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terça-feira, 28 de junho de 2011

Paranthropus

Os australopitecinos robustos, membros do extinto gênero hominíneo Paranthropus (do grego para “ao lado” e anthropos “humano”), eram hominídeos bipedais que provavelmente descendiam dos australopitecinos gráceis (Australopithecus).
Todas as espécies de Paranthropus até aqui descobertas eram bipedais, e muitas viveram numa época em que espécies do gênero Homo (que possivelmente também descendiam dos Australopithecus) eram prevalentes. O Paranthropus apareceu primeiramente conforme o registro fóssil há aproximadamente 2,7 milhões de anos. A maioria das espécies de Paranthropus tinha um cérebro com cerca de 40% do tamanho daqueles dos humanos modernos. Havia certa diferenciação entre as diferentes espécies de Paranthropus, mas a maioria media aproximadamente 1,3 metros de altura e eram bastante musculosos. Acredita-se que tenham vivido em áreas arborizadas em vez das savanas habitadas pelos Australopithecus.
O comportamento do Paranthropus era bastante diferente daqueles do gênero Homo, na medida em que não eram tão adaptáveis ao seu meio ambiente ou capazes de lidar com dificuldades. Evidências disso existem na forma de sua fisiologia, que era especificamente direcionada a uma dieta de raízes e plantas. Isto o teria tornado mais dependente de condições ambientais favoráveis que os membros do gênero Homo, como o Homo habilis, que aparentemente se alimentavam de uma maior variedade de comida. Então, devido à baixa capacidade adaptativa, os Paranthropus se extinguiram sem deixar descendentes.
Em 2011, Thure E. Cerling e equipe, da Universidade de Utah, publicaram um estudo baseado no carbono do esmalte de 24 dentes de 22 indivíduos Paranthropus que viveram na África oriental entre 1,4 e 1,9 milhões de anos. Um tipo de carbono é produzido a partir de folhas de árvores, nozes e frutas, e outro de gramas e plantas gramíneas chamadas caniços. Seus resultados revelaram que o Paranthropus boisei ao contrário das teorias prévias, não comia nozes, mas se alimentava muito mais pesadamente de gramíneas que qualquer outro ancestral ou parente humano estudado até agora. Apenas uma espécie extinta de babuíno comia mais grama. Um dos coautores deste artigo é Meave Leakey, nora de Mary e Louis Leakey.

O biólogo evolucionário Richard Dawkins observa que “talvez várias diferentes espécies” de hominídeos robustos, “assim como suas afinidades e seu número exato de espécies são ardentemente controversas. Os nomes que foram ligados a várias dessas criaturas são Australopithecus (ou Paranthropus) robustus, Australopithecus (ou Paranthropus ou Zinjanthropus) boisei e Australopithecus (ou Paranthropus) aethiopicus”. Opiniões diferem quanto a se as espécies P. aethiopicus, P. boisei e P. robustus deveriam ser incluídas dentro do gênero Australopithecus. O surgimento dos robustos poderia ser uma mostra de evolução convergente ou divergente. Não há atualmente consenso na comunidade científica se as espécies de P. aethiopicus, P. boisei e P. robustus deveriam ser colocadas num gênero distinto, Paranthropus, que se acredita tenha evoluído de uma linha ancestral australopitecina. Até a metade da década passada, a maioria da comunidade científica incluía todas as espécies de Australopithecus e Paranthropus em um só gênero. Atualmente, os dois sistemas taxonômicos são usados e aceitos na comunidade científica. No entanto, embora Australopithecus robustus e Paranthropus robustus sejam intercambiáveis para os mesmos espécimes, alguns pesquisadores, como Robert Broom e Bernard A. Wood, acreditam que há uma diferença entre Australopithecus e Paranthropus, e que estes deveriam ser dois gêneros distintos.

A maior parte das espécies Australopithecus (A. afarensis, A. africanus, e A. anamensis) desapareceu do registro fóssil antes do surgimento dos primeiros humanos e aparentemente elas (ou uma delas) devem ter sido ancestrais do Homo habilis, já o P. boisei e o P. aethiopicus continuaram a evoluir ao longo de um caminho separado e desvinculado dos primeiros humanos. Os Paranthropus compartilharam a Terra com alguns dos primeiros membros do gênero Homo, como o H. habilis, o H. ergaster e possivelmente até mesmo o H. erectus. O A. afarensis e o A. anamensis tinham, na maior parte, desaparecido nessa época. Havia também diferenças morfológicas significativas entre Australopithecus e Paranthropus, embora as diferenças encontradas estivessem em vestígios cranianos. Os vestígios pós-cranianos ainda eram muito similares. Os Paranthropus tinham crânios e dentes mais robustos e tendiam a ostentar cristas sagitais cranianas semelhantes às dos atuais gorilas que ancoravam músculos temporais massivos para mastigação.

As espécies de Paranthropus tinham caixas cranianas menores que as do Homo, mas que eram maiores que as dos Australopithecus. O gênero Paranthropus é associado a ferramentas de pedra no sul e no leste da África, embora haja considerável debate se elas foram feitas e utilizadas por estes australopitecinos robustos ou por seus contemporâneos do gênero Homo. A maior parte da comunidade científica acredita que os primeiros Homo eram os fabricantes de ferramentas, mas fósseis de mãos encontrados em Swartkrans, na África do Sul, indicam que a mão do Paranthropus robustus já estava também adaptada para agarrar com precisão e para o uso de ferramentas. A maioria das espécies de Paranthropus parece quase certamente não ser capaz do uso da linguagem ou de ter controlado o fogo, embora eles estejam diretamente associados a este último em Swartkrans.

Um crânio parcial e uma mandíbula de Paranthropus robustus foram descobertos em 1938 por um estudante, Gert Terblanche, em Kromdraai (70 km a sudoeste de Pretória) na África do Sul. Ele foi descrito como um novo gênero e espécie por Robert Broom do Museu Transvaal. O sítio tem sido escavado desde 1993 por Francis Thackeray também do Museu Transvaal. Esse primeiro fóssil foi datado em pelo menos 1,95 milhões de anos.
O Paranthropus boisei foi descoberto por Mary Leakey em 17 de julho de 1959, no sítio da garganta de Olduvai na Tanzânia. Ela estava trabalhando sozinha, porque Louis Leakey estava adoentado. Em suas notas, Louis registrou um primeiro nome, Titanohomo mirabilis, refletindo a sua impressão inicial de afinidade humana próxima. Louis e Mary passaram a chamá-lo de “Dear Boy”. Ele estava em um contexto com ferramentas olduvaienses e ossos de animais. A descrição do fóssil foi publicada na Nature de 15 de agosto de 1959. Nela Louis colocou o fóssil na família australopitecina, criando um novo gênero para ele, Zinjanthropus, espécie boisei. “Zinj” é uma antiga palavra árabe para a costa leste da África e “boisei” era uma referência a Charles Boise, um benfeitor antropológico dos Leakeys. Louis tinha considerado o gênero de Broom, Paranthropus, mas o rejeitou porque acreditava que Zinj fosse ancestral do gênero Homo, mas o fóssil descoberto na África do Sul não.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Linguagem e fabricação de ferramentas se desenvolveram juntas

O avanço evolucionário viu os humanos da idade da pedra dominarem a arte de fabricação de ferramentas manuais e pavimentou o caminho para a linguagem se desenvolver.
Pesquisadores dizem que os humanos primitivos estavam
limitados pelo cérebro e não pela habilidade manual
quando fabricavam ferramentas de pedra.
Fotografia: David Sillitoe/Guardian
Os humanos da idade da pedra dominaram a arte de fabricação de elegantes ferramentas manuais em um avanço evolucionário que estimulou potente cérebro e potencialmente pavimentou o caminho para a linguagem, segundo os pesquisadores.
O projeto de ferramentas de pedra se modificou radicalmente na pré-história humana, começando há mais de dois milhões de anos com lâminas afiadas mais primitivas, e culminando com machados de mão primorosa e perfeitamente afiados há 500.000 anos.
O desenvolvimento de ferramentas de pedra sofisticadas, incluindo objetos cortantes robustos e bordas de serra, é considerado um momento chave na evolução humana, porque ele prepara o terreno para uma melhor nutrição e comportamentos sociais avançados, tais como a divisão do trabalho e a caça em grupo.
“Tem havido uma grande discussão na comunidade arqueológica sobre porque levou tanto tempo para se fabricar ferramentas de pedra mais complexas. Nós simplesmente não tínhamos a habilidade manual, ou não éramos espertos o bastante para pensar em técnicas melhores?” Foi o que disse Aldo Faisal, neurocientista do Imperial College de Londres.
A equipe de Faisal investigou a complexidade dos movimentos da mão usados por um artesão experiente enquanto ele fazia réplicas de ferramentas de pedra simples e depois mais complexas. Bruce Bradley, arqueólogo da Universidade Exeter, usou uma luva com sensores eletrônicos adaptados enquanto lascava pedras para fazer uma lâmina afiada e depois um machado manual mais sofisticado.
Os resultados mostraram que os movimentos necessários para fazer uma machado manual não eram mais difíceis que aqueles usados para fazer uma lâmina de pedra primitiva, sugerindo que humanos primitivos estavam limitados pela potência do cérebro e não pela habilidade manual.
Os humanos primitivos estavam adaptados para fazer lâminas de pedra, mas estas eram tão finas que poderiam se quebrar enquanto estavam sendo usadas. Os movimentos necessários para fabricar ferramentas avançadas não eram mais difíceis, mas tinham de ser executados mais inteligentemente, para produzir uma ferramenta que tivesse um corpo espesso e robusto com uma borda cortante afiada.
As ferramentas de pedra mais antigas e simples, conhecidas como lâminas olduvaienses, foram descobertas junto com vestígios fossilizados de Homo habilis, um provável ancestral dos humanos modernos, na garganta de Olduvai, Tanzânia. Machados manuais feitos de pedra foram descobertos próximos a ossos de Homo erectus, a espécie ancestral humana que conduziu a migração para fora da África. Machados manuais são normalmente fabricados simetricamente em ambos os lados em forma de lágrima.
O mapeamento cerebral de fabricantes de ferramentas de pedra modernos mostram que áreas chave no hemisfério direito do cérebro se tornam mais ativas quando eles passam da fabricação de lâminas para a fabricação de ferramentas mais avançadas. Curiosamente, algumas dessas regiões cerebrais estão envolvidas no processamento da linguagem.
“O avanço de ferramentas de pedras brutas para elegantes machados manuais foi um grande salto tecnológico para nossos primitivos ancestrais humanos. Machados portáteis eram ferramentas mais úteis para defesa, caça e trabalhos de rotina”, disse Faisal, cujo estudo aparece no periódico PLoS ONE. “Nosso estudo reforça a ideia de que fabricação de ferramentas e linguagem se desenvolveram juntas porque ambas requeriam pensamentos mais complexos, fazendo do final do paleolítico inferior uma época central na nossa história. Após esse período, os humanos primitivos deixaram a África e começaram a colonizar outras partes do mundo”.

sábado, 11 de junho de 2011

Dedo fossilizado aponta para um grupo previamente desconhecido de parentes humanos

Os ‘denisovanos’ compartilharam a Ásia com Neandertais e humanos modernos há 30.000 anos. É o que mostra a análise de DNA do dedo.
Dente molar encontrado na caverna Denisova.
Fotografia: David Reich et al/Nature
Um pequeno dedo fossilizado descoberto numa caverna nas montanhas do sul da Sibéria pertenceu a uma jovem garota de um grupo desconhecido de humanos arcaicos, disseram os cientistas.
Acredita-se que os parentes humanos desconhecidos tenham habitado a maior parte da Ásia muito recentemente – há apenas 30.000 anos – e, dessa forma, dividiram o território com os primeiros humanos modernos e os Neandertais.
A descoberta pinta um quadro complexo da história humana no qual nossos ancestrais deixaram a África há 70.000 anos para encontrar outros parentes distantes, além dos troncudos Neandertais.
Os novos ancestrais foram denominados “denisovanos”, a partir do nome da caverna Denisova nos montes Altai do sul da Sibéria, onde o osso do dedo foi desenterrado em 2008. Os trabalhadores de campo escavando o sítio encontraram várias ferramentas de pedra e ossos que sugerem que a caverna foi ocupada por humanos primitivos por 125.000 anos.
Um grande dente molar, medindo em torno de 1,5 cm em cada lado e encontrado no sítio em 2000, também pertence a um indivíduo denisovano. O dente adulto era muito grande para pertencer a um humano moderno ou Neandertal, mas similar aos molares vistos nos mais primitivos Homo habilis e Homo erectus.
Pesquisadores liderados por Svante Pääbo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, realizaram testes genéticos no dedo fossilizado e descobriram que os denisovanos compartilharam um ancestral comum com os Neandertais.
A maior surpresa veio quando a equipe comparou o DNA dos denisovanos com o dos humanos modernos. Essa comparação revelou que os denisovanos tinham material genético em comum com populações modernas de Papua-Nova Guiné, devido ao intercruzamento com ancestrais dos melanésios. Anteriormente, o grupo de Pääbo havia divulgado evidências de intercruzamento entre Neandertais e os ancestrais dos não africanos vivos atualmente.
“O interessante é que no momento em que existiam Neandertais na Eurásia ocidental, havia esse outro grupo com uma história distinta que presumivelmente estava espalhado no leste da Ásia”, disse Pääbo ao Guardian. “Nós agora estamos começando a obter um quadro mais compreensivo deles. Nós queremos saber: quem era esse povo arcaico e o que os humanos modernos encontraram quando saíram da África?”
Pääbo decidiu não nomear o grupo como uma nova espécie humana para evitar disputas acadêmicas sobre se eles representam uma espécie separada ou não. “Até mesmo para Neandertais, onde temos mais resquícios que de qualquer outro grupo, os paleontólogos ainda podem não concordar se eles são uma espécie ou uma subespécie. É uma discussão acadêmica estéril porque nunca haverá uma definição e eu não quero entrar nela”, disse ele.
A ligação entre os denisovanos e os melanésios modernos foi completamente inesperada e mostra que os denisovanos devem ter vivido muito além da Sibéria, adicionou Pääbo. “Isto nos conta que humanos modernos tiveram bebês não apenas com Neandertais, mas também com denisovanos, e estas crianças foram incorporadas a grupos humanos ancestrais e contribuíram para a nossa existência atualmente. Isto é fascinante. Há dois grupos arcaicos que continuam a existir em nós hoje em dia e provavelmente mais”, disse Pääbo. O estudo foi divulgado na Nature.
Em março de 2010, os mesmos pesquisadores extraíram DNA mitocondrial do osso do dedo. As mitocôndrias são as usinas de força das células e contêm DNA que é passado apenas pela linha feminina. Estes testes deram as primeiras pistas de que o dedo vinha de um grupo de humanos desconhecido.
Richard Green, coautor do trabalho, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, disse: “A história agora fica um pouco mais complicada. Em vez da história ordenada que nós estávamos acostumados a ter de humanos modernos migrando para fora da África e substituindo os Neandertais, agora nós vemos estas linhas de história bastante entrelaçadas com muito mais atores e mais interações do que sabíamos antes”.
Os paleontólogos aguardam por escavações futuras na caverna Denisova para recuperar mais vestígios fósseis dos denisovanos. Alguns fósseis talvez já sejam observados despercebidamente em coleções de museus ao redor do mundo.
“Há muitos fósseis disponíveis que são enigmáticos. Ninguém realmente sabe o que eles são. Pode ser que muitos deles sejam de denisovanos, mas o único jeito de saber seria extrair DNA desses fósseis, mostrar que eles estão relacionados ou foram escavados na caverna Denisova e achar mais ossos de forma que possamos compará-los com outros fósseis. Os denisovanos talvez não sejam tão desconhecidos como pensamos”, disse Pääbo.
(A partir de texto da Science)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ferramentas de pedra descobertas na Arábia forçam os arqueólogos a repensar a história humana

As ferramentas encontradas no sul da Arábia datam de 125.000 anos atrás - 55.000 anos antes do que se pensava quanto aos humanos terem saído da África.
Machados manuais de pedra pertencentes a humanos que
viveram na Arábia há mais de 100.000 anos.
Fotografia: AAAS/Science/PA

Um conjunto espetacular de ferramentas de pedra descobertas embaixo de um abrigo de rocha desmoronado no sul da Arábia obrigou a uma importante reflexão da história da migração humana para fora da África. A coleção de machados manuais e outras ferramentas modeladas para cortar, furar e lixar trazem a marca das primeiras manufaturas humanas, mas datam de 125.000 anos atrás, cerca de 55.000 anos antes do que se acreditava nossos ancestrais terem deixado o continente.
Os artefatos, descobertos nos Emirados Árabes Unidos, apontam para uma dispersão muito anterior dos antigos humanos, que provavelmente tomaram um atalho partindo do Chifre da África para a península Arábica cruzando um canal raso no mar Vermelho que se tornou transitável no final de uma idade do gelo. Um vez estabelecidos, estes pioneiros devem ter prosseguido através do golfo Pérsico, talvez alcançando a Índia, a Indonésia e até mesmo a Austrália.
Michael Petraglia, arqueólogo da Universidade de Oxford, que não esteve envolvido no trabalho, disse à revista Science: "isto é realmente espetacular. Destrói o apoio da atual visão de consenso".
Os humanos anatomicamente modernos - aqueles semelhantes às pessoas vivas atualmente - evoluíram na África há cerca de 200.000 anos. Até agora, a maior parte da evidência arqueológica tem apoiado um êxodo a partir da África ou várias ondas de migrações, ao longo da costa mediterrânea ou do litoral árabe entre 80.000 e 60.000 anos atrás.
Uma equipe liderada por Hans-Peter Uerpmann da Universidade de Tübingen na Alemanha descobriu as mais antigas ferramentas de pedra enquanto escavavam sedimentos na base de uma protuberância desmoronada localizada numa montanha calcária chamada Jebel Faya, localizada a cerca de 55 km do litoral do golfo Pérsico. Escavações anteriores no sítio tinha encontrado artefatos da dos períodos do ferro, bronze e neolítico, evidência de que a formação rochosa forneceu milênios de abrigo natural para os humanos.
O grupo de ferramentas inclui pequenos machados manuais e lâminas bilaterais que são consideravelmente similares àquelas fabricadas pelos primeiros humanos no leste da África. Os ppesquisadores temporariamente rejeitaram a possibilidade de outros hominíneos terem feito as ferramentas, tais como os neandertais que já ocupavam a Europa e norte da Ásia, mas que não estavam na Arábia na época.
As pedras, uma forma de rocha rica em sílica chamada sílex córneo, foram datadas por Simon Armitage, um pesquisador da Royal Holloway, da Universidade de Londres, usando uma técnica que mede até onde os grãos de areia em volta dos artefatos foram queimados. Outra parte do trabalho dos arqueólogos, descrito na Science, concentrou-se nos registros de mudanças climáticas e no histórico do nível do mar na região. Eles mostram que, entre 200.000 e 130.000 anos atrás, uma idade do gelo global causou quedas nos níveis dos mares em até 100 metros, enquanto os desertos do Saara e da Arábia se expandiram em regiões vastas, desoladas e inóspitas.
Mas à medida que o clima esquentou no final da idade do gelo, chuvas refrescantes caíam sobre a Arábia, tornando a região acessível à ocupação humana. " O interior antes árido da Arábia teria sido tranformado em uma paisagem amplamente coberta de savanas, com sistemas de abrangentes de rios e lagos", disse Adrian Parker, pesquisador da Universidade Oxford Brookes e coautor do artigo.
A revitalização da Arábia coincidiu com registros de baixos níveis do mar, que deixou apenas uma faixa rasa de água de cerca de cinco quilômetros no estreito de Bab al Mandab que separa o leste da África da península Arábica. Uerpmann disse qie os primeiros humanos caminhado ou atravessado com dificuldade, mas acrescentou: "Eles poderiam ter usado jangadas ou canoas, que eles certamente poderiam fazer na época".
Os recém-chegados teriam encontrado bons campos de caça no final de sua jornada, abundante em asnos selvagens, gazelas e cabritos monteses, disse Uerpmann.
A descoberta estimulou o debate entre os arqueólogos, alguns dos quais dizem que é preciso evidências mais fortes para das suporte às afirmações dos perquisadores. "Eu não estou totalmente convencido", disse à Science o arqueólogo da Universidade de Cambridge, Paul Mellars. "Não há aqui um pedaço de evidência de que estas ferramentas tenham sido feitas por humanos modernos, nem que eles tenham vindo da África".
Chris Stringer, paleontólogo do Museu de História Natural de Londres, disse: "A região da Arábia tem sido terra incognita na tentativa de mapear a dispersão dos humanos modernos a partir da África durante os últimos 120.000 anos, levando a muita teorização frente a poucos dados".
"Apesar da desconcertante falta de diagnóstico da evidência fóssil, este trabalho fornece sinais importantes de que os primeiros humanos modernos talvez tenham se dispersado a partir da África através da Arábia, até o estreito de Ormuz, há 120.000 anos".

(Fonte: Science)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ossos descobertos empurram para o passado em mais 1 milhão de anos data para o primeiro uso de ferramentas de pedra

Os ossos foram encontrados próximos ao sítio de "Lucy", provável ancestral humana, que viveu há 3,2 milhões de anos.


Marcas em ossos animais sugerem que os ancestrais humanos usavam pedras para cortar carne Há 3,4 milhões de anos. Fotografia: Dikka Research Project/PA

Os ancestrais dos primeiros humanos usavam ferramentas de pedra para remover a carne de carcaças animais aproximadamente 1 milhão de anos antes do que se pensava.
Os arqueólogos revisaram a data depois de identificar cortes distintivos e marcas de esmagamento feitos por ferramentas de pedra em ossos de animais datando de 3,4 milhões de anos.
Os restos, incluindo uma costela de uma criatura semelhante a uma vaca e um osso da coxa de um animal do tamanho de uma cabra, foram recuperados de sedimentos do leito de um rio em Dikka, na região de Afar no norte da Etiópia durante uma expedição realizada em janeiro de 2010.
As marcas mostram onde as ferramentas de pedra foram usadas para cortar e raspar a carne das carcaças e onde os ossos foram esmagados para expor a nutritiva medula interna.
A descoberta sugere que a carne estava no menu a muito tempo em nossa história evolucionária, muito tempo antes do surgimento da primeira espécie humana, o Homo habilis, 2,3 milhões de anos atrás.
"Nós estavamos apenas caminhando quando descobrimos os dois ossos", disse Shannon McPherron, arqueóloga do Instituto Max Planck para Antropologia Evolucionária em Leipzig. "Nós erguemos o fragmento de costela e sobre ele havia estas duas marcas. Logo depois, encontramos o segundo osso, também com um monte de marcas. Imediatamente soubemos que tinhamos encontrado algo potencialmente importante".
Até agora, a evidência mais antiga do uso de ferramentas de pedras era um grupo de mais de 2.600 lascas de pedra com idade estimada em 2,5 milhões que foi desoberto em outra parte da Etiópia em 1997. Estas ferramentas foram lascadas para fazer lâminas de corte afiadas, mas em Dikka, as pedras foram provavelmente usadas da forma que foram encontradas.
Os ossos descarnados foram descobertos próximos a onde o esqueleto de um provável ancestral humano, chamado Lucy, foi encontrado. Lucy pertencia à espécie chamada Australopithecus afarensis e viveu na região há aproximadamente 3,2 milhões de anos. Na época, a região era quente e úmida, com pedaços de savanas e áreas altamente florestadas povoadas com formas primitivas de girafas, macacos, elefantes e rinocerontes.
"Agora quando nós imaginarmos Lucy caminhando na paisagem africana oriental procurando por comida, nós podemos pela primeira vez vê-la com uma ferramenta de pedra na mão buscando por alimento", disse McPherron. O esqueleto de outra fêmea ainda criança, Selam, foi encontrado há 320 quilômetros dali.
A análise detalhada das marcas de corte sobre os ossos mostra que elas diferem substancialmente das marcas de dentes e garras que podem ser deixadas por predadores. Uma das marcas foi feita com um pequeno fragmento de pedra, de acordo com a Nature.
O uso de ferramentas de pedra simples para remover carne e tutano marca um momento crucial na história humana. À medida que os ancestrais dos primeiros humanos se voltavam para a carne como alimento, eles se habilitavam a ter cérebros maiores os quais por sua vez possibilitavam-lhes fazer ferramentas mais sofisticadas.
"Estes ossos talvez nos mostre o começo desse processo", disse Chris Stringer, chefe da área de origens humanas do Museu de História Natural de Londres.
"O que nós precisamos desses sítios agora são evidências das próprias ferramentas de pedra, de forma que nós possamos ver se elas foram manufaturadas ou eram pedras naturais que por acaso foram usadas para o desossamento da carne", complementou Stringer.
Lucy e outros de sua espécie provavelmente carregavam ferramentas de pedra naturais com eles para usar quando encontrassem um animal morto. "Não é uma coisa trivial deixar as árvores para trás, vaguear por essa paisagem aberta e começar a remover carne e tutano de uma carcaça. Estas mesmas carcaças atraíam carnívoros que viam estes primeiros hominíneos como comida,que dessa forma estavam encarando um grande risco", disse McPherron.
(Texto a partir da Science)