quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sudário de Turim: o trabalho de um artista do Renascimento?

O historiador de arte italiano Luciano Buso tem uma nova e original teoria sobre o Sudário de Turim, o controverso tecido de pouco mais de quatro metros de comprimento no qual algumas pessoas acreditam que Jesus Cristo foi envolto ao ser sepultado. Ao invés de considerar a surrada relíquia de linho – que talvez esteja entre os artefatos mais estudados no mundo – como uma fraude, ele sugeriu em recentes entrevistas e em um livro que uma versão autêntica realmente existiu em algum momento da história. Contudo, passados 1.300 anos, ele se desintegrou tanto que a Igreja Católica pediu ao famoso pintor renascentista Giotto di Bondone para criar uma réplica exata, de acordo com a hipótese de Buso. O original, nesse ínterim, ou se esfarelou, ou foi perdido ou queimado.
Por séculos, cientistas e historiadores se dedicaram ao misterioso Sudário de Turim, uma peça de linho manchada de sangue que exibe o esboço desbotado de um homem crucificado, esperando decifrar o que a imagem representa e como ela foi criada. A primeira referência documentada da relíquia data do século XIV, e registros históricos sugerem que ela mudou de mãos muitas vezes até 1578, quando chegou à sua atual residência na catedral de São João Batista em Turim, Itália. Enquanto a Igreja Católica nunca tomou uma posição oficial sobre a autenticidade do tecido, o Vaticano produziu relatos atestando seu valor e organizou várias exibições públicas, a mais recente na primavera (outono no Brasil) de 2010.
O advento da fotografia no final do século XIX alterou para sempre o curso da história do sudário. Em 1898, um advogado chamado Secondo Pio tirou a primeira fotografia conhecida do pano, e o seu negativo revelou novos detalhes, incluindo impressionantes traços do rosto claramente visíveis. O interesse científico na relíquia iniciou-se imediatamente. Em 1902, o anatomista francês Yves Delage, um agnóstico, inspecionou as fotografias e declarou que a figura no sudário era realmente Jesus Cristo. As primeiras análises diretas do tecido foram conduzidas na década de 1970, mais notoriamente pelo Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim, uma equipe de cientistas liderada pelo físico John P. Jackson da Universidade do Colorado. O grupo descobriu que as marcas no tecido eram consistentes com um corpo crucificado e que as manchas eram de sangue humano verdadeiro; eles também sugeriram que os padrões sombreados da imagem continham informação tridimensional. Contudo, eles não puderam explicar como a impressão foi feita sobre o tecido.
Em 1988, os cientistas removeram um pedaço do sudário para testes de radiocarbono. Três laboratórios independentes concluíram que o material se originou entre 1260 e 1390, levando alguns a considerá-lo não autêntico. Desde então, todavia, estudos posteriores colocaram estas descobertas em questão, sugerindo que os pesquisadores inadvertidamente testaram material que foi enxertado sobre o sudário original durante reparos feitos na Idade Média. Outras análises, muitas das quais mostraram resultados controversos e conflitantes, concentraram-se na origem geográfica de traços de pólen e partículas de sujeira detectados no tecido.
Buso não é o primeiro especialista a teorizar que o sudário pode ter sido o trabalho de um artista. Em maio de 2010, por exemplo, o cientista americano Gregory S. Paul publicou um estudo alegando que o esboço da cabeça menor do que o normal e comprimentos dos braços desiguais eram inconsistentes com proporções saudáveis de um humano moderno. Ele lançou a hipótese de que um artista amador gótico com poucos conhecimentos anatômicos tinha pintado o tecido e o transmitiu como uma relíquia genuína. Em 2009, a artista americana Lillian Schwartz declarou que Leonardo da Vinci tinha intencionalmente falsificado o Sudário de Turim para iludir seus contemporâneos, usando primitivas técnicas de fotografia e uma escultura de seu próprio rosto para produzir a misteriosa imagem.

"Beijo de Judas", afresco de Giotto
na Cappella degli Scrovegni em
Pádua, Itália.
Buso acredita que Giotto, um mestre da pintura mais conhecido por decorar a elaborada Cappella degli Scrovegni em Pádua, Itália, nunca intencionou enganar os crentes e até mesmo usou o sudário real do sepultamento de Jesus como seu modelo. Ele alega ter detectado a assinatura do artista e vários desenhos enfraquecidos do número 15 – uma referência, em seu ponto de vista, ao ano que Giotto criou a réplica – escondidas nas mãos e na face da figura. “(Giotto) não estava tentando falsificar nada, o que está claro por ele ter assinado... para autenticar como um trabalho seu de 1315”, disse Buso ao Daily Mail.


Investigações anteriores falharam em desvelar as várias marcas de Giotto no tecido porque elas foram feitas com padrões de pinceladas ocultas quase invisíveis a olho nu, Disse Buso. Ele também apontou que sua teoria coloca a origem do artefato diretamente dentro da janela de tempo indicada pelas análises de radiocarbono de 1988. A hipótese de Buso foi recebida com crítica, inclusive por Bruno Barberis, diretor do Museu do Santo Sudário de Turim. Um fiel determinado da autenticidade do artefato, Barberis disse ao Daily Telegraph que testes físicos e químicos já comprovaram que o sudário não é uma pintura.

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