vários séculos dos rituais do solstício de verão, alguns dos quais ainda praticados hoje em dia. Os sioux, por exemplo, executavam uma dança do sol cerimonial em volta de uma árvore vestindo cores simbólicas. Alguns estudiosos acreditam que a roda medicinal de Big Horn em Wyoming, um arranjo de pedras construído há várias centenas de anos pelos índios das planícies, alinha-se com o nascer e o por do sol do solstício, e era então o lugar da dança do sol anual daquela cultura.

Maias e astecas – enquanto não se sabe muito de como exatamente as poderosas civilizações pré-colombianas da América Central celebravam o solstício de verão, as ruínas de suas outrora grandes cidades indicam a grande importância desse dia. Templos, edifícios públicos e outras estruturas estavam amiúde precisamente alinhados com as sombras lançadas pelos principais fenômenos astrológicos, particularmente os solstícios de verão e inverno.

Druidas – os grandes sacerdotes celtas conhecidos como druidas provavelmente conduziam celebrações rituais durante o solstício de verão, mas – ao contrário da crença popular – é improvável que estas acontecessem em Stonehenge, o mais famoso círculo de pedra megalítico da Inglaterra. Apesar disso, pessoas que se identificam como druidas modernos continuam a se reunir no monumento para os solstícios de verão e de inverno e para os equinócios de primavera e outono.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Antigo Egito

Por quase 30 séculos – a partir de sua unificação por volta de 3100 AEC, à sua conquista por Alexandre o Grande em 332 AEC – o antigo Egito foi a principal civilização no mundo mediterrâneo. De suas grandes pirâmides do Antigo Império, passando pelas conquistas militares do Novo Reinado, a majestade do Egito tem há muito hipnotizado arqueólogos e historiadores e criou um vibrante campo de todo o seu estudo: a Egiptologia. As principais fontes de informação sobre o antigo Egito são seus muitos monumentos, objetos e artefatos que foram recuperados em seus sítios arqueológicos, cobertos com hieróglifos que foram decifrados no século XIX. O quadro que surge é o de uma cultura com poucos equivalentes na beleza de sua arte, nas suas realizações arquitetônicas e na riqueza de suas tradições religiosas.
Poucos registros escritos ou artefatos foram encontrados do período pré-dinástico (c. 5000-3100 AEC), que abrange pelo menos 2.000 anos do desenvolvimento gradual da civilização egípcia.
As comunidades neolíticas do nordeste da África trocaram gradualmente a caça pela agricultura e fizeram os primeiros avanços que pavimentariam o caminho para o desenvolvimento posterior egípcio das artes, tecnologia, política e religião (que incluía uma grande reverência aos mortos e possivelmente uma crença na vida após a morte).
Por volta de 3400 AEC, acredita-se que dois reinos separados foram estabelecidos: o do norte, baseado no delta do Nilo indo talvez até Atfih ao sul; e o do sul, que se estendia de Atfih ao longo do Nilo até Gebel es-Silsila. Um rei do sul, conhecido como Escorpião, fez as primeiras tentativas para conquistar o norte por volta de 3200 AEC. Um século depois, segundo o historiador Maneton (século III AEC), o rei Menés subjugaria o norte e unificaria o país, tornando-se o primeiro rei da primeira dinastia. No entanto, o mais antigo rei conhecido da primeira dinastia é Hor-Aha, e o primeiro rei a reivindicar ter unido as duas terras foi Narmer (o último rei do período pré-dinástico).

No período tinita (c. 3100-2686 AEC) a capital foi estabelecida no norte, em Mênfis, próximo ao delta. A capital se tornaria uma grande metrópole que dominaria a sociedade egípcia durante o período do Antigo Império. Neste período desenvolveram-se as bases da sociedade egípcia, incluindo a ideologia de grande significância de realeza. Para os antigos egípcios, o rei era um ser divino, intimamente identificado com o todo-poderoso deus Hórus. A escrita hieroglífica mais antiga também data deste período. Como em todos os outros períodos, a maioria dos antigos egípcios eram fazendeiros vivendo em pequenas vilas, e a agricultura (amplamente trigo e cevada) formava a base econômica do estado egípcio. As cheias anuais do rio Nilo forneciam a irrigação e a fertilização necessárias; os fazendeiros semeavam o trigo após a cheia recuar e colhiam-no antes que a estação seca e de altas temperaturas retornasse.

O Antigo Império (c. 2686-2181 AEC) começou coma III dinastia de faraós. Por volta de 2630 AEC, o rei Djoser pediu a Imhotep, um arquiteto, sacerdote e curandeiro, para projetar um monumento funerário para ele; o resultado foi a pirâmide de degraus de Saqqara, próximo a Mênfis. A edificação de pirâmides alcançou o seu auge com a construção da grande pirâmide de Gizé. Construída por Khufu (Quéops), que governou de 2589 a 2566 AEC, foi escolhida pelos historiadores clássicos como uma das sete maravilhas do mundo antigo. Duas outras pirâmides foram construídas em Gizé pelos sucessores de Khufu, Khafra (Quefrén, 2558-2532 AEC) e Menkaure (Miquerinos, 2532-2503 AEC).
Durante as III e IV dinastias, o Egito desfrutou de uma era de paz e prosperidade. Os faraós detinham poder absoluto com um governo central estável; o reino não enfrentou ameaças significativas do exterior e campanhas militares bem sucedidas adicionaram territórios como Núbia e Líbia à sua considerável prosperidade econômica. Durante as V e VI dinastias, a riqueza real foi gradualmente depredada, parcialmente devido às imensas despesas com a construção de pirâmides, e o seu poder absoluto vacilou frente à crescente influência da nobreza e do sacerdócio que crescia em torno do deus solar Rá. Após a morte do rei da VI dinastia Pepi II, que governou por cerca de 94 anos, o período do Antigo Império terminou em caos.

No primeiro período intermediário (c. 2181-2055 AEC), imediatamente após o colapso do Antigo Império, as VII e VIII dinastias consistiram de uma rápida sucessão de governantes baseados em Mênfis até cerca de 2160 AEC, quando a autoridade central se dissolveu completamente, levando à guerra civil entre os governadores provinciais. Essa situação caótica foi intensificada por invasões beduínas e acompanhada por fome e doenças.
Desta era de conflito surgiram dois diferentes reinos: uma linhagem de 17 governantes (IX e X dinastias) baseada em Heracleópolis governou o Médio Egito, entre Mênfis e Tebas, enquanto outra família de governantes existia em Tebas desafiando o poder heracleopolitano. Por volta de 2055 AEC, o príncipe tebano Mentuhotep conseguiu derrubar Heracleópolis e reunificou o Egito, dando início à XI dinastia, encerrando o primeiro período intermediário.

Após Mentuhotep IV, o último governante da XI dinastia ser assassinado, o trono passou para seu vizir, ou ministro chefe, que se tornou o faraó Amenemhet I, fundador da XII dinastia. Uma nova capital foi estabelecida em It-towy, ao sul de Mênfis, enquanto Tebas permaneceu como um grande centro religioso. Durante o Médio Império (c. 2055-1786 AEC), o Egito mais uma vez prosperou. Os reis da XII dinastia asseguraram a sucessão estável de sua linhagem tornando cada sucessor corregente, um costume que começou com Amenemhet I.
O Egito do Médio Império seguiu uma agressiva política externa, colonizando a Núbia (com seus ricos suprimentos de ouro, ébano, marfim e outros recursos) e repelindo os beduínos que tinham se infiltrado durante o primeiro período intermediário. O reino também estabeleceu relações diplomáticas e comerciais com Síria, Palestina e outras regiões, tomou para si projetos de construção que incluíam fortalezas militares e pedreiras e retomou a construção de pirâmides na tradição do Antigo Império. O Médio Império alcançou seu auge sob Amenemhet III (1842-1797 AEC); seu declínio começou sob Amenemhet IV (1798-1790 AEC) e continuou sob sua irmã e regente, a rainha Sobekneferu (1789-1786 AEC), a primeira mulher, pelo que se sabe até aqui, a governar o Egito, que foi a última soberana da XII dinastia.

A XIII dinastia marcou o início de outro período confuso na história egípcia, durante o qual uma rápida sucessão de reis fracassou em consolidar o poder. Como consequência, durante o segundo período intermediário (c. 1786-1567 AEC) o Egito foi dividido em várias esferas de influência. A corte real oficial e a sede do governo foram relocados para Tebas, enquanto uma dinastia rival (XIV dinastia), com sua capital na cidade de Xois no delta do Nilo, parece ter existido simultaneamente à XIII.
Por volta de 1650 AEC, uma linhagem de governantes estrangeiros conhecida com hicsos se aproveitou da instabilidade para tomar o poder. Os governantes hicsos da XV dinastia adotaram e deram continuidade a muitas das tradições egípcias existentes no governo, assim como na cultura. Eles governaram no mesmo período da linhagem nativa de governantes tebanos da XVII dinastia, que reteve o controle sobre a maior parte do sul do Egito, apesar de ter que pagar tributos aos hicsos (a XVI dinastia é alternadamente considerada como sendo de governantes tebanos ou hicsos). Com o tempo, foram ocorrendo conflitos entre os dois grupos, e os tebanos entraram em guerra contra os hicsos por volta de 1570 AEC, expulsando-os do Egito.

Sob Ahmés I, o primeiro rei da XVIII dinastia, o Egito mais uma vez foi reunificado. Durante a XVIII dinastia, a primeira do período conhecido com Novo Império (c. 1567-1085 AEC), o Egito restaurou seu controle sobre a Núbia e iniciou campanhas militares na Palestina, confrontando-se com outras potências na região, como o reino hurrita de Mitanni e os hititas. O país estabeleceu o primeiro grande império mundial, estendendo-se da Núbia ao rio Eufrates na Ásia. Além de reis poderosos como Amenófis I (1546-1526 AEC), Tutmósis I (1525-1512 AEC) e Amenófis III (1417-1379 AEC), O Novo Império foi notável pelo desempenho de mulheres reais como a rainha Hatshepsut (1503-1482 AEC), que começou governando como regente de seu jovem enteado (que depois se tornou Tutmósis III, o maior conquistador militar do antigo Egito), mas que se ergueu para exercer todos os poderes de um faraó.
O controverso Amenófis IV (c. 1379-1362), do final da XVIII dinastia, responsabilizou-se por uma revolução religiosa, dissolvendo o sacerdócio dedicado a Amon-Rá (uma combinação do deus tebano Amon e da divindade solar Rá) e forçando a adoração exclusiva de outro deus-sol, Aton. Trocando seu nome para Akhenaton (“servo de Aton”), ele construiu uma nova capital no Médio Egito chamada Akhetaton, depois conhecida como Amarna. Foi para Aton que ele compôs um poético hino que aparece entre os escritos mais belos da literatura egípcia: o “Hino a Aton”. Com a morte de Akhenaton, a capital retornou para Tebas e os egípcios voltaram a adorar vários deuses. As XIX e XX dinastias, conhecidas como período raméssida (pela sucessão de reis chamados Ramsés), viram a restauração do enfraquecido império egípcio e uma impressionante quantidade de construções, inclusive de grandes templos e cidades. De acordo com a cronologia bíblica, o êxodo de Moisés e dos israelitas do Egito possivelmente ocorreu durante o reinado de Ramsés II (1304-1237 AEC).
Todos os governantes do Novo Império (à exceção de Akhenaton) foram sepultados em profundas tumbas escavadas na rocha (não em pirâmides) no Vale dos Reis, na margem ocidental do Nilo em frente a Tebas. A maioria delas foi saqueada ou destruída, com a exceção da tumba e do tesouro de Tutancâmon (c. 1361-1352 AEC), descoberta praticamente intacta em 1922 por Howard Carter. O esplêndido templo mortuário do último grande rei da XX dinastia, Ramsés III (c. 1187-1156 AEC), também estava relativamente preservado, e ressaltou a prosperidade que o Egito ainda desfrutava durante o seu reinado. Os reis que seguiram Ramsés III tiveram menos sucesso: o Egito perdeu definitivamente suas províncias na Palestina e na Síria e sofreu invasões estrangeiras, notavelmente de líbios e dos “povos do mar”, enquanto sua riqueza foi sendo gradual e inevitavelmente depredada.

Os 400 anos seguintes – conhecidos como terceiro período intermediário (c. 1085-664 AEC) – acompanharam importantes mudanças políticas, sociais e culturais egípcias. O governo centralizado sob os faraós da XXI dinastia deu lugar ao ressurgimento de autoridades locais, até que os estrangeiros da Líbia e da Núbia tomaram o poder à força para si, deixando uma marca duradoura na população egípcia. A XXII dinastia iniciou-se por volta de 945 AEC, com o rei Sheshonk, um descendente dos líbios que invadiram o Egito durante o final da XX dinastia e lá se estabeleceram. Muitos governantes locais foram virtualmente autônomos durante este período e as XXIII e XXIV dinastias são pobremente documentadas.
No século VIII AEC, os faraós núbios chegaram ao poder com Shabaka, governante do reino núbio de Kush, que estabeleceu sua própria dinastia – a XXV – em Tebas. Sob o governo cuchita, o Egito confrontou o crescente império assírio. Em 671 AEC, o governante assírio Esarhaddon expulsou o faraó cuchita Taharka de Mênfis e destruiu a cidade; ele então nomeou seus próprios governantes escolhidos entre governadores e autoridades locais leais aos assírios. Um deles, Necao de Sais, governou brevemente como o primeiro rei da XXVI dinastia (saíta) antes de ser morto pelo líder cuchita Tantamon, numa tomada de poder final malsucedida.

Iniciando-se com o filho de Necao, Psamético, a dinastia saíta governou um Egito reunificado por menos de dois séculos. Em 525 AEC, Cambises, rei da Pérsia, derrotou Psamético III, o último rei saíta, na batalha de Pelúsio, e o Egito se tornou uma satrápia do Império Persa. Os soberanos persas, como Dario (522-485 AEC), governaram o país predominantemente sob os mesmos termos dos reis egípcios: Dario apoiou os cultos religiosos e se responsabilizou pela construção e restauração de seus templos. O governo tirânico de Xerxes (486-465 AEC) desencadeou revoltas no seu e nos reinados de seus sucessores. Uma dessas rebeliões triunfou em 404 AEC, iniciando um último período de independência sob governantes nativos (XXVIII, XXIX e XXX dinastias).
Na metade do século IV AEC, os persas novamente atacaram o Egito, restaurando seu domínio sob Artaxerxes III em 343 AEC. Apenas uma década depois, em 332 AEC, Alexandre o Grande da Macedônia derrotou os exércitos do Império Persa e conquistou o Egito. Após a morte de Alexandre, o Egito foi governado por uma linhagem de governantes macedônios, dinastia que se iniciou com um dos generais de Alexandre, Ptolomeu, e continuou com seus descendentes. O último governante ptolomaico do Egito – a lendária Cleópatra VII – entregou o Egito aos exércitos de Otaviano em 31 AEC. Seguiram-se seis séculos de domínio romano, durante os quais o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma e de suas províncias (inclusive do Egito). A conquista do Egito pelos árabes no século VII e a introdução do islamismo acabaria com os últimos aspectos visíveis da cultura do antigo Egito e empurraria o país na direção de sua forma moderna.


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ascensão e queda da civilização maia

A civilização maia, centralizada nas planícies do que hoje é a Guatemala, alcançou o auge do seu poder e influência por volta do século VI da nossa era. Os maias se sobressaíram na agricultura, na cerâmica, escrita hieroglífica, confecção de calendários e na matemática, e deixaram para trás uma quantidade surpreendente de arquitetura monumental e trabalhos de arte simbólica. No entanto, A maioria das grandes cidades de pedra dos maias foi abandonada por volta de 900 EC, e desde o século XIX os pesquisadores tentam desvendar o que deve ter causado este dramático declínio.
Tikal
A civilização maia foi uma das mais importantes sociedades nativas da Mesoamérica (termo usado para descrever o México e a América Central antes da conquista espanhola no século XVI). Diferentes de outras populações indígenas dispersas da Mesoamérica, os maias estavam centralizados em um bloco geográfico cobrindo toda a península de Yucatán e a atual Guatemala; Belize e parte dos estados mexicanos de Tabasco e Chiapas; e a parte ocidental de Honduras e El Salvador. Esta concentração mostrava que os maias permaneceram relativamente protegidos de invasões por outros povos mesoamericanos.
Dentro desse espaço, os maias viviam em três subáreas separadas, com meio-ambientes distintos e diferenças culturais: as terras baixas maias do norte, na península de Yucatán; as terras baixas maias do sul, no departamento guatemalteco de El Petén e porções adjacentes do México, Belize e oeste de Honduras; e as terras altas maias do sul, na região montanhosa do sul da Guatemala. Mais famosa, a região das terras baixas do sul alcançou seu auge durante o período clássico da civilização maia (250 a 900 EC), e construiu as grandes cidades de pedra e monumentos que têm fascinado exploradores e pesquisadores da região.
As povoações maias mais antigas datam de cerca de 1800 AEC, ou do começo do que é chamado de período pré-clássico ou período formativo. Os primeiros maias eram agricultores, cultivando safras de milho, feijão, abóbora e mandioca. Durante o período pré-clássico médio, que durou até cerca de 300 AEC, os fazendeiros maias começaram a expandir sua presença para os vales e montanhas. Esse período também viu o surgimento da primeira civilização importante mesoamericana, os olmecas. Como outros povos mesoamericanos, tais como zapotecas, totonacas, mixtecas e astecas, os maias derivaram várias características religiosas e culturais – assim como seu sistema numérico e seu famoso calendário – dos olmecas.
Além da agricultura, os maias pré-clássicos também demonstraram traços culturais mais avançados como a construção de pirâmides, de cidades e inscrição em monumentos de pedra.
A cidade do final do período pré-clássico de Mirador, no norte de El Petén, foi uma das maiores cidades construídas de todo o período pré-colombiano nas Américas. Seu tamanho deixava pequena a capital clássica maia de Tikal, e sua existência prova que os maias prosperaram séculos antes do período clássico.
O período clássico, que começou por volta de 250 EC, foi o período de maior prosperidade do império maia. A civilização maia cresceu para cerca de 40 cidades, incluindo Tikal, Uaxactún, Copán, Bonampak, Dos Pilas, Calakmul, Palenque e Río Bec; cada cidade mantinha uma população entre 5.000 e 50.000 pessoas. Em seu auge, a população maia deve ter alcançado 2 milhões de pessoas.
As escavações em sítios maias têm revelado praças, palácios, templos e pirâmides, assim como pátios para jogos com bola, que eram ritual e politicamente significativos para a cultura maia. As cidades maias eram rodeadas e sustentadas por uma grande população de agricultores. Embora os maias praticassem um tipo primitivo de agricultura de “derrubada e queimada”, eles também mostraram evidências de métodos de cultivo mais avançados, tais como irrigação e plantio em terraços.
Os maias eram profundamente religiosos, e cultuavam vários deuses relacionados à natureza, incluindo os deuses do sol, da lua, da chuva e do milho. No topo da sociedade maia estavam os reis, ou “kuhul ajaw”, que alegavam ser parentes dos deuses e que seguiam uma sucessão hereditária. Acredita-se que eles serviam como mediadores entre os deuses e o povo, e realizavam as elaboradas cerimônias religiosas e rituais tão importantes para a cultura maia.
Os maias clássicos construíram muitos dos seus templos e palácios na forma de pirâmides de degraus, decorando-os com relevos e inscrições. Estas estruturas auferiram aos maias sua reputação como os grandes artistas da Mesoamérica. Guiados por seus rituais religiosos, os maias também realizaram avanços significativos em matemática e astronomia, incluindo o uso do zero e o desenvolvimento de um complexo sistema de calendário baseado em 365 dias. Embora os primeiros pesquisadores tenham concluído que os maias eram uma sociedade pacífica de sacerdotes e escribas, evidências posteriores – incluindo um exame meticuloso dos trabalhos artísticos e inscrições das paredes dos seus templos – mostraram o lado menos pacífico da cultura maia, incluindo a guerra entre as cidades-estado rivais e a importância da tortura e do sacrifício humano para seus rituais religiosos.
A exploração séria dos sítios maias clássicos teve início na década de 1830. Na primeira metade do século XX, uma pequena parte de seu sistema de escrita hieroglífica foi decifrado, e mais de sua história e cultura se tornou conhecido. A maior parte do que os historiadores sabem sobre os maias vem do que restou de sua arquitetura e arte, incluindo entalhes e inscrições em pedra de seus edifícios e monumentos. Os maias também faziam papel de casca de árvore e escreviam em livros feitos desse papel, conhecidos como códices; quatro desses códices são conhecidos por terem sobrevivido (Códice de Dresden - Sächsische Landesbibliothek, a biblioteca estadual de Dresden, Alemanha; Códice de Madrid - Museu da América, Madrid, Espanha; Códice de Paris - Bibliothèque Nationale (Biblioteca Nacional), Paris, França; Códice Groiler - Cidade do México, México).
Uma das coisas mais intrigantes sobre os maias foi sua habilidade para construir uma grande civilização em uma floresta de clima tropical. Tradicionalmente, os povos antigos floresceram em climas secos, onde a administração centralizada das fontes de água (através de irrigação e outras técnicas) formava a base da sociedade (este foi o caso de Teotihuacán no planalto do México, contemporânea dos maias clássicos). Nos vales maias do sul, no entanto, havia poucos rios navegáveis para comércio e transporte, assim como nenhuma necessidade óbvia por sistemas de irrigação.
No final do século XX, os pesquisadores concluíram que o clima das planícies era totalmente diverso quanto ao meio ambiente. Apesar de os invasores ficarem desapontados com a relativa falta de prata e ouro na região, os maias se aproveitaram dos muitos recursos naturais, incluindo calcário (para construção), a rocha vulcânica obsidiana (para ferramentas e armas) e sal. O meio ambiente também tinha outros tesouros para os maias, como jade, penas de quetzal (usadas para decorar as elaboradas vestimentas da nobreza maia) e conchas marinhas, que eram usadas como trombetas em cerimônias e na guerra.
Do final do século VIII ao final do século IX, algo desconhecido aconteceu que abalou a civilização maia em suas fundações. Uma a uma, as cidades clássicas dos vales do sul foram abandonadas e, perto de 900, a civilização maia nessa região entrou em colapso. A razão para este misterioso declínio é desconhecida, embora os acadêmicos tenham desenvolvido várias teorias conflitantes.
Alguns acreditam que no século IX os maias exauriram o meio ambiente a sua volta ao ponto de que ele não poderia mais sustentar uma população muito grande. Outros estudiosos dos maias argumentam que o estado de guerra constante entre cidades-estado concorrentes levou a complicadas alianças militares, familiares (por casamento) e comerciais que as fez sucumbir, junto com o sistema tradicional de poder dinástico. À medida que o prestígio dos senhores sagrados diminuía, sua complexa tradição de cerimônias e rituais se dissolveu no caos. Finalmente, alguma mudança ambiental catastrófica – como um período intenso, extremamente longo, de seca – deve ter destruído a civilização maia. A seca deve ter atingido cidades como Tikal – onde a água da chuva era necessária para beber, assim como para irrigação agrícola – severamente.
Todos esses três fatores – população elevada e uso exagerado dos recursos naturais, estado de guerra endêmico e seca – devem ter sido responsáveis por uma parte da queda dos maias nas planícies do sul. Nas terras altas de Yucatán, algumas cidades maias – como Chichén Itzá, Uxmal e Mayapán – continuaram a prosperar no período pós-clássico (900-1500). Todavia, na época que os invasores espanhóis chegaram a maior parte dos maias vivia em vilas agrícolas, e suas grandes cidades estavam sepultadas sob a verdejante floresta tropical.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Colônia de Jamestown

Em 14 de maio de 1607, um grupo de aproximadamente 100 membros de um empreendimento chamado Companhia da Virgínia fundou a primeira povoação inglesa na América do Norte, às margens do rio James. Fome, doenças e conflitos com tribos nativas americanas locais nos dois primeiros anos levaram Jamestown à beira do fracasso, antes da chegada de um novo grupo de colonos e suprimentos em 1610. O tabaco se tornou o primeiro produto de exportação rentável da Virgínia, e um período de paz se seguiu ao casamento do colono John Rolfe com Pocahontas, a filha de um chefe algonquiano. Durante a década de 1620, Jamestown se expandiu a partir da área original em torno do Forte James em uma nova cidade construída a leste; ela permaneceu como capital da colônia da Virgínia até 1699.
Após a histórica viagem de Cristóvão Colombo em 1492, Espanha e Portugal dominaram a corrida para estabelecer colônias nas Américas, enquanto os esforços ingleses, como a “colônia perdida” de Roanoke (1587), fracassaram. Em 1606, o rei Jaime I concedeu um alvará a uma nova empresa, a Companhia da Virgínia, para formar um assentamento na América do Norte. Na época, Virginia era o nome inglês para todo o litoral oriental da América do Norte, a norte da Flórida; O nome foi dado em homenagem a Elizabeth I, “a rainha virgem”. A Companhia da Virgínia planejava procurar por depósitos de ouro e prata no Novo Mundo, assim como uma rota fluvial para o Oceano Pacífico, o que lhes permitiria estabelecer comércio com o Oriente.
Aproximadamente 100 colonos deixaram a Inglaterra no final de dezembro de 1606 em três navios (Susan Constant, Godspeed e Discovery) e alcançaram a baía de Chesapeake no final de abril de 1607. Após formar um conselho governante – que incluía Christopher Newport, comandante da viagem marítima, e John Smith, um ex-mercenário que fora acusado de insubordinação a bordo de um dos navios por vários outros membros da companhia – o grupo procurou por um local de assentamento adequado. Em 14 de maio de 1607, eles desembarcaram em uma estreita península – na verdade, uma ilha – no rio James, onde começariam suas vidas no Novo Mundo.
Conhecida como James Fort, James Towne ou James Cittie, a nova povoação consistia inicialmente de um forte feito de madeira construído em forma de triângulo em volta do depósito para armas e outros suprimentos, uma igreja e várias casas. No verão de 1607, Newport voltou para a Inglaterra com dois navios e 40 tripulantes para fazer um relato ao rei e para conseguir mais suprimentos e colonos.  Os colonos que ficaram sofreram significativamente com fome e doenças, assim como com a constante ameaça de ataque de membros das tribos algonquianas locais, a maioria deles organizados em um tipo de império sob o chefe Powhatan.
Um acordo entre Powhatan e John Smith levou os colonos a estabelecer o comércio necessário com a tribo e Powhatan no começo de 1608. Apesar de combates ainda ocorrerem entre os dois grupos, os nativos americanos trocavam milho por colares de contas, ferramentas de metal e outros objetos (inclusive algumas armas) com os ingleses, que dependiam desse comércio para a subsistência nos primeiros anos da colônia. Após John Smith retornar à Inglaterra no final de 1609, os habitantes de Jamestown sofreram um longo e severo inverno, durante o qual mais de 100 deles morreram. Na primavera de 1610, quando os colonos que ficaram se preparavam para abandonar Jamestown, dois navios chegaram trazendo pelo menos 150 novos colonos, suprimentos e o novo governador inglês da colônia, Lorde De La Warr.
Apesar do Lorde De La Warr logo ficar doente e retornar à Inglaterra, seu sucessor Sir Thomas Gates e o segundo em comando, Sir Thomas Dale, assumiram firmemente o controle da colônia e lançaram um sistema de novas leis que, entre outras coisas, controlava estritamente as interações entre colonos e algonquianos. Eles estabeleceram uma linha dura com Powhatan e fizeram ataques contra as vilas algonquianas, matando residentes e queimando casas e plantios. Os ingleses começaram a construir outros fortes e assentamentos acima e abaixo do rio James, e no outono de 1611 conseguiram colher uma safra decente de milho. Eles também aprenderam outras valiosas técnicas com os algonquianos, inclusive como isolar suas residências do clima severo usando cascas de árvores, e expandiram Jamestown para uma nova cidade a leste do forte original.
Um período de relativa paz se seguiu ao casamento em abril de 1614 do colono e plantador de tabaco John Rolfe com Pocahontas, uma filha do chefe Powhatan que tinha sido capturada pelos colonos e convertida ao cristianismo (De acordo com John Smith, Pocahontas o salvou da morte em 1607, quando ela era apenas uma criança e ele era cativo de seu pai). Graças em grande parte à introdução por Rolfe de um novo tipo de tabaco produzido a partir de sementes trazidas das Índias Ocidentais, a economia de Jamestown começou a prosperar. Em 1619, a colônia estabeleceu uma Assembleia Geral com membros eleitos pelos proprietários de terra da Virgínia (apenas os homens votavam); ela se tornaria um modelo para governos representativos nas colônias posteriores. Naquele mesmo ano, os primeiros africanos (cerca de 50 homens, mulheres e crianças) chegaram ao assentamento inglês; eles estavam em um navio negreiro português capturado nas Índias Ocidentais e trazido à região de Jamestown. Eles trabalharam a princípio como servos (o sistema de escravidão baseado na raça só se desenvolveu na América do Norte na década de 1680) e provavelmente foram colocados para trabalhar colhendo tabaco.
A morte de Pocahontas durante uma viagem à Inglaterra em 1617 e a morte de Powhatan em 1618 estremeceram a já frágil paz entre os colonos ingleses e os nativos americanos. Sob o sucessor de Powhatan, Opechankeno, os algonquianos se tornaram cada vez mais furiosos com a insaciável necessidade dos colonos por terra e o ritmo de povoamento inglês; enquanto isso, doenças trazidas do Velho Mundo dizimavam a população nativa americana. Em março de 1622, o chefe algonquiano fez um importante ataque contra os assentamentos ingleses na Virgínia, matando entre 350 e 400 residentes (um quarto da população). O ataque atingiu os postos avançados de Jamestown duramente, enquanto a vila, que recebeu aviso prévio, foi capaz de montar uma defesa.
Em um esforço para ter mais controle da situação, o rei Jaime I dissolveu a companhia e transformou a Virgínia em uma colônia oficial da coroa, com Jamestown como sua capital, em 1624. A área nova de Jamestown continuou a crescer, e o forte original parece ter desaparecido depois da década de 1620. Embora o povo de Powhatan continuasse a resistir (Opechankeno, então com mais de 80 anos, liderou outra grande rebelião em 1644), a colônia continuou seu crescimento vigoroso, e o sucessor de Opechankeno, Necotowance, foi forçado a assinar um tratado de paz que cedia a maior parte das terras dos powhatan e os forçava a pagar um tributo anual ao governador colonial. Em 1698, o prédio do governo central em Jamestown incendiou-se, e Williamsburg a substituiu como a capital da colônia da Virgínia no ano seguinte.