sexta-feira, 10 de junho de 2011

O rei Tut foi sepultado às pressas?

Novas pesquisas sugerem que o jovem faraó Tutancâmon deve ter sido sepultado apressadamente em sua luxuriosa tumba após sua morte prematura há 3.300 anos – talvez até mesmo antes que a pintura de sua câmara sepulcral tivesse secado. O microbiologista de Harvard Ralph Mitchell chegou a essa conclusão depois de determinar que micróbios há muito tampo mortos são responsáveis pelas manchas marrom-escuras que cobrem as paredes exuberantemente decoradas do lugar.
Uma pintura da parede norte da tumba de Tutancâmon.
Fotografia: National Geographic/Getty Images


O rei menino do Antigo Egito se tornou faraó aos nove anos e governou por uma década entre 1333 e 1324 AEC. Relativamente obscuro durante a sua vida, Tutancâmon se tornou um nome familiar em 1922, quando o arqueólogo Howard Carter encontrou sua extraordinária tumba no Vale dos Reis no Egito. Apesar de vários roubos aparentes a sepulturas, a tumba estava repleta de riquezas e antigos tesouros, inclusive joias, relicários dourados e uma máscara funerária de ouro maciço. A descoberta estimulou a fascinação pela egiptologia no mundo inteiro no geral e por Tutancâmon em particular.
Desde então, os especialistas se confundem sobre as circunstâncias envolvendo a morte prematura de Tutancâmon. Várias possíveis causas têm sido apresentadas, incluindo crime, gangrena e a condição genética conhecida como ginecomastia, um desequilíbrio hormonal que dá aos indivíduos masculinos aparência feminina. Recentemente, testes de DNA e mapeamentos por tomografia computadorizada da múmia do rei Tut levaram um grupo de pesquisadores a concluir que o faraó de 19 anos sucumbiu a uma combinação fatal de malária, uma perna quebrada e uma doença óssea. E no último outono do hemisfério norte, um egiptólogo da Universidade do Estado da Califórnia adicionou uma nova e incomum teoria à mistura, sugerindo que o rei adolescente sucumbiu à mordida letal de um furioso hipopótamo.
Após completar um estudo planejado não para revelar o mistério da morte do rei Tut, mas para resgatar sua lendária tumba da ruína, o microbiologista de Harvard Ralph Mitchell deve ter inconscientemente preenchido alguns dos detalhes. Além de descascar a pintura e rachar as paredes, peculiares pontos marrom-escuros estragam as antigas superfícies da câmara sepulcral de Tutancâmon, manchando seus elaborados afrescos e hieróglifos. Em 2009, para verificar a natureza e a origem dessas manchas, o Conselho Supremo de Antiguidades do Egito solicitou a ajuda do Instituto de Conservação Getty, uma organização de pesquisa que trabalha para preservar a herança cultural através da ciência. O grupo recebeu a tarefa de determinar se as manchas eram um sinal inevitável de deterioração, o resultado de turistas se amontoando por décadas na caverna úmida ou possivelmente até mesmo um risco à saúde. A tumba já teve uma visitação diária de mais de 4.000 visitantes, um número que agora está limitado a 1.000 pelas autoridades egípcias.
O instituto rapidamente se voltou para Mitchell, que é especializado na biodeterioração de prédios, monumentos e artefatos antigos. Mitchell ajudou a proteger alguns dos mais preciosos e vulneráveis tesouros do mundo durante sua longa carreira, incluindo os trajes espaciais durante o programa Apollo, que foram infestados por um pernicioso bolor negro, e vários sítios arqueológicos maias. Trabalhando com químicos do Getty e com seu próprio grupo de pesquisadores, Mitchell usou análise molecular e sequenciamento de DNA para avaliar as manchas negras.
A equipe identificou melanina, um subproduto do metabolismo de fungos ou bactérias e desse modo fortes evidências de que micróbios mortos há muito tempo deixaram suas marcas no lugar de descanso final do rei Tut. Fotografias tiradas quando a tumba foi aberta pela primeira vez em 1922 revelaram que as manchas não cresceram ou se proliferaram por anos, outra indicação de que os antigos organismos não estão mais ativos – e, como resultado, não são uma ameaça ao sítio ou aos seus visitantes.
Mitchell e seus colegas ainda não indicaram o micróbio específico que causou as manchas, mas sua própria existência deve trazer luz sobre a história do funeral do jovem faraó há cerca de 3.300 anos. “O rei Tutancâmon morreu jovem, e nós acreditamos que a tumba foi preparada às pressas”, explicou Mitchell. “Nós estamos supondo que as paredes pintadas não estavam secas quando a tumba foi selada”. A umidade da tinta, junto com o corpo recentemente mumificado e oferendas de comida tipicamente sepultadas com o morto, teriam criado o ambiente ideal para o crescimento microbiano.
Como o dano não pode ser revertido e os pontos negros são de tal forma uma característica única da tumba, os conservadores não estão propensos a removê-los de suas paredes, Disse Mitchell. “Isto é parte do mistério da tumba”, explicou ele. Agora, cabe a egiptólogos e outros historiadores antigos interpretarem esta nova peça de evidência e desvelar como ela se encaixa no quebra-cabeça milenar da morte do rei Tut.

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