terça-feira, 19 de julho de 2011

Américas antes de Colombo - Parte 7: ascensão asteca


A ascensão asteca ao poder
O Império Tolteca durou até cerca de 1150, quando foi aparentemente destruído por invasores nômades vindos do norte e que também parecem ter saqueado Tula em torno da mesma data. No período após a queda de Tula, o centro do poder populacional e político no México central se transferiu para o vale do México e principalmente para as margens da grande cadeia de lagos naquela bacia. Os três grandes lagos eram ligados por pântanos; juntos, eles forneciam um rico ambiente aquático. Enquanto os lagos orientais tendiam a ser salgados por causa dos minerais que os rios próximos neles despejavam, os do sul e do oeste continham água fresca. As margens dos lagos eram salpicadas de assentamentos e vilas. Uma densa população vivia em torno desses lagos para tirar proveito de suas águas vivificantes para a agricultura, dos peixes, plantas e animais aquáticos e das vantagens para o transporte. Dos aproximadamente 7.800 km² da bacia no vale, cerca de 1.040 km² estavam debaixo d’água.
Os lagos se tornaram o centro cultural e populacional do México no período pós-clássico. No instável mundo da Mesoamérica pós-toltecas, vários povos e cidades manobravam pela supremacia sobre os lagos e pelas vantagens que eles ofereciam. Os vencedores dessa disputa, os astecas, com o tempo construíram um grande império, mas quando eles surgiram na cena histórica, eram os mais improváveis candidatos ao poder.
A partir de suas origens obscuras, a ascensão asteca (ou, como eles chamavam a si próprios, mexica) ao poder e a formação de um estado imperial foi tão espetacular quanto rápido. De acordo com algumas de suas lendas, os mexicas antes habitavam o vale central e conheciam a agricultura e a vida “civilizada”, mas então viviam no exílio, no norte, num lugar chamado Aztlan (do qual deriva o nome asteca). Isto deve ser um exagero pelo desejo de reivindicar uma herança distinta. Outras fontes indicam que os astecas eram simplesmente umas das tribos nômades que usaram a anarquia política, após a queda dos toltecas, para penetrar na área habitada pelos povos agrícolas sedentários. Como os antigos egípcios, os astecas reescreveram a história de forma que se adaptasse aos seus propósitos. Seu governante Itzcóatl (1427-1440) ordenou que todos os livros antigos fossem destruídos e a história fosse reescrita de uma maneira mais favorável à versão “oficial” asteca. Observadores posteriores, espanhóis e indígenas, escreveram com seus pontos de vista próprios. Dessa forma, é difícil juntar as partes da história e eliminar parcialidades intencionais, manipulações políticas e reescritos posteriores, mas com a ajuda da arqueologia e da etnohistória, ou o uso de técnicas antropológicas pelos historiadores, é possível esquematizar as principais características da vida e da história asteca.
O que parece claro é que os astecas eram um grupo de cerca de 10.000 pessoas que migrou para as margens do lago Texcoco no vale central do México por volta de 1325. Após a queda do Império Tolteca, o vale central era habitado por uma mistura de povos – migrantes chichimecas do noroeste e vários grupos de agricultores sedentários. Estes povos estavam divididos em pequenas unidades políticas que reclamavam autoridades maiores ou menores com base em seus poderios militares e suas conexões com a cultura tolteca ou com descendentes toltecas. Muitos desses povos falavam nahuatl, a língua que os toltecas falavam. Os astecas também falavam essa língua, um fato que fez sua ascensão ao poder e suas eventuais reivindicações por legitimidade mais aceitáveis.
Neste período, a área em volta do lago era dominada por várias tribos organizadas em cidades-estado. A cidade de Azcapotzalco era o poder verdadeiro, mas era desafiada por uma aliança centralizada na cidade de Texcoco. Outra cidade, Culhuacán, que fizera parte do Império Tolteca, usava sua herança como herdeira legítima dos toltecas como um meio de criar alianças através do casamento de seus príncipes e princesas com estados mais poderosos, porém menos eminentes. Este era um mundo de manobras políticas e casamentos de estado, potências concorrentes e alianças mutáveis.
Um grupo intrusivo e militante, como os astecas, era desacreditado e malvisto pelos poderes dominantes da região, mas suas habilidades em combate poderiam ser aproveitadas, e isto os tornava atrativos como mercenários ou aliados. Por cerca de um século, os astecas vagaram em torno das margens do lago, recebendo permissão para se estabelecer por um tempo até serem expulsos por vizinhos mais poderosos. Uma aliança com Culhuacán fracassou quando em vez de organizar um casamento real com uma princesa a eles enviada por essa cidade, os astecas a executaram como uma oferenda aos seus deuses.
Em um período de militarismo e guerras, os astecas tinham a reputação de guerreiros tenazes e seguidores fanáticos de seus deuses, a quem eles ofereciam sacrifícios humanos contínuos. Esta reputação fez deles valorosos e temidos. Suas próprias lendas profetizavam que suas andanças terminariam quando eles avistassem uma águia empoleirada sobre um cacto com uma serpente em seu bico. Supostamente, este sinal foi visto em uma ilha pantanosa no lago Texcoco e nessa ilha e em uma próxima, os astecas se estabeleceram. A cidade de Tenochtitlán foi fundada por volta de 1325 e, na ilha vizinha, a cidade de Tlatelolco foi estabelecida imediatamente depois. As duas cidades com o tempo cresceram juntas, embora mantivessem administrações separadas.
A partir desta base segura, os astecas começaram a exercer uma função mais ativa na política regional. Azcapotzalco e Texcoco estavam em guerra e os astecas começaram a servir a primeira como mercenários. Esta aliança trouxe prosperidade aos astecas, especialmente para seus governantes e para sua nobreza guerreira, que agora estava recebendo terras e tributos das vilas conquistadas. Todavia, por volta de 1428, os astecas se rebelaram contra Azcapotzalco e se uniram a Texcoco, destruindo a cidade de seus antigos aliados. A partir dessa vitória, os astecas surgiram como um poder independente. Em 1434, Tenochtitlán, Texcoco e uma cidade menor, Tlacopán, juntaram-se em uma tríplice aliança que exercia controle sobre a maior parte do platô central. Nezhualcoyotl, o rei filósofo de Texcoco (1434-1472), usava seu prestígio pessoal e sabedoria política para manter certo equilíbrio na aliança, mas na realidade, Tenochtitlán e os astecas dominavam seus aliados e controlavam a maior parcela dos tributos e das terras tomadas.

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