sexta-feira, 15 de julho de 2011

Américas antes de Colombo - Parte 5: maias - religião, escrita, sociedade e colapso

Calendário maia
Religião, escrita e sociedade maia
O calendário e as sofisticadas observações astronômicas tornaram-se possíveis através de um sistema vigesimal matemático. Os maias conheciam o conceito do zero e o usavam em conjunção de notação posicional. Com elegante simplicidade e apenas sinais para um, cinco e zero, eles podiam fazer cálculos complexos. Como entre todos os povos mesoamericanos, o calendário maia era baseado em um conceito de ciclos recorrentes de diferentes comprimentos. Eles tinham um ciclo sagrado de 260 dias divididos em meses de 20 dias, dentro dos quais havia um ciclo de 13 números. Este calendário ritual se combinava com um calendário solar de 365 dias, ou 18 meses de 20 dias e uma sobra de 5 dias “mortos” ou dias de mau agouro no fim do ano. Os dois calendários operavam simultaneamente de modo que qualquer dia teria dois nomes, mas a combinação particular desse dia nos dois calendários só ocorreria uma vez a cada 52 anos. Assim, entre os maias e maioria dos mesoamericanos, os ciclos de 52 anos eram sagrados.
Os maias clássicos, no entanto, diferenciavam-se de seus vizinhos porque eles também mantinham um calendário de longa duração ou sistema de datação a partir de uma data fixa no passado. Esta data, 3114 AEC pelo nosso calendário, provavelmente marcava o início de um grande ciclo de 5.200 anos desde que o mundo foi criado. Como outros mesoamericanos (e os antigos peruanos), os maias acreditavam em grandes ciclos de criação e destruição do universo. O calendário longo permitia aos maias datar eventos com precisão. A data maia mais antiga registrada que sobreviveu é 292 EC e a última é 928 EC.
A segunda grande realização maia foi a criação de um sistema de escrita. Os maias “escreviam” em monumentos de pedra, murais, cerâmicas e em livros de papel de casca de árvore e em pele de cervo, dos quais apenas quatro sobreviveram. Os escribas eram estimados e possuíam um lugar importante na sociedade. Embora ainda não possamos ler muitas inscrições, avanços recentes agora permitem a leitura de muitos textos. A língua maia escrita era, como o chinês e o sumeriano, um sistema logográfico que combinava elementos fonéticos e semânticos. Com este sistema e cerca de 287 símbolos eles eram capazes de registrar e transmitir conceitos complexos e ideias. Os poucos livros remanescentes (códices) são textos religiosos e astronômicos, e muitas inscrições em cerâmica tratam do culto da morte e da complexa cosmologia maia.
A visão maia do universo era de uma terra plana, cujos pontos cardeais e centro eram dominados por um deus que sustentava o céu. Acima do céu estendiam-se 13 níveis de paraísos e abaixo nove submundos, cada um dominado por um deus. Através desses níveis o sol e a lua, também compreendidos com deidades, passavam a cada dia. Um conceito básico de dualismo mesoamericano – macho e fêmea, bom e mau, dia e noite – enfatizava a unidade de todas as coisas, similar ao encontrado em algumas religiões asiáticas. Assim, cada deus muitas vezes tinha uma deusa consorte ou forma feminina em paralelo e frequentemente também um paralelo no submundo. Além disso, havia deidades patronas de várias ocupações e classes. Dessa forma, o número de deidades nas inscrições parece incalculável, mas estes poderiam ser entendidos como manifestações de um conjunto mais limitado de forças sobrenaturais, bem parecidas com os avatares ou encarnações dos deuses hindus.
Enquanto os poucos livros sobreviventes são de caráter religioso, a maioria das inscrições nos monumentos são registros históricos das famílias governantes das cidades maias. Os centros maias importantes eram os núcleos de cidades-estado que controlavam territórios afastados. Havia estado de guerra constante, e governantes, tais como Pacal de Palenque (que morreu em 683), expandiram seus territórios através da conquista. As vitórias de Pacal foram registradas em seus monumentos funerários e em sua luxuosa tumba descoberta dentro de uma pirâmide em Palenque.
Os governantes exerciam considerável poder civil e provavelmente religioso, e governavam auxiliados por uma elite que exercia funções administrativas. Uma classe de escribas ou talvez de sacerdotes administrava o culto do estado e era especializada nos cálculos e observações do complexo calendário. O governante e os escribas organizavam e participavam de rituais de automutilação e de sacrifício humano que entre os maias, assim como na maior parte da Mesoamérica, formavam um importante aspecto da religião. Também, como uma forma de culto e esporte, os maias, como outros povos mesoamericanos, praticavam um jogo de bola ritual em quadras especialmente construídas nas quais os jogadores passavam a bola com seus quadris ou cotovelos. Os perdedores podiam perder suas propriedades ou suas vidas.
Construtores, ceramistas, escribas, escultores e pintores trabalhavam nas cidades pela glória dos deuses e dos governantes. A maioria das pessoas, no entanto, era formada de camponeses fazendeiros cujo trabalho sustentava o ritual elaborado e a vida política da elite. Os cativos eram escravizados. As famílias patriarcais provavelmente formavam a base da vida social da mesma forma que entre os maias da época da chegada dos espanhóis. Todavia, a elite traçava suas famílias através dos pais e das mães. As mulheres da elite são muitas vezes representadas em monumentos dinásticos em posições de importância. Os casamentos de estado eram importantes e as mulheres da elite retinham direitos consideráveis. Entre o povo comum, as mulheres cuidavam da preparação da comida e das responsabilidades domésticas, incluindo a produção de belas roupas. A divisão de tarefas por gênero era provavelmente apoiada em crenças religiosas e costumes, se considerarmos os maias atuais como modelo.

Colapso
Entre cerca de 700 e 900, o mundo mesoamericano foi sacudido pelo declínio cataclísmico dos grandes centros culturais. As razões para esse colapso não são completamente entendidas, mas o fenômeno foi geral. No planalto central, Teotihuacán foi destruída por volta de 650 por invasores externos, provavelmente caçadores nômades do norte talvez com a colaboração de alguns dos grupos sob dominação de Teotihuacán. A cidade talvez já estivesse em declínio devido a problemas crescentes com a agricultura. Enquanto que a queda de Teotihuacán pareça ter sido repentina, Monte Albán, o centro zapoteca, entrou em uma fase de lento declínio e eventual abandono.
O aspecto mais misterioso do colapso foi o abandono das cidades maias. Durante o século VIII, os governantes maias pararam de erigir estelas comemorativas e grandes edifícios, o tamanho da população diminuiu. Por volta de 900, a maioria dos principais centros maias foi abandonada. Os acadêmicos não concordam se esse processo foi o resultado de problemas ecológicos e mudança climática, exaustão agrícola, revoltas internas ou pressão estrangeira. O colapso ocorreu em diferentes momentos em diferentes lugares e parece ser o resultado de vários processos, dos quais o crescente estado de guerra era uma causa ou sintoma. O estado de guerra deve estar relacionado ao declínio de Teotihuacán e à tentativa das cidades-estado maias de se instalar no controle das antigas rotas comerciais.
Importante entre as explanações para o colapso maia tem sido a exaustão agrícola. A habilidade maia para criar uma civilização na densa floresta tropical de Petén na Guatemala e nos vales de Chiapas foi baseada em um sistema agrícola altamente produtivo. Por volta do século VIII, os limites deste sistema, dado o tamanho da densidade populacional, devem ter sidos alcançados. Tikal tinha uma densidade populacional estimada de 116 pessoas por quilômetro quadrado. Manter os grandes centros populacionais era uma carga crescente. Doenças epidêmicas também podem ser consideradas como uma causa do colapso, talvez indicando algum contato imemorial com o Velho Mundo. Outros acreditam que os camponeses simplesmente se recusaram a tolerar as cargas de servidão e alimentação para as elites políticas e religiosas e que uma rebelião interna levou ao fim das dinastias governantes e de suas cidades.
As razões para o colapso da civilização clássica permanecem obscuras, mas o período estava claramente terminando, e enquanto uns poucos centros continuaram a ser ocupados por invasores e algumas tradições persistiam, as realizações culturais do período clássico não voltaram a ocorrer novamente. A contagem de longa duração terminou, o culto das estelas cessou e a qualidade da cerâmica e as realizações arquitetônicas declinaram. Mas enquanto os grandes centros maias dos vales do sul e das regiões montanhosas eram abandonados ou entravam em declínio, as cidades maias no Iucatã e nas áreas montanhosas guatemaltecas se expandiam e continuavam algumas das tradições, junto com influências culturais consideráveis do México central. Famílias governantes mexicanizadas se estabeleceram em Chichén Itzá e em outras cidades do Iucatã, e grupos maias mexicanizados do litoral do golfo penetraram no sul da região maia. A área norte maia foi capaz de acomodar estas influências e de criar uma nova síntese das culturas maia e do centro do México. Nas grandes cidades maias meridionais, como Tikal, Palenque e Quiriguá tais acomodações não foram feitas e a floresta tropical logo invadiu os templos e palácios.
Depois de 1000, um dos novos grupos que ocupou o platô central após a queda de Teotihuacán, os toltecas falantes de nahuatl, estabeleceram o controle político sobre um grande território e com o tempo estenderam sua influência ao território maia. Seu espírito parece ter sido militar, e a maior parte de sua cultura derivava das tradições clássicas. A partir da capital em Tula no México central, a influência e o comércio toltecas devem ter se disseminado a regiões tão distantes quanto o sudoeste norte-americano, onde o povo anasazi, ancestral dos índios pueblos, produzia belas cerâmicas e cultivava milho nos vales desertos. Em Iucatã, as famílias governantes alegavam descender de invasores toltecas. Até mesmo quando o império tolteca caiu por volta de 1200, as tradições culturais da Mesoamérica não morreram, porque estados imperiais e civilização não necessariamente andam juntos. Finalmente, contudo, um novo poder – os astecas – surgiu no planalto central mexicano. Os astecas iniciaram então outro ciclo de expansão baseado nos modos de vida já profundamente enraizados da Mesoamérica.

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