Mostrando postagens com marcador Inglaterra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Inglaterra. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 21 de junho de 2011

Colônia de Jamestown

Em 14 de maio de 1607, um grupo de aproximadamente 100 membros de um empreendimento chamado Companhia da Virgínia fundou a primeira povoação inglesa na América do Norte, às margens do rio James. Fome, doenças e conflitos com tribos nativas americanas locais nos dois primeiros anos levaram Jamestown à beira do fracasso, antes da chegada de um novo grupo de colonos e suprimentos em 1610. O tabaco se tornou o primeiro produto de exportação rentável da Virgínia, e um período de paz se seguiu ao casamento do colono John Rolfe com Pocahontas, a filha de um chefe algonquiano. Durante a década de 1620, Jamestown se expandiu a partir da área original em torno do Forte James em uma nova cidade construída a leste; ela permaneceu como capital da colônia da Virgínia até 1699.
Após a histórica viagem de Cristóvão Colombo em 1492, Espanha e Portugal dominaram a corrida para estabelecer colônias nas Américas, enquanto os esforços ingleses, como a “colônia perdida” de Roanoke (1587), fracassaram. Em 1606, o rei Jaime I concedeu um alvará a uma nova empresa, a Companhia da Virgínia, para formar um assentamento na América do Norte. Na época, Virginia era o nome inglês para todo o litoral oriental da América do Norte, a norte da Flórida; O nome foi dado em homenagem a Elizabeth I, “a rainha virgem”. A Companhia da Virgínia planejava procurar por depósitos de ouro e prata no Novo Mundo, assim como uma rota fluvial para o Oceano Pacífico, o que lhes permitiria estabelecer comércio com o Oriente.
Aproximadamente 100 colonos deixaram a Inglaterra no final de dezembro de 1606 em três navios (Susan Constant, Godspeed e Discovery) e alcançaram a baía de Chesapeake no final de abril de 1607. Após formar um conselho governante – que incluía Christopher Newport, comandante da viagem marítima, e John Smith, um ex-mercenário que fora acusado de insubordinação a bordo de um dos navios por vários outros membros da companhia – o grupo procurou por um local de assentamento adequado. Em 14 de maio de 1607, eles desembarcaram em uma estreita península – na verdade, uma ilha – no rio James, onde começariam suas vidas no Novo Mundo.
Conhecida como James Fort, James Towne ou James Cittie, a nova povoação consistia inicialmente de um forte feito de madeira construído em forma de triângulo em volta do depósito para armas e outros suprimentos, uma igreja e várias casas. No verão de 1607, Newport voltou para a Inglaterra com dois navios e 40 tripulantes para fazer um relato ao rei e para conseguir mais suprimentos e colonos.  Os colonos que ficaram sofreram significativamente com fome e doenças, assim como com a constante ameaça de ataque de membros das tribos algonquianas locais, a maioria deles organizados em um tipo de império sob o chefe Powhatan.
Um acordo entre Powhatan e John Smith levou os colonos a estabelecer o comércio necessário com a tribo e Powhatan no começo de 1608. Apesar de combates ainda ocorrerem entre os dois grupos, os nativos americanos trocavam milho por colares de contas, ferramentas de metal e outros objetos (inclusive algumas armas) com os ingleses, que dependiam desse comércio para a subsistência nos primeiros anos da colônia. Após John Smith retornar à Inglaterra no final de 1609, os habitantes de Jamestown sofreram um longo e severo inverno, durante o qual mais de 100 deles morreram. Na primavera de 1610, quando os colonos que ficaram se preparavam para abandonar Jamestown, dois navios chegaram trazendo pelo menos 150 novos colonos, suprimentos e o novo governador inglês da colônia, Lorde De La Warr.
Apesar do Lorde De La Warr logo ficar doente e retornar à Inglaterra, seu sucessor Sir Thomas Gates e o segundo em comando, Sir Thomas Dale, assumiram firmemente o controle da colônia e lançaram um sistema de novas leis que, entre outras coisas, controlava estritamente as interações entre colonos e algonquianos. Eles estabeleceram uma linha dura com Powhatan e fizeram ataques contra as vilas algonquianas, matando residentes e queimando casas e plantios. Os ingleses começaram a construir outros fortes e assentamentos acima e abaixo do rio James, e no outono de 1611 conseguiram colher uma safra decente de milho. Eles também aprenderam outras valiosas técnicas com os algonquianos, inclusive como isolar suas residências do clima severo usando cascas de árvores, e expandiram Jamestown para uma nova cidade a leste do forte original.
Um período de relativa paz se seguiu ao casamento em abril de 1614 do colono e plantador de tabaco John Rolfe com Pocahontas, uma filha do chefe Powhatan que tinha sido capturada pelos colonos e convertida ao cristianismo (De acordo com John Smith, Pocahontas o salvou da morte em 1607, quando ela era apenas uma criança e ele era cativo de seu pai). Graças em grande parte à introdução por Rolfe de um novo tipo de tabaco produzido a partir de sementes trazidas das Índias Ocidentais, a economia de Jamestown começou a prosperar. Em 1619, a colônia estabeleceu uma Assembleia Geral com membros eleitos pelos proprietários de terra da Virgínia (apenas os homens votavam); ela se tornaria um modelo para governos representativos nas colônias posteriores. Naquele mesmo ano, os primeiros africanos (cerca de 50 homens, mulheres e crianças) chegaram ao assentamento inglês; eles estavam em um navio negreiro português capturado nas Índias Ocidentais e trazido à região de Jamestown. Eles trabalharam a princípio como servos (o sistema de escravidão baseado na raça só se desenvolveu na América do Norte na década de 1680) e provavelmente foram colocados para trabalhar colhendo tabaco.
A morte de Pocahontas durante uma viagem à Inglaterra em 1617 e a morte de Powhatan em 1618 estremeceram a já frágil paz entre os colonos ingleses e os nativos americanos. Sob o sucessor de Powhatan, Opechankeno, os algonquianos se tornaram cada vez mais furiosos com a insaciável necessidade dos colonos por terra e o ritmo de povoamento inglês; enquanto isso, doenças trazidas do Velho Mundo dizimavam a população nativa americana. Em março de 1622, o chefe algonquiano fez um importante ataque contra os assentamentos ingleses na Virgínia, matando entre 350 e 400 residentes (um quarto da população). O ataque atingiu os postos avançados de Jamestown duramente, enquanto a vila, que recebeu aviso prévio, foi capaz de montar uma defesa.
Em um esforço para ter mais controle da situação, o rei Jaime I dissolveu a companhia e transformou a Virgínia em uma colônia oficial da coroa, com Jamestown como sua capital, em 1624. A área nova de Jamestown continuou a crescer, e o forte original parece ter desaparecido depois da década de 1620. Embora o povo de Powhatan continuasse a resistir (Opechankeno, então com mais de 80 anos, liderou outra grande rebelião em 1644), a colônia continuou seu crescimento vigoroso, e o sucessor de Opechankeno, Necotowance, foi forçado a assinar um tratado de paz que cedia a maior parte das terras dos powhatan e os forçava a pagar um tributo anual ao governador colonial. Em 1698, o prédio do governo central em Jamestown incendiou-se, e Williamsburg a substituiu como a capital da colônia da Virgínia no ano seguinte.

domingo, 19 de junho de 2011

Vikings

A partir aproximadamente do ano 800 da Era Comum até o século XI, um grande número de escandinavos deixou sua terra natal em busca de fortunas em outros lugares. Estes guerreiros marítimos – conhecidos coletivamente como vikings ou noruegueses (“homens do norte”) – começaram a atacar locais litorâneos, especialmente monastérios indefesos, nas Ilhas Britânicas. Nos três séculos seguintes, eles deixariam sua marca como piratas, invasores, comerciantes e colonizadores em grande parte da Grã-Bretanha e do continente europeu, assim como em partes dos territórios atuais de Rússia, Islândia, Groenlândia e na ilha canadense de Terra Nova.
Barco de Oseberg: navio cerimonial real viking. Esse bem preservado
barco foi construído em algum momento antes ou durante o século IX.
Foi encontrado em Oseberg, Noruega.
Mantido em exibição em Oslo, Noruega.
Fotografia: Christophe Boisvieux/Corbis.
Ao contrário de algumas concepções populares sobre os vikings, eles não eram uma “raça” unida por laços de ancestralidade comum ou patriotismo, e não deveriam ser definidos por qualquer senso particular de “ser viking”. O nome “viking” tem origem escandinava, a partir da palavra do norueguês antigo vik (“baía” ou “enseada”) que formava a raiz de vikingr (“pirata”). A maioria dos vikings, cujas atividades são mais conhecidas, vem das regiões conhecidas como Dinamarca, Noruega e Suécia, apesar de haver também menções nos registros históricos de vikings finlandeses, estonianos e lapões. Os detalhes comuns a todos – e o que os fazia diferentes dos povos europeus que eles confrontaram – era que eles vinham de uma terra estranha, não eram “civilizados” no entendimento local europeu da palavra e – o mais importante – não eram cristãos.
As razões exatas para os vikings se aventurarem fora de suas próprias terras são incertas; alguns têm sugerido que foi devido à densidade populacional elevada, mas os primeiros vikings pareciam buscar riquezas, não terras. No século VIII, a Europa estava ficando mais rica, abastecendo o crescimento de centros comerciais tais como Dorestad e Quentovic no continente e Hamwic (a atual Southampton), Londres, Ipswich e York na Inglaterra. As peles escandinavas eram caríssimas nos novos mercados comerciais; a partir do seu comércio com os europeus, os escandinavos aprenderam novas tecnologias de navegação assim como sobre a crescente riqueza europeia e acompanharam os conflitos internos entre os reinos europeus. Os predecessores dos vikings – piratas que saqueavam navios mercantes no mar Báltico – usariam seu conhecimento para expandir suas atividades de busca por fortunas ao mar do Norte e mais além.
Em 793, um ataque ao monastério de Lindisfarne no litoral da Nortúmbria, no nordeste da Inglaterra, marcou o início da Era Viking. Os saqueadores – provavelmente noruegueses que navegaram diretamente através do mar do Norte – não destruíram o monastério completamente, mas o ataque abalou o mundo religioso europeu em seu núcleo. Diferente de outros grupos, esses novos estranhos invasores não tinham respeito por instituições religiosas tais como os monastérios, que eram frequentemente deixados desprotegidos e vulneráveis próximos ao litoral. Dois anos depois, assaltos vikings atacaram os monastérios indefesos das ilhas de Skye e Iona (nas Hébridas), assim como em Rathlin (na costa nordeste da Irlanda). O primeiro ataque registrado na Europa continental ocorreu em 799, no monastério ilhéu de São Filiberto em Noirmoutier, próximo ao estuário do rio Loire.
Por várias décadas, os vikings se limitaram a ataques-relâmpago contra alvos costeiros nas Ilhas Britânicas (principalmente Irlanda) e Europa (o centro comercial de Dorestad, a 80 quilômetros do mar do Norte, tornou-se um alvo frequente a partir de 830). Eles então se aproveitaram dos conflitos internos na Europa para estender suas atividades penetrando no interior: após a morte de Luís, o Piedoso, imperador da Frância (atuais França e Alemanha), em 840, seu filho Lotário na prática solicitou o apoio de uma frota viking na batalha pelo poder com os irmãos. Em pouco tempo, os vikings perceberam que os governantes francos concordariam em pagá-los ricas somas para impedir que eles atacassem seus súditos, fazendo da Frância um alvo irresistível para futuras atividades vikings.
Na metade do século IX, Irlanda, Escócia e Inglaterra se tornaram importantes alvos para colonização viking, assim como para ataques. Os vikings conquistaram o controle das ilhas ao norte da Escócia (Shetland e Órcades), das Hébridas e da maior parte da Escócia. Eles fundaram as primeiras cidades comerciais da Irlanda: Dublin, Waterford, Wexford, Wicklow e Limerick, e usaram suas bases no litoral irlandês para lançar ataques dentro da Irlanda e, através do mar da Irlanda, à Inglaterra. Quando o rei Carlos II, o Calvo, começou a defender mais energicamente a Frância Ocidental em 862, fortificando cidades, abadias, rios e áreas costeiras, as forças vikings começaram a se concentrar mais na Inglaterra que na Frância.
Na onda de ataques vikings na Inglaterra após 851, apenas um reino – Wessex – foi capaz de resistir com sucesso. Os exércitos vikings (predominantemente dinamarqueses) conquistaram Ânglia Oriental, Nortúmbria e desmantelaram a Mércia, enquanto o rei Alfredo, o Grande, de Wessex se tornava o único rei a derrotar decisivamente um exército dinamarquês na Inglaterra. Deixando Wessex, os dinamarqueses se estabeleceram no norte, em uma área conhecida com “Danelaw”. Muitos deles se tornaram fazendeiros e comerciantes e estabeleceram York como uma importante cidade mercantil. Na primeira metade do século X, exércitos ingleses liderados pelos descendentes de Alfredo de Wessex começaram a reconquistar as regiões escandinavas da Inglaterra; o último rei escandinavo, Erik I, foi expulso e morto por volta de 952, permanentemente unindo os ingleses em um reino.
Enquanto isso, os exércitos vikings permaneceram ativos no continente europeu por todo o século IX, saqueando brutalmente Nantes (no litoral francês) em 842 e atacando cidades distantes do litoral como Paris, Limoges, Orleans, Tours e Nîmes. Em 844, os vikings atacaram Sevilha (então controlada pelos árabes andaluzes); em 859, eles saquearam Pisa, apesar de uma frota árabe os terem destruído no caminho de volta para o norte. Em 911, o reino franco ocidental cedeu Rouen e o território circundante por tratado a um chefe viking chamado Rollo em troca de este negar passagem ao Sena a outros invasores. Esta região do norte da França é agora conhecida como Normandia, a “terra dos homens do norte”.
No leste, os vikings conhecidos como varegues ou varangianos tinham invadido a Europa oriental e a atual Rússia (Rússia deriva de “rus”, nome que os povos eslavos usavam para os invasores escandinavos) no começo do século VIII, usando métodos similares aos de suas contrapartes dinamarquesas e norueguesas no oeste. Eles exploraram novas rotas de comércio descendo os rios Volga e Dnieper e fundaram cidades-estado tais como Kiev e Novgorod. Esses vikings também mantiveram contato extensivo com o Império Bizantino baseado em Constantinopla: alguns varangianos até mesmo serviram como uma guarda de elite para os imperadores bizantinos.
No século IX, os escandinavos (principalmente noruegueses) começaram a colonizar a Islândia, uma ilha no Atlântico Norte onde ninguém havia se estabelecido ainda em grandes números. No final do século X, alguns vikings (incluindo o famoso Erik, o Vermelho) viajaram mais a oeste, para a Groenlândia. De acordo com histórias posteriores islandesas, alguns dos primeiros colonizadores vikings da Groenlândia (supostamente liderados pelo herói viking norueguês Leif Eriksson, filho de Erik, o Vermelho) devem ter se tornado os primeiros europeus a descobrir e explorar a América do Norte. Chamando o lugar onde desembarcaram de Vinland (“Terra do Vinho”), eles construíram um assentamento temporário em L’Anse aux Meadows, na atual Terra Nova. Além disso, há poucas evidências de presença viking no Novo Mundo, e eles não formaram povoações permanentes.
Na metade do século X, o reinado de Harald Dente-Azul como rei de uma poderosa e recentemente unificada Dinamarca cristianizada marcou o começo de uma segunda Era Viking. Incursões de larga escala, frequentemente organizadas por líderes reais, atacaram os litorais da Europa e especialmente a Inglaterra, onde a linhagem de reis descendentes de Alfredo, o Grande estava vacilante. O filho rebelde de Harald, Svend Haraldsson, conduziu ataques vikings na Inglaterra que começaram em 991, conquistando todo o reino em 1013, enviando o rei Ethelred para o exílio. Svend morreu no ano seguinte, deixando seu filho Canuto como governante de um império escandinavo (abrangendo Inglaterra, Dinamarca e Noruega) no mar do Norte.


Após a morte de Canuto, seus dois filhos o sucederam, mas ambos foram mortos em 1042 por Eduardo, o Confessor, filho de Ethelred, que retornou do exílio e recuperou o trono inglês dos dinamarqueses. Depois de sua morte (sem deixar herdeiros) em 1066, Haroldo Godwinson, o filho do nobre mais poderoso de Eduardo, reclamou o trono. O exército de Haroldo foi capaz de derrotar uma invasão liderada pelo último grande rei viking – Harald Hardrada da Noruega – em Stamford Bridge, próximo a York, mas caiu ante as forças de Guilherme, duque da Normandia (um descendente dos colonizadores escandinavos no norte da França) algumas semanas depois. Coroado rei da Inglaterra no dia de Natal de 1066, Guilherme conseguiu manter a coroa contra as contestações dinamarqueses posteriores.
Os eventos de 1066 na Inglaterra efetivamente marcaram o fim da Era Viking. Naquela época, todos os reinos escandinavos já tinham se tornado cristãos, e o que permaneceu da “cultura” viking estava sendo absorvido pela cultura da Europa cristã. Hoje, sinais do legado viking podem ser encontrados principalmente nas origens escandinavas de certo vocabulário e nomes de lugares nas regiões onde eles se estabeleceram, incluindo o norte da Inglaterra, Escócia e Rússia. Na Islândia, os vikings deixaram um extensivo acervo literário, as sagas islandesas, nas quais eles celebraram as grandes vitórias de seu passado glorioso.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Magna Carta

Em 1215, graças aos anos de políticas exteriores malsucedidas e demandas por tributações elevadas, o rei João da Inglaterra estava encarando uma possível rebelião dos poderosos barões do país. Sob pressão, ele concordou com uma carta de permissões conhecida com Magna Carta (“Grande Carta” em latim) que o colocaria e todos os futuros soberanos da Inglaterra sob um documento que limitaria os poderes do monarca. Apesar de inicialmente não ter sido bem sucedido, o documento foi reemitido (com alterações) em 1216, 1217 1225, e finalmente serviu como a base para o sistema inglês de direito comum. Gerações posteriores de ingleses celebrariam a Magna Carta como um símbolo de liberdade da opressão, assim como o fizeram os Pais Fundadores dos Estados Unidos da América, que em 1776 enxergaram a carta como um precedente histórico para afirmar sua liberdade da coroa inglesa.
João (o filho mais novo de Henrique II e Leonor da Aquitânia) não foi o primeiro rei inglês a fazer concessões a seus cidadãos na forma de uma carta, embora ele tenha sido o primeiro a fazê-lo sob a ameaça de uma guerra civil. Ao assumir o trono em 1100, Henrique I emitiu uma Carta de Coroação na qual ele prometia limitar os impostos e confiscos dos rendimentos da igreja, entre outros abusos de poder. Mas ele continuou a ignorar estes preceitos, e os barões não tinham o poder para forçá-lo a cumpri-los. Todavia, eles depois ganharam mais influência como resultado da necessidade da coroa de financiar as cruzadas e pagar um resgate pelo irmão e predecessor de João, Ricardo I Coração de Leão, que tinha sido feito prisioneiro pelo imperador Henrique VI da Alemanha durante a Terceira Cruzada.
Em 1199, quando Ricardo morreu sem deixar um herdeiro, João foi forçado a competir com um rival pela sucessão com seu sobrinho Artur (o jovem filho de seu falecido irmão Geoffrey, duque da Bretanha). Após guerrear contra o rei Filipe II da França, que apoiou Artur, João foi capaz de consolidar o poder. Ele imediatamente irritou muitos antigos partidários com seu cruel tratamento de prisioneiros (incluindo Artur, que provavelmente foi assassinado por ordem de João). Em 1206, a guerra reiniciada com a França lhe causou a perda dos ducados da Normandia e de Anjou, entre outros territórios.
Uma contenda com o papa Inocêncio III, iniciada em 1208, causou danos ao prestígio de João, e ele se tornou o primeiro soberano inglês a sofrer o castigo da excomunhão (Henrique VIII e Elizabeth I também foram excomungados). Após outra desconcertante derrota militar para a França em 1213, João tentou reabastecer seus cofres – e reconstruir sua reputação – pela exigência da jugada (pagamento em dinheiro no lugar do serviço militar) aos barões que não tinham se juntado a ele no campo de batalha. Nesta época, Stephen Langton, a quem o papa nomeara arcebispo de Canterbury com a oposição inicial de João, canalizou a intranquilidade dos barões e pressionou progressivamente o rei por concessões.
Com as negociações em impasse no começo de 1215, a guerra civil estourou, e os rebeldes – liderados pelo barão Robert FitzWalter, adversário de longa data de João – conquistaram o controle de Londres. Encurralado, João capitulou, e em 15 de junho de 1215, em Runnymede (localizada junto ao rio Tâmisa, agora no condado de Surrey), ele aceitou os termos que incluíam um documento chamado “Artigos dos Barões”. Quatro dias depois, após modificações, o rei e os barões emitiram uma versão formal do documento, que se tornaria conhecido como Magna Carta. Planejada como um tratado de paz, a carta fracassou em seus objetivos, com a guerra civil eclodindo três meses depois. Após a morte de João em 1216, os conselheiros de seu filho e sucessor de nove anos, Henrique III, reemitiram a Magna Carta com algumas de suas mais controversas removidas, prevenindo assim futuros conflitos. O documento foi novamente reemitido em 1217 e de novo em 1225 (em troca de uma concessão de cobrança de impostos ao rei). Cada emissão subsequente da Magna Carta acompanhou a versão “final” de 1225.
Escrita em latim, a Magna Carta foi efetivamente a primeira constituição escrita na história europeia. Suas 63 cláusulas, muitas de relacionavam aos vários direitos de propriedade dos barões e de outros cidadãos poderosos. Os benefícios da carta foram por séculos reservados apenas às classes da elite, enquanto a maioria dos cidadãos ingleses ainda carecia de uma voz no governo. No século XVII, no entanto, duas leis definiram a legislação inglesa – a Petição de Direito de 1628 e o Habeas Corpus Act de 1679 – comentados na Cláusula 39, que afirma que “nenhum homem livre deve ser... aprisionado ou usurpado (desapropriado)... exceto por julgamento legal de seus pares ou pela lei do país”. A Cláusula 40 (“A ninguém venderemos, a ninguém negaremos ou impediremos direito ou justiça”) também teve expressivas implicações nos futuros sistemas legais da Grã-Bretanha e dos estados Unidos.
Em 1776, os colonos rebeldes americanos viram a Magna Carta como um modelo para suas demandas de liberdade da coroa inglesa. Seu legado é especialmente evidente na Declaração de Direitos e na Constituição dos Estados Unidos, e em nenhuma parte é mais que na Quinta Emenda (“nem qualquer pessoa deve ser privado da vida, liberdade, ou bens, sem o devido processo legal”), que ecoa a Cláusula 39. Muitas constituições também incluem ideias e frases que podem ser traçadas diretamente a este documento histórico prestes a completar oito séculos de existência.