quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ascensão e queda da civilização maia

A civilização maia, centralizada nas planícies do que hoje é a Guatemala, alcançou o auge do seu poder e influência por volta do século VI da nossa era. Os maias se sobressaíram na agricultura, na cerâmica, escrita hieroglífica, confecção de calendários e na matemática, e deixaram para trás uma quantidade surpreendente de arquitetura monumental e trabalhos de arte simbólica. No entanto, A maioria das grandes cidades de pedra dos maias foi abandonada por volta de 900 EC, e desde o século XIX os pesquisadores tentam desvendar o que deve ter causado este dramático declínio.
Tikal
A civilização maia foi uma das mais importantes sociedades nativas da Mesoamérica (termo usado para descrever o México e a América Central antes da conquista espanhola no século XVI). Diferentes de outras populações indígenas dispersas da Mesoamérica, os maias estavam centralizados em um bloco geográfico cobrindo toda a península de Yucatán e a atual Guatemala; Belize e parte dos estados mexicanos de Tabasco e Chiapas; e a parte ocidental de Honduras e El Salvador. Esta concentração mostrava que os maias permaneceram relativamente protegidos de invasões por outros povos mesoamericanos.
Dentro desse espaço, os maias viviam em três subáreas separadas, com meio-ambientes distintos e diferenças culturais: as terras baixas maias do norte, na península de Yucatán; as terras baixas maias do sul, no departamento guatemalteco de El Petén e porções adjacentes do México, Belize e oeste de Honduras; e as terras altas maias do sul, na região montanhosa do sul da Guatemala. Mais famosa, a região das terras baixas do sul alcançou seu auge durante o período clássico da civilização maia (250 a 900 EC), e construiu as grandes cidades de pedra e monumentos que têm fascinado exploradores e pesquisadores da região.
As povoações maias mais antigas datam de cerca de 1800 AEC, ou do começo do que é chamado de período pré-clássico ou período formativo. Os primeiros maias eram agricultores, cultivando safras de milho, feijão, abóbora e mandioca. Durante o período pré-clássico médio, que durou até cerca de 300 AEC, os fazendeiros maias começaram a expandir sua presença para os vales e montanhas. Esse período também viu o surgimento da primeira civilização importante mesoamericana, os olmecas. Como outros povos mesoamericanos, tais como zapotecas, totonacas, mixtecas e astecas, os maias derivaram várias características religiosas e culturais – assim como seu sistema numérico e seu famoso calendário – dos olmecas.
Além da agricultura, os maias pré-clássicos também demonstraram traços culturais mais avançados como a construção de pirâmides, de cidades e inscrição em monumentos de pedra.
A cidade do final do período pré-clássico de Mirador, no norte de El Petén, foi uma das maiores cidades construídas de todo o período pré-colombiano nas Américas. Seu tamanho deixava pequena a capital clássica maia de Tikal, e sua existência prova que os maias prosperaram séculos antes do período clássico.
O período clássico, que começou por volta de 250 EC, foi o período de maior prosperidade do império maia. A civilização maia cresceu para cerca de 40 cidades, incluindo Tikal, Uaxactún, Copán, Bonampak, Dos Pilas, Calakmul, Palenque e Río Bec; cada cidade mantinha uma população entre 5.000 e 50.000 pessoas. Em seu auge, a população maia deve ter alcançado 2 milhões de pessoas.
As escavações em sítios maias têm revelado praças, palácios, templos e pirâmides, assim como pátios para jogos com bola, que eram ritual e politicamente significativos para a cultura maia. As cidades maias eram rodeadas e sustentadas por uma grande população de agricultores. Embora os maias praticassem um tipo primitivo de agricultura de “derrubada e queimada”, eles também mostraram evidências de métodos de cultivo mais avançados, tais como irrigação e plantio em terraços.
Os maias eram profundamente religiosos, e cultuavam vários deuses relacionados à natureza, incluindo os deuses do sol, da lua, da chuva e do milho. No topo da sociedade maia estavam os reis, ou “kuhul ajaw”, que alegavam ser parentes dos deuses e que seguiam uma sucessão hereditária. Acredita-se que eles serviam como mediadores entre os deuses e o povo, e realizavam as elaboradas cerimônias religiosas e rituais tão importantes para a cultura maia.
Os maias clássicos construíram muitos dos seus templos e palácios na forma de pirâmides de degraus, decorando-os com relevos e inscrições. Estas estruturas auferiram aos maias sua reputação como os grandes artistas da Mesoamérica. Guiados por seus rituais religiosos, os maias também realizaram avanços significativos em matemática e astronomia, incluindo o uso do zero e o desenvolvimento de um complexo sistema de calendário baseado em 365 dias. Embora os primeiros pesquisadores tenham concluído que os maias eram uma sociedade pacífica de sacerdotes e escribas, evidências posteriores – incluindo um exame meticuloso dos trabalhos artísticos e inscrições das paredes dos seus templos – mostraram o lado menos pacífico da cultura maia, incluindo a guerra entre as cidades-estado rivais e a importância da tortura e do sacrifício humano para seus rituais religiosos.
A exploração séria dos sítios maias clássicos teve início na década de 1830. Na primeira metade do século XX, uma pequena parte de seu sistema de escrita hieroglífica foi decifrado, e mais de sua história e cultura se tornou conhecido. A maior parte do que os historiadores sabem sobre os maias vem do que restou de sua arquitetura e arte, incluindo entalhes e inscrições em pedra de seus edifícios e monumentos. Os maias também faziam papel de casca de árvore e escreviam em livros feitos desse papel, conhecidos como códices; quatro desses códices são conhecidos por terem sobrevivido (Códice de Dresden - Sächsische Landesbibliothek, a biblioteca estadual de Dresden, Alemanha; Códice de Madrid - Museu da América, Madrid, Espanha; Códice de Paris - Bibliothèque Nationale (Biblioteca Nacional), Paris, França; Códice Groiler - Cidade do México, México).
Uma das coisas mais intrigantes sobre os maias foi sua habilidade para construir uma grande civilização em uma floresta de clima tropical. Tradicionalmente, os povos antigos floresceram em climas secos, onde a administração centralizada das fontes de água (através de irrigação e outras técnicas) formava a base da sociedade (este foi o caso de Teotihuacán no planalto do México, contemporânea dos maias clássicos). Nos vales maias do sul, no entanto, havia poucos rios navegáveis para comércio e transporte, assim como nenhuma necessidade óbvia por sistemas de irrigação.
No final do século XX, os pesquisadores concluíram que o clima das planícies era totalmente diverso quanto ao meio ambiente. Apesar de os invasores ficarem desapontados com a relativa falta de prata e ouro na região, os maias se aproveitaram dos muitos recursos naturais, incluindo calcário (para construção), a rocha vulcânica obsidiana (para ferramentas e armas) e sal. O meio ambiente também tinha outros tesouros para os maias, como jade, penas de quetzal (usadas para decorar as elaboradas vestimentas da nobreza maia) e conchas marinhas, que eram usadas como trombetas em cerimônias e na guerra.
Do final do século VIII ao final do século IX, algo desconhecido aconteceu que abalou a civilização maia em suas fundações. Uma a uma, as cidades clássicas dos vales do sul foram abandonadas e, perto de 900, a civilização maia nessa região entrou em colapso. A razão para este misterioso declínio é desconhecida, embora os acadêmicos tenham desenvolvido várias teorias conflitantes.
Alguns acreditam que no século IX os maias exauriram o meio ambiente a sua volta ao ponto de que ele não poderia mais sustentar uma população muito grande. Outros estudiosos dos maias argumentam que o estado de guerra constante entre cidades-estado concorrentes levou a complicadas alianças militares, familiares (por casamento) e comerciais que as fez sucumbir, junto com o sistema tradicional de poder dinástico. À medida que o prestígio dos senhores sagrados diminuía, sua complexa tradição de cerimônias e rituais se dissolveu no caos. Finalmente, alguma mudança ambiental catastrófica – como um período intenso, extremamente longo, de seca – deve ter destruído a civilização maia. A seca deve ter atingido cidades como Tikal – onde a água da chuva era necessária para beber, assim como para irrigação agrícola – severamente.
Todos esses três fatores – população elevada e uso exagerado dos recursos naturais, estado de guerra endêmico e seca – devem ter sido responsáveis por uma parte da queda dos maias nas planícies do sul. Nas terras altas de Yucatán, algumas cidades maias – como Chichén Itzá, Uxmal e Mayapán – continuaram a prosperar no período pós-clássico (900-1500). Todavia, na época que os invasores espanhóis chegaram a maior parte dos maias vivia em vilas agrícolas, e suas grandes cidades estavam sepultadas sob a verdejante floresta tropical.

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