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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Américas antes de Colombo - Parte 5: maias - religião, escrita, sociedade e colapso

Calendário maia
Religião, escrita e sociedade maia
O calendário e as sofisticadas observações astronômicas tornaram-se possíveis através de um sistema vigesimal matemático. Os maias conheciam o conceito do zero e o usavam em conjunção de notação posicional. Com elegante simplicidade e apenas sinais para um, cinco e zero, eles podiam fazer cálculos complexos. Como entre todos os povos mesoamericanos, o calendário maia era baseado em um conceito de ciclos recorrentes de diferentes comprimentos. Eles tinham um ciclo sagrado de 260 dias divididos em meses de 20 dias, dentro dos quais havia um ciclo de 13 números. Este calendário ritual se combinava com um calendário solar de 365 dias, ou 18 meses de 20 dias e uma sobra de 5 dias “mortos” ou dias de mau agouro no fim do ano. Os dois calendários operavam simultaneamente de modo que qualquer dia teria dois nomes, mas a combinação particular desse dia nos dois calendários só ocorreria uma vez a cada 52 anos. Assim, entre os maias e maioria dos mesoamericanos, os ciclos de 52 anos eram sagrados.
Os maias clássicos, no entanto, diferenciavam-se de seus vizinhos porque eles também mantinham um calendário de longa duração ou sistema de datação a partir de uma data fixa no passado. Esta data, 3114 AEC pelo nosso calendário, provavelmente marcava o início de um grande ciclo de 5.200 anos desde que o mundo foi criado. Como outros mesoamericanos (e os antigos peruanos), os maias acreditavam em grandes ciclos de criação e destruição do universo. O calendário longo permitia aos maias datar eventos com precisão. A data maia mais antiga registrada que sobreviveu é 292 EC e a última é 928 EC.
A segunda grande realização maia foi a criação de um sistema de escrita. Os maias “escreviam” em monumentos de pedra, murais, cerâmicas e em livros de papel de casca de árvore e em pele de cervo, dos quais apenas quatro sobreviveram. Os escribas eram estimados e possuíam um lugar importante na sociedade. Embora ainda não possamos ler muitas inscrições, avanços recentes agora permitem a leitura de muitos textos. A língua maia escrita era, como o chinês e o sumeriano, um sistema logográfico que combinava elementos fonéticos e semânticos. Com este sistema e cerca de 287 símbolos eles eram capazes de registrar e transmitir conceitos complexos e ideias. Os poucos livros remanescentes (códices) são textos religiosos e astronômicos, e muitas inscrições em cerâmica tratam do culto da morte e da complexa cosmologia maia.
A visão maia do universo era de uma terra plana, cujos pontos cardeais e centro eram dominados por um deus que sustentava o céu. Acima do céu estendiam-se 13 níveis de paraísos e abaixo nove submundos, cada um dominado por um deus. Através desses níveis o sol e a lua, também compreendidos com deidades, passavam a cada dia. Um conceito básico de dualismo mesoamericano – macho e fêmea, bom e mau, dia e noite – enfatizava a unidade de todas as coisas, similar ao encontrado em algumas religiões asiáticas. Assim, cada deus muitas vezes tinha uma deusa consorte ou forma feminina em paralelo e frequentemente também um paralelo no submundo. Além disso, havia deidades patronas de várias ocupações e classes. Dessa forma, o número de deidades nas inscrições parece incalculável, mas estes poderiam ser entendidos como manifestações de um conjunto mais limitado de forças sobrenaturais, bem parecidas com os avatares ou encarnações dos deuses hindus.
Enquanto os poucos livros sobreviventes são de caráter religioso, a maioria das inscrições nos monumentos são registros históricos das famílias governantes das cidades maias. Os centros maias importantes eram os núcleos de cidades-estado que controlavam territórios afastados. Havia estado de guerra constante, e governantes, tais como Pacal de Palenque (que morreu em 683), expandiram seus territórios através da conquista. As vitórias de Pacal foram registradas em seus monumentos funerários e em sua luxuosa tumba descoberta dentro de uma pirâmide em Palenque.
Os governantes exerciam considerável poder civil e provavelmente religioso, e governavam auxiliados por uma elite que exercia funções administrativas. Uma classe de escribas ou talvez de sacerdotes administrava o culto do estado e era especializada nos cálculos e observações do complexo calendário. O governante e os escribas organizavam e participavam de rituais de automutilação e de sacrifício humano que entre os maias, assim como na maior parte da Mesoamérica, formavam um importante aspecto da religião. Também, como uma forma de culto e esporte, os maias, como outros povos mesoamericanos, praticavam um jogo de bola ritual em quadras especialmente construídas nas quais os jogadores passavam a bola com seus quadris ou cotovelos. Os perdedores podiam perder suas propriedades ou suas vidas.
Construtores, ceramistas, escribas, escultores e pintores trabalhavam nas cidades pela glória dos deuses e dos governantes. A maioria das pessoas, no entanto, era formada de camponeses fazendeiros cujo trabalho sustentava o ritual elaborado e a vida política da elite. Os cativos eram escravizados. As famílias patriarcais provavelmente formavam a base da vida social da mesma forma que entre os maias da época da chegada dos espanhóis. Todavia, a elite traçava suas famílias através dos pais e das mães. As mulheres da elite são muitas vezes representadas em monumentos dinásticos em posições de importância. Os casamentos de estado eram importantes e as mulheres da elite retinham direitos consideráveis. Entre o povo comum, as mulheres cuidavam da preparação da comida e das responsabilidades domésticas, incluindo a produção de belas roupas. A divisão de tarefas por gênero era provavelmente apoiada em crenças religiosas e costumes, se considerarmos os maias atuais como modelo.

Colapso
Entre cerca de 700 e 900, o mundo mesoamericano foi sacudido pelo declínio cataclísmico dos grandes centros culturais. As razões para esse colapso não são completamente entendidas, mas o fenômeno foi geral. No planalto central, Teotihuacán foi destruída por volta de 650 por invasores externos, provavelmente caçadores nômades do norte talvez com a colaboração de alguns dos grupos sob dominação de Teotihuacán. A cidade talvez já estivesse em declínio devido a problemas crescentes com a agricultura. Enquanto que a queda de Teotihuacán pareça ter sido repentina, Monte Albán, o centro zapoteca, entrou em uma fase de lento declínio e eventual abandono.
O aspecto mais misterioso do colapso foi o abandono das cidades maias. Durante o século VIII, os governantes maias pararam de erigir estelas comemorativas e grandes edifícios, o tamanho da população diminuiu. Por volta de 900, a maioria dos principais centros maias foi abandonada. Os acadêmicos não concordam se esse processo foi o resultado de problemas ecológicos e mudança climática, exaustão agrícola, revoltas internas ou pressão estrangeira. O colapso ocorreu em diferentes momentos em diferentes lugares e parece ser o resultado de vários processos, dos quais o crescente estado de guerra era uma causa ou sintoma. O estado de guerra deve estar relacionado ao declínio de Teotihuacán e à tentativa das cidades-estado maias de se instalar no controle das antigas rotas comerciais.
Importante entre as explanações para o colapso maia tem sido a exaustão agrícola. A habilidade maia para criar uma civilização na densa floresta tropical de Petén na Guatemala e nos vales de Chiapas foi baseada em um sistema agrícola altamente produtivo. Por volta do século VIII, os limites deste sistema, dado o tamanho da densidade populacional, devem ter sidos alcançados. Tikal tinha uma densidade populacional estimada de 116 pessoas por quilômetro quadrado. Manter os grandes centros populacionais era uma carga crescente. Doenças epidêmicas também podem ser consideradas como uma causa do colapso, talvez indicando algum contato imemorial com o Velho Mundo. Outros acreditam que os camponeses simplesmente se recusaram a tolerar as cargas de servidão e alimentação para as elites políticas e religiosas e que uma rebelião interna levou ao fim das dinastias governantes e de suas cidades.
As razões para o colapso da civilização clássica permanecem obscuras, mas o período estava claramente terminando, e enquanto uns poucos centros continuaram a ser ocupados por invasores e algumas tradições persistiam, as realizações culturais do período clássico não voltaram a ocorrer novamente. A contagem de longa duração terminou, o culto das estelas cessou e a qualidade da cerâmica e as realizações arquitetônicas declinaram. Mas enquanto os grandes centros maias dos vales do sul e das regiões montanhosas eram abandonados ou entravam em declínio, as cidades maias no Iucatã e nas áreas montanhosas guatemaltecas se expandiam e continuavam algumas das tradições, junto com influências culturais consideráveis do México central. Famílias governantes mexicanizadas se estabeleceram em Chichén Itzá e em outras cidades do Iucatã, e grupos maias mexicanizados do litoral do golfo penetraram no sul da região maia. A área norte maia foi capaz de acomodar estas influências e de criar uma nova síntese das culturas maia e do centro do México. Nas grandes cidades maias meridionais, como Tikal, Palenque e Quiriguá tais acomodações não foram feitas e a floresta tropical logo invadiu os templos e palácios.
Depois de 1000, um dos novos grupos que ocupou o platô central após a queda de Teotihuacán, os toltecas falantes de nahuatl, estabeleceram o controle político sobre um grande território e com o tempo estenderam sua influência ao território maia. Seu espírito parece ter sido militar, e a maior parte de sua cultura derivava das tradições clássicas. A partir da capital em Tula no México central, a influência e o comércio toltecas devem ter se disseminado a regiões tão distantes quanto o sudoeste norte-americano, onde o povo anasazi, ancestral dos índios pueblos, produzia belas cerâmicas e cultivava milho nos vales desertos. Em Iucatã, as famílias governantes alegavam descender de invasores toltecas. Até mesmo quando o império tolteca caiu por volta de 1200, as tradições culturais da Mesoamérica não morreram, porque estados imperiais e civilização não necessariamente andam juntos. Finalmente, contudo, um novo poder – os astecas – surgiu no planalto central mexicano. Os astecas iniciaram então outro ciclo de expansão baseado nos modos de vida já profundamente enraizados da Mesoamérica.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A invenção da escrita

A invenção da escrita foi um dos grandes avanços na civilização. De fato, a escrita ajuda a assegurar a continuidade da civilização, porque transmite um registro factível da espécie humana de geração em geração.
Encontramos as evidências mais antigas de escrita na Suméria, sul da Mesopotâmia. Esse sistema mais antigo não usava um alfabeto, mas pictografias, que são símbolos representando objetos familiares. Este tipo de escrita sumeriano evoluiu tornando-se mais estilizado. Ele ficou conhecido na atualidade como cuneiforme, ou escrita em forma de cunha. Os egípcios também usavam um sistema pictográfico, mas original: os hieróglifos.
O uso de um alfabeto provavelmente se originou entre os povos habitantes da região conhecida como Fenícia entre 1700 e 1500 AEC a partir dos sistemas de escrita mais antigos, o cuneiforme e o hieroglífico. Esta escrita semítica possuía apenas consoantes; depois, os antigos gregos introduziram a ideia das vogais. O sistema de escrita chinês, também muito antigo, manteve seu caráter pictográfico em vez de desenvolver um alfabeto.
A história e a pré-história da escrita são tão longas quanto a história da própria civilização. Na verdade, o desenvolvimento da comunicação escrita foi um passo fundamental no avanço da civilização.
Apesar disso, a escrita existe há pouco mais de 5.000 anos. As mais antigas inscrições conhecidas que chegaram até nós estão em tabletes de argila feitos pelos sumerianos por volta de 3100 AEC. Os sumerianos viviam no sul da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates. As mais antigas inscrições conhecidas do vale do Nilo são de 100 a 200 anos mais recentes.
A escrita é às vezes considerada a maior das invenções humanas. Vários povos desenvolveram independentemente a escrita: sumerianos, provavelmente egípcios, chineses e povos mesoamericanos. Não se sabe a identidade daqueles responsáveis pelos passos mais importantes no desenvolvimento da escrita. Seus nomes, como os dos inventores da roda, há muito se perderam na penumbra do passado.
Muito tempo antes que as mais antigas inscrições sumerianas e egípcias se desenvolvessem, as pessoas se comunicavam entre si por vários métodos diferentes. Os antigos humanos podiam expressar seus pensamentos e sentimentos através da fala, por sinais ou gestos. Eles também podiam sinalizar com fogo, fumaça, tambores ou assobios.
Estes métodos de comunicação mais antigos tinham duas limitações. Primeiro, eles estavam restritos ao tempo enquanto a comunicação ocorresse. Assim que as palavras eram faladas, os gestos eram feitos ou a fumaça era soprada pelo vento, todos não podiam ser recuperados, exceto por repetição. Segundo, estavam restritos pelo espaço. Poderiam ser usados apenas entre pessoas mais ou menos próximas umas das outras.
A necessidade de comunicação através de uma forma menos limitada pelo tempo e pelo espaço pode ter originado os primeiros desenhos e marcas sobre objetos de qualquer material sólido. Estas “mensagens” duravam tanto quanto os materiais sobre os quais foram feitas. Os humanos têm feito desenhos há milênios. As pinturas pré-históricas feitas em cavernas eram representações artísticas e realísticas do mundo do homem primitivo. Se as figuras intencionavam registrar um evento ou transmitir uma mensagem, elas eram uma forma de escrita.
Um grande número dessas figuras, desenhadas ou entalhadas na rocha, são chamadas petrogramas se são desenhadas ou pintadas e petróglifos se são entalhadas.
Tais figuras transmitiam ideias, ou significados, diretamente sem o uso de palavras, sons, ou outra forma de linguagem. Este método primitivo de comunicação é conhecido como pictografia ou ideografia, e forma a base dos caracteres chineses e japoneses atuais.
A ideia ou o significado escrito tem muitas limitações. Se alguém desejar comunicar a simples mensagem “eu matei cinco leões”, o escritor poderia começar desenhando cinco figuras separadas de leões. Ainda faltava indicar “eu matei”. Lembrando-se da forma que na verdade ele matou os leões – com uma lança, um porrete ou um arco e flecha – o escritor desenharia a sua figura segurando a arma que ele usou no ato.
Havia várias formas indiretas pelas quais o escritor poderia garantir que outra pessoa entendesse que foi ele e não outro que matou os leões. Se ele tinha pernas longas, ele poderia fazer um desenho seu com pernas bastante longas. Ele poderia se desenhar com um corte de cabelo peculiar ou com um toucado. Ele também poderia usar o artifício, amplamente usado pelos nativos americanos, de adicionar uma figura representando o seu nome – por exemplo, Búfalo Branco ou Camisa Vermelha – próximo à cabeça da figura. Tudo isso era inconveniente e envolvia uma grande quantidade de imaginação em encontrar as figuras certas para expressar os significados intencionados. Este sistema de escrita foi empregado pelos nativos norte-americanos das planícies e pelos astecas.
O método ideográfico de comunicação deve ter sido suficiente nas sociedades mais simples de caçadores e nômades. No entanto, ele não poderia se adequar às necessidades das sociedades urbanas com comércio, indústria, agricultura e burocracia estatal altamente desenvolvidos, todos envolvendo a necessidade de manter registros.
As primeiras sociedades urbanas surgiram no Oriente Médio, na Mesopotâmia ou em suas proximidades. Foi entre os rios Tigre e Eufrates que a civilização sumeriana floresceu. Aparentemente pouco tempo depois dos sumerianos, os egípcios do vale do Nilo desenvolveram sua civilização.
As escritas antigas foram influenciadas por vários fatores, particularmente pelos materiais disponíveis. As pessoas do Antigo Egito desenvolveram belos sinais, chamados hieróglifos, para fazer inscrições em tumbas e monumentos e para escrever textos religiosos e documentos importantes sobre papiro. A palavra hieróglifo origina-se de duas palavras gregas: ερός (hierós) "sagrado", e γλύφειν (glýphein) "escrita". Como o sul da Mesopotâmia era carente em pedras e em materiais adequados para fazer papel, eles imprimiam símbolos em tabletes de argila úmidos com a extremidade de um estilete de madeira ou junco. Isto produzia sinais em forma de cunha; por isso tal escrita é chamada cuneiforme, do latim cuneus, “cunha”. Para serem preservados, os tabletes eram assados após serem escritos.
A intenção básica nas novas inscrições era para expressar palavras da língua ao invés de ideias e significados. A mensagem “eu matei cinco leões” não seria expressa por figuras desenhadas em qualquer ordem. Ao invés disso, ela seria expressa em sinais desenhados na ordem das palavras dessa sentença. A palavra “eu” poderia ser expressa pelo pictograma de uma cabeça com a mão apontando para o nariz; “matei” pelo pictograma de uma lança; “cinco” por cinco marcas; e “leões” pelo pictograma de um leão.
O escriba não mais poderia escolher usar um sinal ou outro de acordo com a situação que ele estava tentando descrever. Se os leões foram mortos por uma lança, um cassetete ou por um arco e flecha, o escriba poderia usar para a palavra “matar” apenas o sinal que ele tinha aprendido a associar regularmente com essa palavra. Se na Suméria o ato de matar animais ou humanos fosse normalmente realizado com uma lança, então a figura de uma lança muito provavelmente seria escolhida como o sinal para a palavra “mata”.
Um sistema de escrita no qual sinais individuais são usados para palavras individuais da língua é chamado logográfico. Os sinais de tal sistema são chamados logogramas.
A palavra escrita representou um tremendo avanço sobre a ideia escrita. No entanto, ela ainda não era tão prática. Milhares de sinais para milhares de palavras tiveram que ser inventados – o que não era fácil – e aprendidos. Ainda era difícil expressar algumas ideias abstratas, como “vida”; nomes próprios que não tinham significados conhecidos; e formas gramaticais, como a indicação do tempo verbal ou de plurais.
Uma maneira de superar estas dificuldades foi encontrada no uso do princípio fonético, ou princípio rébus. Um exemplo seria escrever a palavra da língua inglesa “belief” (crença) desenhado as figuras de uma abelha (bee) e de uma folha (leaf). Em sumeriano, a palavra abstrata ti (vida) era difícil de expressar por uma figura. O escriba então escrevia a palavra com a figura fácil de desenhar de uma seta, que também tinha o som de ti em sumeriano. Dessa forma, uma figura era colocada para representar um som.
Com o princípio rébus, novos horizontes foram abertos para a expressão de todas as formas linguísticas, não importando o quanto fossem abstratas. Não era mais necessário passar por um processo de ginástica mental para descobrir como expressar uma palavra como “dado”, significando uma informação ou conjunto de informações. A palavra deveria ser expressa pela figura de um papiro com inscrições, uma árvore e uma lua ou por outra coisa? Com o princípio rébus, esta palavra poderia ser escrita simplesmente com o desenho de um cubo com pontos nos lados, um dado de jogar. Seu sinal é fácil de desenhar e soa como qualquer outro dado. Além disso, o sinal para dado pode ser usado foneticamente em toda e qualquer palavra onde as sílabas dado apareçam, como validado, consolidado ou enfadado. Os sistemas de escrita onde os sinais são usados para representar palavras completas de significado definido ou para sílabas são chamados escritas logográficas silábicas. Tais sistemas eram predominantes na Antiguidade, entre os sumerianos e egípcios, entre os hititas na Anatólia, entre os minoicos e micênicos no Egeu e entre os chineses. As escritas ainda não decifradas dos elamitas do sul do Irã e de um povo desconhecido que viveu na Índia em tempos muito antigos também eram logo-silábicas. Os maias da América Central desenvolveram um sistema que está em algum lugar entre o estágio ideográfico dos astecas e os sistemas logo-silábicos completamente desenvolvidos como os dos sumerianos e egípcios.
Como as primitivas escritas ideográficas, todos os sistemas logo-silábicos eram originalmente pictográficos; isto é, eles continham sinais nos quais alguém poderia facilmente reconhecer figuras de humanos e de objetos, animais, plantas e montanhas.
Os sistemas ideográficos retiveram seus caracteres pictóricos do início ao fim de suas existências. No decorrer do tempo, no entanto, as escritas logo-silábicas desenvolveram formas lineares e cursivas. Estas se tornaram abreviadas e mudaram significativamente com o uso constante. É impossível reconhecer na grande maioria deles as figuras que originalmente representavam. No Egito, a escrita hieroglífica originou outras duas, e as três formas eram usadas ao mesmo tempo. A forma hieroglífica era uma escrita de figuras cuidadosamente desenhadas encontrada principalmente em monumentos públicos e oficiais. Havia também as formas hierática e demótica, que eram escritas abreviadas e cursivas usadas principalmente para correspondência privada e comercial.
O passo seguinte na história de escrita foi o sistema silábico. Todas as escritas silábicas derivaram dos sistemas logo-silábicos. Eram sistemas idênticos ou simplificados dos silabários daqueles sistemas. Um silabário é uma lista de caracteres, cada um dos quais usado para escrever uma sílaba.
Os babilônios assírios, que substituíram os sumerianos na Mesopotâmia, aceitaram quase sem nenhuma mudança o sistema logo-silábico sumeriano. Os elamitas, hurritas e urarteanos, que viviam nas fronteiras mesopotâmicas, sentiram que a tarefa de dominar o complicado sistema sumeriano era um ônus muito pesado. Eles simplesmente desenvolveram um silabário simplificado e eliminaram quase inteiramente os sinais logo-silábicos sumerianos.
Os japoneses também desenvolveram um silabário simples a partir da escrita chinesa logo-silábica. As crianças japonesas são ensinadas com ele nos primeiros anos. Quando avançam para graus mais elevados, elas também aprendem vários logogramas tomados emprestados do chinês, que usam lado a lado com seu silabário.
A mudança mais radical ocorreu no sistema que os povos semitas da Síria e da Palestina desenvolveram a partir do sistema hieroglífico egípcio entre 1500 e 1000 AEC. Eles eliminaram todos os logogramas e todos os sinais silábicos com mais de uma consoante. Eles limitaram seus silabários a cerca de 30 sinais começando com uma consoante e terminando com uma vogal.
A escrita semítica mais importante foi desenvolvida por volta de 1000 AEC pelos fenícios na antiga cidade de Biblos. Essa escrita consistia de 22 sinais silábicos começando com uma consoante e terminando com uma vogal. Esta era a escrita que estava destinada a desempenhar o papel mais importante na história da civilização. Devido à sua grande simplicidade, a escrita fenícia se espalhou rapidamente. Ela foi aceita gradualmente por outros povos semíticos, como hebreus, arameus, árabes e abissínios. Na sua marcha para leste, ela se espalhou entre os povos da Pérsia e da Índia. A oeste, ela foi adotada pelos gregos, itálicos e pelo resto da Europa.
Como as vogais não eram indicadas nos sinais silábicos fenícios, estes sinais são chamados consonantais ou até mesmo alfabéticos por alguns acadêmicos. No entanto, os criadores de um alfabeto verdadeiro, com vogais e consoantes, não foram os fenícios, mas os gregos.
Houve três grandes passos pelos quais a escrita evoluiu da ideografia primitiva para um alfabeto pleno. Primeiro, vieram os sinais para representar os sons de palavras, conduzindo a um sistema logo-silábico. Os sumerianos foram os primeiros a desenvolver este estágio de escrita.
Depois veio a criação dos silabários semíticos de 22 a 30 sinais. A grandiosidade da escrita fenícia não está em qualquer mudança revolucionária, mas na simplificação. Ela excluiu todos os logogramas e sinais com mais de uma consoante do sistema egípcio, e restringiu seu silabário a um pequeno número de sinais silábicos abertos. Esta escrita se tornou o protótipo de todos os alfabetos.
O último grande passo foi a criação do alfabeto grego. Isto foi consumado pelo uso sistemático de sinais para vogais. Quando estes foram adicionados aos sinais silábicos copiados do sistema semítico, o resultado foi a redução dos valores dos sinais silábicos a sinais alfabéticos.
Com seu desenvolvimento final alcançado, não importando o que os seus precursores devam ter sido, a escrita teve que passar por esses três estágios – palavra, sílaba e alfabeto – nesta e não em outra ordem. Nenhum estágio de desenvolvimento poderia se omitido. Nenhuma escrita poderia começar com um estágio silábico ou alfabético a menos que fosse copiada de um sistema que já tivesse passado pelos estágios prévios. Um sistema de escrita poderia parar em um estágio sem desenvolver os posteriores. Os nativos das planícies norte-americanas nunca progrediram além da escrita pictográfica. As escritas japonesas e chinesas permaneceram logo-silábicas.
A escrita raramente desenvolveu todos os estágios no mesmo lugar. Os povos eram normalmente conservadores e presos ao seu próprio tipo de escrita. No Egito e na Babilônia interesses religiosos, e na China interesses políticos, foram responsáveis por manter uma forma difícil e obsoleta de escrita e tornar seu uso geral pelo povo impossível. Foram então os povos estrangeiros, sem ligações com as tradições e os interesses locais, que frequentemente foram responsáveis por introduzir novos e importantes desenvolvimentos na história da escrita. Dessa forma, foram os fenícios que simplificaram a escrita egípcia, e os gregos que desenvolveram o alfabeto que eles derivaram a partir da escrita dos fenícios.