sábado, 11 de junho de 2011

Dedo fossilizado aponta para um grupo previamente desconhecido de parentes humanos

Os ‘denisovanos’ compartilharam a Ásia com Neandertais e humanos modernos há 30.000 anos. É o que mostra a análise de DNA do dedo.
Dente molar encontrado na caverna Denisova.
Fotografia: David Reich et al/Nature
Um pequeno dedo fossilizado descoberto numa caverna nas montanhas do sul da Sibéria pertenceu a uma jovem garota de um grupo desconhecido de humanos arcaicos, disseram os cientistas.
Acredita-se que os parentes humanos desconhecidos tenham habitado a maior parte da Ásia muito recentemente – há apenas 30.000 anos – e, dessa forma, dividiram o território com os primeiros humanos modernos e os Neandertais.
A descoberta pinta um quadro complexo da história humana no qual nossos ancestrais deixaram a África há 70.000 anos para encontrar outros parentes distantes, além dos troncudos Neandertais.
Os novos ancestrais foram denominados “denisovanos”, a partir do nome da caverna Denisova nos montes Altai do sul da Sibéria, onde o osso do dedo foi desenterrado em 2008. Os trabalhadores de campo escavando o sítio encontraram várias ferramentas de pedra e ossos que sugerem que a caverna foi ocupada por humanos primitivos por 125.000 anos.
Um grande dente molar, medindo em torno de 1,5 cm em cada lado e encontrado no sítio em 2000, também pertence a um indivíduo denisovano. O dente adulto era muito grande para pertencer a um humano moderno ou Neandertal, mas similar aos molares vistos nos mais primitivos Homo habilis e Homo erectus.
Pesquisadores liderados por Svante Pääbo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, realizaram testes genéticos no dedo fossilizado e descobriram que os denisovanos compartilharam um ancestral comum com os Neandertais.
A maior surpresa veio quando a equipe comparou o DNA dos denisovanos com o dos humanos modernos. Essa comparação revelou que os denisovanos tinham material genético em comum com populações modernas de Papua-Nova Guiné, devido ao intercruzamento com ancestrais dos melanésios. Anteriormente, o grupo de Pääbo havia divulgado evidências de intercruzamento entre Neandertais e os ancestrais dos não africanos vivos atualmente.
“O interessante é que no momento em que existiam Neandertais na Eurásia ocidental, havia esse outro grupo com uma história distinta que presumivelmente estava espalhado no leste da Ásia”, disse Pääbo ao Guardian. “Nós agora estamos começando a obter um quadro mais compreensivo deles. Nós queremos saber: quem era esse povo arcaico e o que os humanos modernos encontraram quando saíram da África?”
Pääbo decidiu não nomear o grupo como uma nova espécie humana para evitar disputas acadêmicas sobre se eles representam uma espécie separada ou não. “Até mesmo para Neandertais, onde temos mais resquícios que de qualquer outro grupo, os paleontólogos ainda podem não concordar se eles são uma espécie ou uma subespécie. É uma discussão acadêmica estéril porque nunca haverá uma definição e eu não quero entrar nela”, disse ele.
A ligação entre os denisovanos e os melanésios modernos foi completamente inesperada e mostra que os denisovanos devem ter vivido muito além da Sibéria, adicionou Pääbo. “Isto nos conta que humanos modernos tiveram bebês não apenas com Neandertais, mas também com denisovanos, e estas crianças foram incorporadas a grupos humanos ancestrais e contribuíram para a nossa existência atualmente. Isto é fascinante. Há dois grupos arcaicos que continuam a existir em nós hoje em dia e provavelmente mais”, disse Pääbo. O estudo foi divulgado na Nature.
Em março de 2010, os mesmos pesquisadores extraíram DNA mitocondrial do osso do dedo. As mitocôndrias são as usinas de força das células e contêm DNA que é passado apenas pela linha feminina. Estes testes deram as primeiras pistas de que o dedo vinha de um grupo de humanos desconhecido.
Richard Green, coautor do trabalho, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, disse: “A história agora fica um pouco mais complicada. Em vez da história ordenada que nós estávamos acostumados a ter de humanos modernos migrando para fora da África e substituindo os Neandertais, agora nós vemos estas linhas de história bastante entrelaçadas com muito mais atores e mais interações do que sabíamos antes”.
Os paleontólogos aguardam por escavações futuras na caverna Denisova para recuperar mais vestígios fósseis dos denisovanos. Alguns fósseis talvez já sejam observados despercebidamente em coleções de museus ao redor do mundo.
“Há muitos fósseis disponíveis que são enigmáticos. Ninguém realmente sabe o que eles são. Pode ser que muitos deles sejam de denisovanos, mas o único jeito de saber seria extrair DNA desses fósseis, mostrar que eles estão relacionados ou foram escavados na caverna Denisova e achar mais ossos de forma que possamos compará-los com outros fósseis. Os denisovanos talvez não sejam tão desconhecidos como pensamos”, disse Pääbo.
(A partir de texto da Science)

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