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quinta-feira, 7 de julho de 2011

A invenção da escrita

A invenção da escrita foi um dos grandes avanços na civilização. De fato, a escrita ajuda a assegurar a continuidade da civilização, porque transmite um registro factível da espécie humana de geração em geração.
Encontramos as evidências mais antigas de escrita na Suméria, sul da Mesopotâmia. Esse sistema mais antigo não usava um alfabeto, mas pictografias, que são símbolos representando objetos familiares. Este tipo de escrita sumeriano evoluiu tornando-se mais estilizado. Ele ficou conhecido na atualidade como cuneiforme, ou escrita em forma de cunha. Os egípcios também usavam um sistema pictográfico, mas original: os hieróglifos.
O uso de um alfabeto provavelmente se originou entre os povos habitantes da região conhecida como Fenícia entre 1700 e 1500 AEC a partir dos sistemas de escrita mais antigos, o cuneiforme e o hieroglífico. Esta escrita semítica possuía apenas consoantes; depois, os antigos gregos introduziram a ideia das vogais. O sistema de escrita chinês, também muito antigo, manteve seu caráter pictográfico em vez de desenvolver um alfabeto.
A história e a pré-história da escrita são tão longas quanto a história da própria civilização. Na verdade, o desenvolvimento da comunicação escrita foi um passo fundamental no avanço da civilização.
Apesar disso, a escrita existe há pouco mais de 5.000 anos. As mais antigas inscrições conhecidas que chegaram até nós estão em tabletes de argila feitos pelos sumerianos por volta de 3100 AEC. Os sumerianos viviam no sul da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates. As mais antigas inscrições conhecidas do vale do Nilo são de 100 a 200 anos mais recentes.
A escrita é às vezes considerada a maior das invenções humanas. Vários povos desenvolveram independentemente a escrita: sumerianos, provavelmente egípcios, chineses e povos mesoamericanos. Não se sabe a identidade daqueles responsáveis pelos passos mais importantes no desenvolvimento da escrita. Seus nomes, como os dos inventores da roda, há muito se perderam na penumbra do passado.
Muito tempo antes que as mais antigas inscrições sumerianas e egípcias se desenvolvessem, as pessoas se comunicavam entre si por vários métodos diferentes. Os antigos humanos podiam expressar seus pensamentos e sentimentos através da fala, por sinais ou gestos. Eles também podiam sinalizar com fogo, fumaça, tambores ou assobios.
Estes métodos de comunicação mais antigos tinham duas limitações. Primeiro, eles estavam restritos ao tempo enquanto a comunicação ocorresse. Assim que as palavras eram faladas, os gestos eram feitos ou a fumaça era soprada pelo vento, todos não podiam ser recuperados, exceto por repetição. Segundo, estavam restritos pelo espaço. Poderiam ser usados apenas entre pessoas mais ou menos próximas umas das outras.
A necessidade de comunicação através de uma forma menos limitada pelo tempo e pelo espaço pode ter originado os primeiros desenhos e marcas sobre objetos de qualquer material sólido. Estas “mensagens” duravam tanto quanto os materiais sobre os quais foram feitas. Os humanos têm feito desenhos há milênios. As pinturas pré-históricas feitas em cavernas eram representações artísticas e realísticas do mundo do homem primitivo. Se as figuras intencionavam registrar um evento ou transmitir uma mensagem, elas eram uma forma de escrita.
Um grande número dessas figuras, desenhadas ou entalhadas na rocha, são chamadas petrogramas se são desenhadas ou pintadas e petróglifos se são entalhadas.
Tais figuras transmitiam ideias, ou significados, diretamente sem o uso de palavras, sons, ou outra forma de linguagem. Este método primitivo de comunicação é conhecido como pictografia ou ideografia, e forma a base dos caracteres chineses e japoneses atuais.
A ideia ou o significado escrito tem muitas limitações. Se alguém desejar comunicar a simples mensagem “eu matei cinco leões”, o escritor poderia começar desenhando cinco figuras separadas de leões. Ainda faltava indicar “eu matei”. Lembrando-se da forma que na verdade ele matou os leões – com uma lança, um porrete ou um arco e flecha – o escritor desenharia a sua figura segurando a arma que ele usou no ato.
Havia várias formas indiretas pelas quais o escritor poderia garantir que outra pessoa entendesse que foi ele e não outro que matou os leões. Se ele tinha pernas longas, ele poderia fazer um desenho seu com pernas bastante longas. Ele poderia se desenhar com um corte de cabelo peculiar ou com um toucado. Ele também poderia usar o artifício, amplamente usado pelos nativos americanos, de adicionar uma figura representando o seu nome – por exemplo, Búfalo Branco ou Camisa Vermelha – próximo à cabeça da figura. Tudo isso era inconveniente e envolvia uma grande quantidade de imaginação em encontrar as figuras certas para expressar os significados intencionados. Este sistema de escrita foi empregado pelos nativos norte-americanos das planícies e pelos astecas.
O método ideográfico de comunicação deve ter sido suficiente nas sociedades mais simples de caçadores e nômades. No entanto, ele não poderia se adequar às necessidades das sociedades urbanas com comércio, indústria, agricultura e burocracia estatal altamente desenvolvidos, todos envolvendo a necessidade de manter registros.
As primeiras sociedades urbanas surgiram no Oriente Médio, na Mesopotâmia ou em suas proximidades. Foi entre os rios Tigre e Eufrates que a civilização sumeriana floresceu. Aparentemente pouco tempo depois dos sumerianos, os egípcios do vale do Nilo desenvolveram sua civilização.
As escritas antigas foram influenciadas por vários fatores, particularmente pelos materiais disponíveis. As pessoas do Antigo Egito desenvolveram belos sinais, chamados hieróglifos, para fazer inscrições em tumbas e monumentos e para escrever textos religiosos e documentos importantes sobre papiro. A palavra hieróglifo origina-se de duas palavras gregas: ερός (hierós) "sagrado", e γλύφειν (glýphein) "escrita". Como o sul da Mesopotâmia era carente em pedras e em materiais adequados para fazer papel, eles imprimiam símbolos em tabletes de argila úmidos com a extremidade de um estilete de madeira ou junco. Isto produzia sinais em forma de cunha; por isso tal escrita é chamada cuneiforme, do latim cuneus, “cunha”. Para serem preservados, os tabletes eram assados após serem escritos.
A intenção básica nas novas inscrições era para expressar palavras da língua ao invés de ideias e significados. A mensagem “eu matei cinco leões” não seria expressa por figuras desenhadas em qualquer ordem. Ao invés disso, ela seria expressa em sinais desenhados na ordem das palavras dessa sentença. A palavra “eu” poderia ser expressa pelo pictograma de uma cabeça com a mão apontando para o nariz; “matei” pelo pictograma de uma lança; “cinco” por cinco marcas; e “leões” pelo pictograma de um leão.
O escriba não mais poderia escolher usar um sinal ou outro de acordo com a situação que ele estava tentando descrever. Se os leões foram mortos por uma lança, um cassetete ou por um arco e flecha, o escriba poderia usar para a palavra “matar” apenas o sinal que ele tinha aprendido a associar regularmente com essa palavra. Se na Suméria o ato de matar animais ou humanos fosse normalmente realizado com uma lança, então a figura de uma lança muito provavelmente seria escolhida como o sinal para a palavra “mata”.
Um sistema de escrita no qual sinais individuais são usados para palavras individuais da língua é chamado logográfico. Os sinais de tal sistema são chamados logogramas.
A palavra escrita representou um tremendo avanço sobre a ideia escrita. No entanto, ela ainda não era tão prática. Milhares de sinais para milhares de palavras tiveram que ser inventados – o que não era fácil – e aprendidos. Ainda era difícil expressar algumas ideias abstratas, como “vida”; nomes próprios que não tinham significados conhecidos; e formas gramaticais, como a indicação do tempo verbal ou de plurais.
Uma maneira de superar estas dificuldades foi encontrada no uso do princípio fonético, ou princípio rébus. Um exemplo seria escrever a palavra da língua inglesa “belief” (crença) desenhado as figuras de uma abelha (bee) e de uma folha (leaf). Em sumeriano, a palavra abstrata ti (vida) era difícil de expressar por uma figura. O escriba então escrevia a palavra com a figura fácil de desenhar de uma seta, que também tinha o som de ti em sumeriano. Dessa forma, uma figura era colocada para representar um som.
Com o princípio rébus, novos horizontes foram abertos para a expressão de todas as formas linguísticas, não importando o quanto fossem abstratas. Não era mais necessário passar por um processo de ginástica mental para descobrir como expressar uma palavra como “dado”, significando uma informação ou conjunto de informações. A palavra deveria ser expressa pela figura de um papiro com inscrições, uma árvore e uma lua ou por outra coisa? Com o princípio rébus, esta palavra poderia ser escrita simplesmente com o desenho de um cubo com pontos nos lados, um dado de jogar. Seu sinal é fácil de desenhar e soa como qualquer outro dado. Além disso, o sinal para dado pode ser usado foneticamente em toda e qualquer palavra onde as sílabas dado apareçam, como validado, consolidado ou enfadado. Os sistemas de escrita onde os sinais são usados para representar palavras completas de significado definido ou para sílabas são chamados escritas logográficas silábicas. Tais sistemas eram predominantes na Antiguidade, entre os sumerianos e egípcios, entre os hititas na Anatólia, entre os minoicos e micênicos no Egeu e entre os chineses. As escritas ainda não decifradas dos elamitas do sul do Irã e de um povo desconhecido que viveu na Índia em tempos muito antigos também eram logo-silábicas. Os maias da América Central desenvolveram um sistema que está em algum lugar entre o estágio ideográfico dos astecas e os sistemas logo-silábicos completamente desenvolvidos como os dos sumerianos e egípcios.
Como as primitivas escritas ideográficas, todos os sistemas logo-silábicos eram originalmente pictográficos; isto é, eles continham sinais nos quais alguém poderia facilmente reconhecer figuras de humanos e de objetos, animais, plantas e montanhas.
Os sistemas ideográficos retiveram seus caracteres pictóricos do início ao fim de suas existências. No decorrer do tempo, no entanto, as escritas logo-silábicas desenvolveram formas lineares e cursivas. Estas se tornaram abreviadas e mudaram significativamente com o uso constante. É impossível reconhecer na grande maioria deles as figuras que originalmente representavam. No Egito, a escrita hieroglífica originou outras duas, e as três formas eram usadas ao mesmo tempo. A forma hieroglífica era uma escrita de figuras cuidadosamente desenhadas encontrada principalmente em monumentos públicos e oficiais. Havia também as formas hierática e demótica, que eram escritas abreviadas e cursivas usadas principalmente para correspondência privada e comercial.
O passo seguinte na história de escrita foi o sistema silábico. Todas as escritas silábicas derivaram dos sistemas logo-silábicos. Eram sistemas idênticos ou simplificados dos silabários daqueles sistemas. Um silabário é uma lista de caracteres, cada um dos quais usado para escrever uma sílaba.
Os babilônios assírios, que substituíram os sumerianos na Mesopotâmia, aceitaram quase sem nenhuma mudança o sistema logo-silábico sumeriano. Os elamitas, hurritas e urarteanos, que viviam nas fronteiras mesopotâmicas, sentiram que a tarefa de dominar o complicado sistema sumeriano era um ônus muito pesado. Eles simplesmente desenvolveram um silabário simplificado e eliminaram quase inteiramente os sinais logo-silábicos sumerianos.
Os japoneses também desenvolveram um silabário simples a partir da escrita chinesa logo-silábica. As crianças japonesas são ensinadas com ele nos primeiros anos. Quando avançam para graus mais elevados, elas também aprendem vários logogramas tomados emprestados do chinês, que usam lado a lado com seu silabário.
A mudança mais radical ocorreu no sistema que os povos semitas da Síria e da Palestina desenvolveram a partir do sistema hieroglífico egípcio entre 1500 e 1000 AEC. Eles eliminaram todos os logogramas e todos os sinais silábicos com mais de uma consoante. Eles limitaram seus silabários a cerca de 30 sinais começando com uma consoante e terminando com uma vogal.
A escrita semítica mais importante foi desenvolvida por volta de 1000 AEC pelos fenícios na antiga cidade de Biblos. Essa escrita consistia de 22 sinais silábicos começando com uma consoante e terminando com uma vogal. Esta era a escrita que estava destinada a desempenhar o papel mais importante na história da civilização. Devido à sua grande simplicidade, a escrita fenícia se espalhou rapidamente. Ela foi aceita gradualmente por outros povos semíticos, como hebreus, arameus, árabes e abissínios. Na sua marcha para leste, ela se espalhou entre os povos da Pérsia e da Índia. A oeste, ela foi adotada pelos gregos, itálicos e pelo resto da Europa.
Como as vogais não eram indicadas nos sinais silábicos fenícios, estes sinais são chamados consonantais ou até mesmo alfabéticos por alguns acadêmicos. No entanto, os criadores de um alfabeto verdadeiro, com vogais e consoantes, não foram os fenícios, mas os gregos.
Houve três grandes passos pelos quais a escrita evoluiu da ideografia primitiva para um alfabeto pleno. Primeiro, vieram os sinais para representar os sons de palavras, conduzindo a um sistema logo-silábico. Os sumerianos foram os primeiros a desenvolver este estágio de escrita.
Depois veio a criação dos silabários semíticos de 22 a 30 sinais. A grandiosidade da escrita fenícia não está em qualquer mudança revolucionária, mas na simplificação. Ela excluiu todos os logogramas e sinais com mais de uma consoante do sistema egípcio, e restringiu seu silabário a um pequeno número de sinais silábicos abertos. Esta escrita se tornou o protótipo de todos os alfabetos.
O último grande passo foi a criação do alfabeto grego. Isto foi consumado pelo uso sistemático de sinais para vogais. Quando estes foram adicionados aos sinais silábicos copiados do sistema semítico, o resultado foi a redução dos valores dos sinais silábicos a sinais alfabéticos.
Com seu desenvolvimento final alcançado, não importando o que os seus precursores devam ter sido, a escrita teve que passar por esses três estágios – palavra, sílaba e alfabeto – nesta e não em outra ordem. Nenhum estágio de desenvolvimento poderia se omitido. Nenhuma escrita poderia começar com um estágio silábico ou alfabético a menos que fosse copiada de um sistema que já tivesse passado pelos estágios prévios. Um sistema de escrita poderia parar em um estágio sem desenvolver os posteriores. Os nativos das planícies norte-americanas nunca progrediram além da escrita pictográfica. As escritas japonesas e chinesas permaneceram logo-silábicas.
A escrita raramente desenvolveu todos os estágios no mesmo lugar. Os povos eram normalmente conservadores e presos ao seu próprio tipo de escrita. No Egito e na Babilônia interesses religiosos, e na China interesses políticos, foram responsáveis por manter uma forma difícil e obsoleta de escrita e tornar seu uso geral pelo povo impossível. Foram então os povos estrangeiros, sem ligações com as tradições e os interesses locais, que frequentemente foram responsáveis por introduzir novos e importantes desenvolvimentos na história da escrita. Dessa forma, foram os fenícios que simplificaram a escrita egípcia, e os gregos que desenvolveram o alfabeto que eles derivaram a partir da escrita dos fenícios.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Religião canaanita

As tribos israelitas durante o período de condução e liderança principalmente de Moisés e Josué tiveram que lutar contra tribos nômades; em seus contatos com estes grupos, elas absorveram algumas das atitudes e motivos do estilo de vida nômade, tais como independência, amor pela liberdade de se mover sem destino, e o medo ou desdém pelo estilo de vida sedentário, agrícola e dos povos urbanos.

Já os canaanitas, com quem os israelitas entraram em contato durante a conquista por Josué e o período dos juízes, eram um povo urbano e agrícola sofisticado. O nome Canaã significa “País da Púrpura” (a tinta púrpura era extraída de um molusco encontrado no litoral da Palestina). Os canaanitas, um povo que absorveu e assimilou as características de muitas culturas do antigo Oriente Próximo por pelo menos 500 anos antes dos israelitas entraram na sua área de controle, eram um povo que, até onde se sabe, inventou a forma de escrever que se tornou o alfabeto, que, através de gregos e romanos, foi transmitida a muitas culturas influenciadas pelos seus sucessores – especialmente, as nações e povos da civilização ocidental.

A religião dos canaanitas era uma religião agrícola, com motivos de fertilidade pronunciados. Suas divindades principais eram chamadas Baalim (Senhores), e suas consortes Baalot (Senhoras) ou Asherah (singular), normalmente conhecidas pelo nome pessoal no plural Ashtoret. O deus de Siquém, cidade que os israelitas absorveram pacificamente sob Josué, era chamado de Baal-berith (Senhor da Aliança) ou El-berith (Deus da Aliança). Siquém se tornou o primeiro centro da confederação tribal religiosa (chamado de anfictiônia pelos gregos) dos israelitas durante o período dos juízes. Quando Siquém foi escavada no começo da década de 1960, o templo de Baal-berith foi parcialmente reconstruído; o pilar sagrado (geralmente um símbolo fálico ou, muitas vezes, uma representação de Asherah, o símbolo da fertilidade feminina), foi colocado na sua posição original diante da entrada do templo.
Acreditava-se que os Baalim e as Baalot, deuses e deusas da Terra, revitalizavam as forças da natureza das quais a agricultura dependia. O processo de revitalização envolvia um casamento sagrado (hieros gamos), repleto de atividades sexuais simbólicas e reais entre homens, representando os Baalim, e as prostitutas sagradas do templo (quedeshot), representando as Baalot. As cerimônias rituais envolvendo atos sexuais entre membros masculinos das comunidades agrícolas e as prostitutas sagradas dedicadas às Baalim eram focadas no conceito canaanita de magia favorável. Como as Baalim (através das ações de homens selecionados) tanto simbólica quanto de fato fecundavam as prostitutas sagradas, então também, acreditava-se, as Baalim (como deusas das condições atmosféricas e da Terra) enviariam as chuvas (frequentemente identificadas com o sêmen) à Terra de forma que elas pudessem render safras abundantes de grãos e frutos. Histórias lendárias canaanitas incorporando tais mitos de fertilidade estão representadas nos textos mitológicos da antiga cidade de Ugarit (a moderna Ras Shamra) no norte da Síria; embora o deus supremo El e sua consorte fossem importantes como o primeiro casal do panteão, Baal e sua esposa-irmã sexualmente apaixonada eram importantes na criação do mundo e na renovação da natureza.
A religião dos agricultores canaanitas mostrou ser uma forte atração para as tribos israelitas nômades menos sofisticadas. Muitos israelitas sucumbiram às seduções dos rituais e práticas carregados de fertilidade da religião canaanita, parcialmente porque era nova e diferente da religião de Javé e, possivelmente, por causa da tendência da fé rigorosa e da ética enfraquecerem sob a influência de atrações sexuais. À medida que os canaanitas e os israelitas começaram a viver em contato próximo entre si, a fé de Israel tendeu a absorver alguns dos conceitos e práticas de religião canaanita. Alguns israelitas começaram a dar nomes a suas crianças homenageando os Baalim; até mesmo um dos juízes, Gideão, também era conhecido pelo nome Jerubbaal (“Deixe Baal Lutar”).
À medida que as tendências sincréticas se tornaram profundamente estabelecidas na fé israelita, o povo começou a perder o conceito de sua exclusividade e de sua missão de ser testemunha das nações, tornando-se enfraquecido em resoluções internas e responsável pela opressão de outros povos.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os elamitas

O platô iraniano não experimentou o surgimento da civilização urbana e letrada no final do IV e no começo do III milênio AEC no padrão mesopotâmico, mas o vale do Kuzestão, no sudoeste do Irã atual, o fez. Lá existiu a civilização elamita.
Geograficamente, O Elã incluía mais que essa região; era uma combinação desses vales e das áreas montanhosas adjacentes a norte e a leste. A força elamita estava baseada na habilidade de manter estas várias áreas unidas sob um governo coordenado que permitia o máximo intercâmbio dos recursos naturais únicos de cada região. Tradicionalmente, isso era feito através de uma estrutura governamental federativa.
Muito relacionado a essa forma de governo era o sistema elamita de herança e distribuição de poder. O padrão normal de governo consistia de um soberano governando sobre príncipes vassalos, Nas épocas mais antigas, o soberano vivia em Susa, que funcionava como uma capital federal. Com ele governava seu irmão mais próximo em idade, o vice-rei, que normalmente tinha sua sede de governo na cidade nativa da dinastia governante. O vice-rei era o presumível herdeiro do soberano. Existia ainda um terceiro oficial, o regente ou príncipe de Susa (a região), que dividia o poder com o soberano e com o vice-rei. Ele normalmente era filho do soberano ou, se este não tivesse filhos, seu sobrinho. Com a morte do soberano, o vice-rei se tornava o senhor; o príncipe de Susa permanecia em sua posição, e o irmão seguinte em idade se tornava o novo vice-rei. Apenas se todos os irmãos estivessem mortos era que o príncipe de Susa era promovido a vice-rei, habilitando assim o soberano a nomear seu próprio filho (ou sobrinho) como o novo príncipe de Susa. Tal complicado sistema de controle governamental, balanços e herança de poder frequentemente era rompido apesar da descendência bilateral e do casamento levirato (o casamento compulsório da viúva com o irmão de seu falecido marido). O que é impressionante é que o sistema funcionava com frequência; apenas nos períodos médio e neoelamita é que os filhos mais frequentemente sucederam os pais.
A história elamita pode ser dividida em três fases principais: os períodos antigo, médio e neoelamita. Em todos os períodos o Elã esteve intimamente envolvido com Suméria, Babilônia e Assíria, às vezes através de comércio pacífico, mas mais frequentemente através de guerras. Da mesma maneira, o Elã foi muitas vezes um participante nos eventos do platô iraniano. Ambos os envolvimentos estavam relacionados às necessidades combinadas de todas as civilizações das planícies em controlar os povos guerreiros do leste e de explorar os recursos econômicos do platô.

Os reis mais antigos do período elamita antigo talvez datem de aproximadamente 2700 AEC. Já o conflito com a Mesopotâmia, neste caso aparentemente com a cidade de Ur, foi característico da história elamita. Estes primeiros governantes foram sucedidos pela dinastia Awan (Shustar). O décimo-primeiro rei dessa linhagem firmou tratados de aliança com o grande Naram-Sin de Acad (c. 2254-c. 2218 AEC). No entanto, logo surgiu uma nova casa governante, a dinastia Simash (provavelmente oriundos das montanhas do norte). O evento considerável desse período foi a virtual do Elã por Shulgi da III dinastia de Ur (c. 2094-c. 2047 AEC). Finalmente, os elamitas se rebelaram e derrubaram a III dinastia de Ur, um evento muito lembrado nos textos de lamentações e presságios mesopotâmicos. Por volta da metade do século XIX AEC, o poder no Elã passou para uma nova dinastia, de Eparti. O terceiro rei dessa dinastia, Shirukdukh, esteve ativo em várias coalisões militares contra o poder crescente de Babilônia, mas Hamurabi (c. 1792-c. 1750 AEC) prevaleceu e O Elã foi arrasado em 1764 AEC. O Primeiro Império Babilônico, no entanto, entrou em rápido declínio após a morte de Hamurabi, e não demorou muito até que os elamitas fossem capazes de se vingar. Kutir-Nahhunte I atacou Samsuiluna (c. 1749-c. 1712 AEC), filho de Hamurabi, e conseguiu impor uma derrota tão substancial aos babilônios que o evento foi lembrado mais de 1.000 anos depois numa inscrição do rei assírio Assurbanipal. Presume-se que com este golpe o Elã mais uma vez conquistou sua independência. Do fim da dinastia de Eparti, que deve ter ocorrido no final do século XVI AEC, nada se sabe, está sepultado em silêncio.

Após dois séculos dos quais as fontes nada revelam, o período médio elamita se iniciou com a ascensão ao poder da dinastia anzanita, cujas origens provavelmente estavam nas montanhas a nordeste do Kuzestão. A expansão política sob Khumbannumena (c. 1285-c. 1266 AEC), o quarto rei desta linhagem, progrediu rapidamente, e seus sucessos foram comemorados por sua assunção do título “Expansor do Império”. Ele foi sucedido por seu filho, Untash-Gal, contemporâneo de Shalmaneser I da Assíria (c. 1274-c. 1245 AEC) e fundador da cidade de Dur Untash (hoje conhecida como Tchogha Zanbil). Nos anos imediatamente seguintes a Untash-Gal, o Elã progressivamente encontrou-se em real ou potencial conflito com o poder crescente da Assíria. Tukulti-Ninurta I da Assíria (c. 1244-c. 1208 AEC) realizou campanhas militares nas montanhas do norte do Elã. Os elamitas sob Kidin-Khutan, segundo rei depois de Untash-Gal, reagiram com uma incursão devastadora e bem sucedida em Babilônia. Todavia, finalmente, o poder assírio parece ter se tornado muito grande. Tukulti-Ninurta conseguiu expandir, em um breve período, o controle assírio ao extremo sul da Mesopotâmia, e Kidin-Khutan desapareceu na obscuridade, terminando a dinastia anzanita.
Após um pequeno período de problemas dinásticos, a segunda metade do período médio elamita se iniciou com o reinado de Shutruk-Nahhunte (c. 1160 AEC). Dois reis igualmente poderosos e dois menos influentes se seguiram a esse fundador de uma nova dinastia, que provavelmente governava em Susa, e nesse período o Elã se tornou uma das grandes potências militares do Oriente Médio. Tukulti-Ninurta morreu por volta de 1208 AEC, e a Assíria entrou em um período de fraqueza interna e conflito dinástico. O elã rapidamente tirou vantagem desta situação fazendo extensivamente campanhas na região do rio Diyala penetrando no coração da Mesopotâmia. Shutruk-Nahhunte capturou Babilônia e levou para Susa como presa de guerra a estela na qual estava inscrito o famoso código legal de Hamurabi. Shilkhak-In-Shushinak, irmão e sucessor do filho mais velho de Shutruk-Nahhunte, Kutir-Nahhunte, ainda ansioso em tirar vantagem da fraqueza assíria, realizou campanhas bem mais ao norte, na região da moderna Kirkuk. Todavia, em Babilônia, a II dinastia de Isin liderou uma revolta nativa contra o controle elamita lá exercido, e o poder elamita no centro da Mesopotâmia foi finalmente rompido. O império militar elamita começou a encolher rapidamente. Nabucodonosor I de Babilônia (c. 1124-c. 1103 AEC) atacou o Elã e foi derrotado. Todavia, um segundo ataque babilônio se sucedeu, e todo o Elã foi aparentemente invadido, terminando com o período elamita médio.
É digno de atenção que durante o período elamita médio o antigo sistema de sucessão e de distribuição do poder parece ter se deteriorado. Progressivamente, o filho passou a suceder o pai, e cada vez menos se percebe a divisão de autoridade dentro de um sistema confederado. Isto provavelmente reflete um esforço para aumentar a autoridade central em Susa para a condução de campanhas militares efetivas no exterior e para manter as conquistas elamitas estrangeiras. O antigo sistema de regionalismo equilibrado com federalismo deve ter sofrido um conflito seccional e fraternal que então enfraqueceu o Elã e no período neoelamita deve ter tido suas raízes nos desenvolvimentos centrífugos dos séculos XIII e XII AEC.

Um longo período de escuridão separa o período médio do neoelamita. Em 742 AEC, um certo Huban-nugash é mencionado como rei do Elã. O país parece ter sido dividido em principados separados, com o poder central razoavelmente enfraquecido. Os cem anos seguintes testemunharam as constantes tentativas dos elamitas de interferir nos assuntos mesopotâmicos, normalmente em aliança com Babilônia, contra a constante pressão da expansão neoassíria. De vez em quando, eles tinham sucesso em sua política, tanto militar quanto diplomaticamente, mas no todo, foram forçados a desistir ante o crescente poder assírio. Problemas dinásticos elamitas locais foram de tempos em tempos agravados por interferências assírias e babilônias. Enquanto isso, o exército assírio reduziu gradualmente o poder elamita e a influência no Lurestão, ao norte. Com o tempo, essas pressões internas e externas resultaram no colapso quase total de qualquer autoridade central no Elã. Em uma série de campanhas entre 692 e 639 AEC, num esforço para organizar a bagunça política e diplomática que tinha se tornado uma dor de cabeça crônica para os assírios, os exércitos de Assurbanipal destruíram completamente Susa, encerrando assim a história da civilização elamita.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Átila, o huno

Átila se tornou rei dos hunos em algum momento depois de 435 e governou até sua morte, em 453. Os hunos eram guerreiros ferozes que incutiram terror nos corações dos habitantes do Império Romano. Vivendo na Grande Planície Húngara, eles dominaram a fronteira norte do Império Romano, cobrando tributo dos imperadores do Ocidente e do Oriente, principalmente da rica Constantinopla. Os romanos consideravam os hunos bárbaros selvagens, e contos sobre a crueldade huna são abundantes na literatura romana posterior. Na época de Átila, os hunos não eram mais arqueiros montados nômades. Estabelecidos na Hungria, eles desenvolveram uma infantaria, e se diferenciavam das outras tribos bárbaras da fronteira romana pela sua habilidade em sitiar de maneira bem sucedida cidades fortificadas.
No final da década de 440, Átila estava visando o oeste, e em 451 ele atravessou o Reno e penetrou na Gália, tomando Reims, Mainz, Estrasburgo, Colônia e Trier. Paris resistiu, até que os hunos então partiram para a Gália Central e sitiaram Orleans. Nesse ponto, o general Aécio mobilizou uma força de romanos e aliados bárbaros (alanos e visigidos) e se deslocou para encontrar os hunos. Na batalha de Châlons, Aécio derrotou Átila e sob considerável crítica, permitiu que se retirasse cruzando o Reno de volta. Mas, por enquanto, o Império Romano Ocidental estava a salvo.
No ano seguinte, Átila e os hunos cruzaram os Alpes e penetraram na Itália, deixando um rastro de destruição. A grande cidade de Aquileia, às margens do Adriático, foi apagada do mapa (os habitantes que sobreviveram depois fundaram a cidade de Veneza). As principais cidades do vale do Pó ante os invasores: Milão, Verona e Pádua. Parecia que toda a Itália seria tomada.
De acordo com uma lenda, o papa Leão I encontrou Átila no norte da Itália e o impressionou com as vestes sacerdotais e com bravatas. Segundo ele, um grande milagre ocorreu: São Pedro e São Paulo apareceram para Átila e ameaçaram o líder huno com a morte se ele ignorasse os apelos do papa. Mais provavelmente, Átila decidiu desistir da Itália porque suas tropas estavam começando a sofrer com doenças e coma falta de suprimentos. Seja lá o que tenha ocorrido, Átila abandonou a invasão, e a Itália foi salva.
Átila morreu no ano seguinte, de uma hemorragia nasal, enquanto celebrava o seu casamento com uma nova e jovem esposa. O seu nome e o dos hunos se tornaram sinônimo de selvageria. Átila, “o flagelo dos deuses”, não deixou nenhum líder poderoso para substitui-lo, e os hunos rapidamente desapareceram das páginas da história.

domingo, 26 de junho de 2011

Guerras púnicas

As três guerras púnicas entre Cartago e Roma ocorreram no decorrer de quase um século, começando em 264 AEC e terminando com a destruição de Cartago em 146 AEC. Na época do início da Primeira Guerra Púnica, Roma tinha se tornado o poder dominante em toda a península Itálica, enquanto Cartago – uma poderosa cidade-estado no norte da África – estabelecera-se como principal potência marítima do mundo. A Primeira Guerra Púnica estourou em 246 AEC, quando Roma interferiu em uma disputa na Sicília, ilha controlada pelos cartagineses; a guerra terminou com Roma controlando as ilhas da Sicília e da Córsega e marcou surgimento do império como uma potência naval e terrestre. Na Segunda Guerra Púnica, o grande general cartaginês Aníbal invadiu a Itália e conseguiu importantes vitórias no lago Trasimeno e em Cannae, antes de sua derrota final por Cipião Africano em 202 AEC, passando para o domínio romano o Mediterrâneo ocidental e a maior parte da Espanha. Na Terceira Guerra Púnica, os romanos, liderados por Cipião o Jovem, capturaram e destruíram a cidade de Cartago em 146 AEC, tornando a África mais uma província do poderoso Império Romano.
Ruínas de Cartago
A tradição afirma que colonizadores fenícios da cidade mediterrânea de Tiro (no que é hoje o Líbano) fundaram a cidade-estado de Cartago no litoral norte da África, próximo a atual Túnis, capital da Tunísia, por volta de 814 AEC (púnico, termo que nomeou uma série de guerras entre Cartago e Roma, deriva da palavra latina para fenício, Punicus). Perto de 265 AEC, Cartago era a cidade mais rica e avançada da região, assim como a principal potência naval. Embora Cartago tenha confrontado violentamente várias outras potências na região, principalmente a Grécia, suas relações com Roma eram historicamente amigáveis, e as cidades tinham assinado vários tratados definindo direitos de comércio com o passar dos anos.
Em 264 AEC, Roma decidiu intervir numa disputa na costa oeste da ilha da Sicília (então uma província cartaginesa), envolvendo um ataque por soldados da cidade de Siracusa contra a cidade de Messina. Enquanto Cartago apoiou Siracusa, Roma apoiou Messina, e a disputa transformou-se em um conflito direto entre as duas potências, com o controle da Sicília em disputa. Durante o curso de quase 20 anos, Roma reconstruiu toda sua frota para confrontar a poderosa marinha cartaginesa, conseguindo sua primeira vitória naval em Mylae em 260 AEC e uma vitória mais importante na batalha do cabo Ecnomo em 256 AEC. Embora sua invasão do norte da África naquele mesmo ano tenha terminado em derrota, Roma se recusou a desistir, e em 241 AEC, a frota romana foi capaz de conquistar uma vitória decisiva contra os cartagineses no mar, quebrando sua lendária superioridade naval. No final da Primeira Guerra Púnica, a Sicília se tornou a primeira província exterior de Roma.

Nas duas décadas seguintes, Roma também conquistou o controle da Córsega e da Sardenha, mas Cartago foi capaz de estabelecer uma nova base de influência na Espanha no começo de 237 AEC, sob a liderança do poderoso general Amílcar Barca e, depois, de seu genro Asdrúbal. De acordo com Políbio e Tito Lívio em suas histórias de Roma, Amílcar Barca, que morreu em 229 AEC, fez seu jovem filho Aníbal fazer um juramento de sangue contra Roma quando era apenas uma criança. Com a morte de Asdrúbal e 221 AEC, Aníbal passou a comandar as forças cartaginesas na Espanha. Dois anos depois, ele conduziu seu exército atravessando o rio Ebro em Sagunto, uma cidade ibérica sob proteção romana, efetivamente declarando guerra a Roma. A Segunda Guerra Púnica viu as tropas de Aníbal – que incluía até 90.000 homens na infantaria, 12.000 na cavalaria e vários elefantes – saírem da Espanha, atravessarem os Alpes e entrarem na Itália, onde conseguiram uma sequência de vitórias sobre as tropas romanas nas batalhas de Ticino, Trébia e Trasimeno. A ousada invasão de Aníbal a Roma alcançou seu auge em Cannae em 216 AEC, onde sua genialidade militar ficou evidente: ele usou sua cavalaria superior para cercar um exército romano duas vezes maior que o seu em tamanho e infligiu pesadas baixas.
Contudo, após essa desastrosa derrota, os romanos conseguiram se recuperar, e os cartagineses perderam poder na Itália à medida que Roma conquistava vitórias na Espanha e no norte da África sob o comando do ascendente jovem general Públio Cornélio Cipião (depois conhecido como Cipião Africano). Em 203 AEC, as forças de Aníbal foram forçadas a abandonar a luta na Itália para defender o norte da África, e no ano seguinte, o exército de Cipião derrotou os cartagineses em Zama. As perdas de Aníbal na Segunda Guerra Púnica efetivamente estabeleceram o final do império cartaginês no Mediterrâneo ocidental, deixando Roma no controle da Espanha e permitindo a Cartago reter apenas seu território no norte da África. Cartago também foi forçada a abrir mão de sua frota e a pagar uma grande indenização a Roma em prata.

A Terceira Guerra Púnica, de longe o mais controverso dos três conflitos entre Roma e Cartago, foi o resultado dos esforços de Marco Pórcio Catão (Catão o Velho) e de outros membros linha-dura do Senado Romano para convencer seus colegas que Cartago (mesmo em seu estado debilitado) era uma ameaça contínua à supremacia romana na região (Catão terminava os seus discursos no Senado com a frase “Carthago delenda est", “Cartago deve ser destruída!”). Em 149 AEC, depois de tecnicamente Cartago quebrar seu tratado com Roma ao declarar guerra ao estado vizinho da Numídia, os romanos enviaram um exército ao norte da África, começando a Terceira Guerra Púnica.
Cartago resistiu ao cerco romano por dois anos antes de uma mudança no comando romano colocar o jovem general Cipião Emiliano (depois conhecido com Cipião o Jovem) na liderança da campanha no norte da África em 147 AEC. Após fortalecer as posições romanas em volta de Cartago, Emiliano lançou um vigoroso ataque pelo porto da cidade na primavera de 146 AEC, penetrando na cidade e arrasando casa após casa, enquanto empurrava as tropas inimigas em direção à sua cidadela. Após sete dias de um terrível derramamento de sangue, os cartagineses se renderam aos romanos, que destruíram uma cidade que tinha existido por cerca de 700 anos. Os 50.000 cidadãos sobreviventes de Cartago foram vendidos como escravos. Também em 146 AEC, as tropas romanas se deslocaram para o leste e derrotaram o rei Filipe V da Macedônia nas Guerras Macedônicas. No final daquele ano, Roma reinava suprema sobre um império que se estendia da costa atlântica da península Ibérica às fronteiras da Grécia na Ásia Menor.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Tradições do solstício de verão

Para muitas das antigas civilizações o solstício de verão – o dia mais longo do ano – era visto com grande importância. As pessoas celebravam este dia especial, que cai em junho no hemisfério norte, com festivais, comemorações e outras práticas, algumas das quais ainda sobrevivem ou experimentam uma retomada nos tempos modernos.
Egípcios antigos – o solstício de verão era particularmente importante para os antigos egípcios porque coincidia com o começo da estação da cheia do Nilo. Acreditava-se que nesta época a deusa Isis derramava lágrimas de luto pela morte de seu marido Osíris, causando a elevação do rio e a fertilização do vale do Nilo. Festivais eram realizados em honra a ambas as divindades e celebrava fertilidade e abundância.

Gregos antigos – de acordo com certas variações do calendário grego – eles diferiam amplamente por região e época – o solstício de verão era o primeiro dia do ano. Vários festivais eram organizados por volta dessa época, incluindo o Cronia, que celebrava o deus da agricultura Cronos. O rigoroso código social era temporariamente suspenso durante o Cronia, com os escravos participando das festividades em igualdade ou até mesmo sendo servidos por seus senhores. O solstício de verão também marcava o início da contagem regressiva de um mês para o início dos jogos olímpicos.

Romanos antigos – nos dias que precediam o solstício de verão, os antigos romanos celebravam o festival de Vestália, que pagava tributo a Vesta, a deusa da família. Os rituais incluíam o sacrifício de um bezerro não nascido removido do útero de sua mãe. Esta era a única época do ano em que era permitido às mulheres casadas entrar no templo sagrado das virgens vestais e lá fazer suas oferendas.

Chineses antigos – Os antigos chineses participavam de uma cerimônia no solstício de verão em homenagem à terra, à feminilidade e à força conhecida como yin. Ela complementava o ritual de solstício de inverno, que era devotado ao paraíso, à masculinidade e ao yang.

Antigas tribos da Europa central e do norte – Muitos germânicos, eslavos e celtas pagãos saudavam o verão com fogueiras, uma tradição que ainda é apreciada na Alemanha, Áustria, Estônia e outros países. Algumas tribos antigas praticavam um ritual no qual casais pulavam as chamas para adivinhar o quanto as safras daquele ano iriam crescer.

Vikings – o início do verão era uma época crítica do ano para os navegantes nórdicos, que se encontravam para discutir assuntos legais e resolver disputas nos dias em torno do solstício de verão. Eles também visitavam poços que acreditavam ter poderes de cura e construíam grandes fogueiras. Hoje, as celebrações “vikings” do solstício de verão são populares entre residentes e turistas da Islândia.

Nativos americanos – muitas tribos nativas americanas participavam há vários séculos dos rituais do solstício de verão, alguns dos quais ainda praticados hoje em dia. Os sioux, por exemplo, executavam uma dança do sol cerimonial em volta de uma árvore vestindo cores simbólicas. Alguns estudiosos acreditam que a roda medicinal de Big Horn em Wyoming, um arranjo de pedras construído há várias centenas de anos pelos índios das planícies, alinha-se com o nascer e o por do sol do solstício, e era então o lugar da dança do sol anual daquela cultura.

Maias e astecas – enquanto não se sabe muito de como exatamente as poderosas civilizações pré-colombianas da América Central celebravam o solstício de verão, as ruínas de suas outrora grandes cidades indicam a grande importância desse dia. Templos, edifícios públicos e outras estruturas estavam amiúde precisamente alinhados com as sombras lançadas pelos principais fenômenos astrológicos, particularmente os solstícios de verão e inverno.

Druidas – os grandes sacerdotes celtas conhecidos como druidas provavelmente conduziam celebrações rituais durante o solstício de verão, mas – ao contrário da crença popular – é improvável que estas acontecessem em Stonehenge, o mais famoso círculo de pedra megalítico da Inglaterra. Apesar disso, pessoas que se identificam como druidas modernos continuam a se reunir no monumento para os solstícios de verão e de inverno e para os equinócios de primavera e outono.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Antigo Egito

Por quase 30 séculos – a partir de sua unificação por volta de 3100 AEC, à sua conquista por Alexandre o Grande em 332 AEC – o antigo Egito foi a principal civilização no mundo mediterrâneo. De suas grandes pirâmides do Antigo Império, passando pelas conquistas militares do Novo Reinado, a majestade do Egito tem há muito hipnotizado arqueólogos e historiadores e criou um vibrante campo de todo o seu estudo: a Egiptologia. As principais fontes de informação sobre o antigo Egito são seus muitos monumentos, objetos e artefatos que foram recuperados em seus sítios arqueológicos, cobertos com hieróglifos que foram decifrados no século XIX. O quadro que surge é o de uma cultura com poucos equivalentes na beleza de sua arte, nas suas realizações arquitetônicas e na riqueza de suas tradições religiosas.
Poucos registros escritos ou artefatos foram encontrados do período pré-dinástico (c. 5000-3100 AEC), que abrange pelo menos 2.000 anos do desenvolvimento gradual da civilização egípcia.
As comunidades neolíticas do nordeste da África trocaram gradualmente a caça pela agricultura e fizeram os primeiros avanços que pavimentariam o caminho para o desenvolvimento posterior egípcio das artes, tecnologia, política e religião (que incluía uma grande reverência aos mortos e possivelmente uma crença na vida após a morte).
Por volta de 3400 AEC, acredita-se que dois reinos separados foram estabelecidos: o do norte, baseado no delta do Nilo indo talvez até Atfih ao sul; e o do sul, que se estendia de Atfih ao longo do Nilo até Gebel es-Silsila. Um rei do sul, conhecido como Escorpião, fez as primeiras tentativas para conquistar o norte por volta de 3200 AEC. Um século depois, segundo o historiador Maneton (século III AEC), o rei Menés subjugaria o norte e unificaria o país, tornando-se o primeiro rei da primeira dinastia. No entanto, o mais antigo rei conhecido da primeira dinastia é Hor-Aha, e o primeiro rei a reivindicar ter unido as duas terras foi Narmer (o último rei do período pré-dinástico).

No período tinita (c. 3100-2686 AEC) a capital foi estabelecida no norte, em Mênfis, próximo ao delta. A capital se tornaria uma grande metrópole que dominaria a sociedade egípcia durante o período do Antigo Império. Neste período desenvolveram-se as bases da sociedade egípcia, incluindo a ideologia de grande significância de realeza. Para os antigos egípcios, o rei era um ser divino, intimamente identificado com o todo-poderoso deus Hórus. A escrita hieroglífica mais antiga também data deste período. Como em todos os outros períodos, a maioria dos antigos egípcios eram fazendeiros vivendo em pequenas vilas, e a agricultura (amplamente trigo e cevada) formava a base econômica do estado egípcio. As cheias anuais do rio Nilo forneciam a irrigação e a fertilização necessárias; os fazendeiros semeavam o trigo após a cheia recuar e colhiam-no antes que a estação seca e de altas temperaturas retornasse.

O Antigo Império (c. 2686-2181 AEC) começou coma III dinastia de faraós. Por volta de 2630 AEC, o rei Djoser pediu a Imhotep, um arquiteto, sacerdote e curandeiro, para projetar um monumento funerário para ele; o resultado foi a pirâmide de degraus de Saqqara, próximo a Mênfis. A edificação de pirâmides alcançou o seu auge com a construção da grande pirâmide de Gizé. Construída por Khufu (Quéops), que governou de 2589 a 2566 AEC, foi escolhida pelos historiadores clássicos como uma das sete maravilhas do mundo antigo. Duas outras pirâmides foram construídas em Gizé pelos sucessores de Khufu, Khafra (Quefrén, 2558-2532 AEC) e Menkaure (Miquerinos, 2532-2503 AEC).
Durante as III e IV dinastias, o Egito desfrutou de uma era de paz e prosperidade. Os faraós detinham poder absoluto com um governo central estável; o reino não enfrentou ameaças significativas do exterior e campanhas militares bem sucedidas adicionaram territórios como Núbia e Líbia à sua considerável prosperidade econômica. Durante as V e VI dinastias, a riqueza real foi gradualmente depredada, parcialmente devido às imensas despesas com a construção de pirâmides, e o seu poder absoluto vacilou frente à crescente influência da nobreza e do sacerdócio que crescia em torno do deus solar Rá. Após a morte do rei da VI dinastia Pepi II, que governou por cerca de 94 anos, o período do Antigo Império terminou em caos.

No primeiro período intermediário (c. 2181-2055 AEC), imediatamente após o colapso do Antigo Império, as VII e VIII dinastias consistiram de uma rápida sucessão de governantes baseados em Mênfis até cerca de 2160 AEC, quando a autoridade central se dissolveu completamente, levando à guerra civil entre os governadores provinciais. Essa situação caótica foi intensificada por invasões beduínas e acompanhada por fome e doenças.
Desta era de conflito surgiram dois diferentes reinos: uma linhagem de 17 governantes (IX e X dinastias) baseada em Heracleópolis governou o Médio Egito, entre Mênfis e Tebas, enquanto outra família de governantes existia em Tebas desafiando o poder heracleopolitano. Por volta de 2055 AEC, o príncipe tebano Mentuhotep conseguiu derrubar Heracleópolis e reunificou o Egito, dando início à XI dinastia, encerrando o primeiro período intermediário.

Após Mentuhotep IV, o último governante da XI dinastia ser assassinado, o trono passou para seu vizir, ou ministro chefe, que se tornou o faraó Amenemhet I, fundador da XII dinastia. Uma nova capital foi estabelecida em It-towy, ao sul de Mênfis, enquanto Tebas permaneceu como um grande centro religioso. Durante o Médio Império (c. 2055-1786 AEC), o Egito mais uma vez prosperou. Os reis da XII dinastia asseguraram a sucessão estável de sua linhagem tornando cada sucessor corregente, um costume que começou com Amenemhet I.
O Egito do Médio Império seguiu uma agressiva política externa, colonizando a Núbia (com seus ricos suprimentos de ouro, ébano, marfim e outros recursos) e repelindo os beduínos que tinham se infiltrado durante o primeiro período intermediário. O reino também estabeleceu relações diplomáticas e comerciais com Síria, Palestina e outras regiões, tomou para si projetos de construção que incluíam fortalezas militares e pedreiras e retomou a construção de pirâmides na tradição do Antigo Império. O Médio Império alcançou seu auge sob Amenemhet III (1842-1797 AEC); seu declínio começou sob Amenemhet IV (1798-1790 AEC) e continuou sob sua irmã e regente, a rainha Sobekneferu (1789-1786 AEC), a primeira mulher, pelo que se sabe até aqui, a governar o Egito, que foi a última soberana da XII dinastia.

A XIII dinastia marcou o início de outro período confuso na história egípcia, durante o qual uma rápida sucessão de reis fracassou em consolidar o poder. Como consequência, durante o segundo período intermediário (c. 1786-1567 AEC) o Egito foi dividido em várias esferas de influência. A corte real oficial e a sede do governo foram relocados para Tebas, enquanto uma dinastia rival (XIV dinastia), com sua capital na cidade de Xois no delta do Nilo, parece ter existido simultaneamente à XIII.
Por volta de 1650 AEC, uma linhagem de governantes estrangeiros conhecida com hicsos se aproveitou da instabilidade para tomar o poder. Os governantes hicsos da XV dinastia adotaram e deram continuidade a muitas das tradições egípcias existentes no governo, assim como na cultura. Eles governaram no mesmo período da linhagem nativa de governantes tebanos da XVII dinastia, que reteve o controle sobre a maior parte do sul do Egito, apesar de ter que pagar tributos aos hicsos (a XVI dinastia é alternadamente considerada como sendo de governantes tebanos ou hicsos). Com o tempo, foram ocorrendo conflitos entre os dois grupos, e os tebanos entraram em guerra contra os hicsos por volta de 1570 AEC, expulsando-os do Egito.

Sob Ahmés I, o primeiro rei da XVIII dinastia, o Egito mais uma vez foi reunificado. Durante a XVIII dinastia, a primeira do período conhecido com Novo Império (c. 1567-1085 AEC), o Egito restaurou seu controle sobre a Núbia e iniciou campanhas militares na Palestina, confrontando-se com outras potências na região, como o reino hurrita de Mitanni e os hititas. O país estabeleceu o primeiro grande império mundial, estendendo-se da Núbia ao rio Eufrates na Ásia. Além de reis poderosos como Amenófis I (1546-1526 AEC), Tutmósis I (1525-1512 AEC) e Amenófis III (1417-1379 AEC), O Novo Império foi notável pelo desempenho de mulheres reais como a rainha Hatshepsut (1503-1482 AEC), que começou governando como regente de seu jovem enteado (que depois se tornou Tutmósis III, o maior conquistador militar do antigo Egito), mas que se ergueu para exercer todos os poderes de um faraó.
O controverso Amenófis IV (c. 1379-1362), do final da XVIII dinastia, responsabilizou-se por uma revolução religiosa, dissolvendo o sacerdócio dedicado a Amon-Rá (uma combinação do deus tebano Amon e da divindade solar Rá) e forçando a adoração exclusiva de outro deus-sol, Aton. Trocando seu nome para Akhenaton (“servo de Aton”), ele construiu uma nova capital no Médio Egito chamada Akhetaton, depois conhecida como Amarna. Foi para Aton que ele compôs um poético hino que aparece entre os escritos mais belos da literatura egípcia: o “Hino a Aton”. Com a morte de Akhenaton, a capital retornou para Tebas e os egípcios voltaram a adorar vários deuses. As XIX e XX dinastias, conhecidas como período raméssida (pela sucessão de reis chamados Ramsés), viram a restauração do enfraquecido império egípcio e uma impressionante quantidade de construções, inclusive de grandes templos e cidades. De acordo com a cronologia bíblica, o êxodo de Moisés e dos israelitas do Egito possivelmente ocorreu durante o reinado de Ramsés II (1304-1237 AEC).
Todos os governantes do Novo Império (à exceção de Akhenaton) foram sepultados em profundas tumbas escavadas na rocha (não em pirâmides) no Vale dos Reis, na margem ocidental do Nilo em frente a Tebas. A maioria delas foi saqueada ou destruída, com a exceção da tumba e do tesouro de Tutancâmon (c. 1361-1352 AEC), descoberta praticamente intacta em 1922 por Howard Carter. O esplêndido templo mortuário do último grande rei da XX dinastia, Ramsés III (c. 1187-1156 AEC), também estava relativamente preservado, e ressaltou a prosperidade que o Egito ainda desfrutava durante o seu reinado. Os reis que seguiram Ramsés III tiveram menos sucesso: o Egito perdeu definitivamente suas províncias na Palestina e na Síria e sofreu invasões estrangeiras, notavelmente de líbios e dos “povos do mar”, enquanto sua riqueza foi sendo gradual e inevitavelmente depredada.

Os 400 anos seguintes – conhecidos como terceiro período intermediário (c. 1085-664 AEC) – acompanharam importantes mudanças políticas, sociais e culturais egípcias. O governo centralizado sob os faraós da XXI dinastia deu lugar ao ressurgimento de autoridades locais, até que os estrangeiros da Líbia e da Núbia tomaram o poder à força para si, deixando uma marca duradoura na população egípcia. A XXII dinastia iniciou-se por volta de 945 AEC, com o rei Sheshonk, um descendente dos líbios que invadiram o Egito durante o final da XX dinastia e lá se estabeleceram. Muitos governantes locais foram virtualmente autônomos durante este período e as XXIII e XXIV dinastias são pobremente documentadas.
No século VIII AEC, os faraós núbios chegaram ao poder com Shabaka, governante do reino núbio de Kush, que estabeleceu sua própria dinastia – a XXV – em Tebas. Sob o governo cuchita, o Egito confrontou o crescente império assírio. Em 671 AEC, o governante assírio Esarhaddon expulsou o faraó cuchita Taharka de Mênfis e destruiu a cidade; ele então nomeou seus próprios governantes escolhidos entre governadores e autoridades locais leais aos assírios. Um deles, Necao de Sais, governou brevemente como o primeiro rei da XXVI dinastia (saíta) antes de ser morto pelo líder cuchita Tantamon, numa tomada de poder final malsucedida.

Iniciando-se com o filho de Necao, Psamético, a dinastia saíta governou um Egito reunificado por menos de dois séculos. Em 525 AEC, Cambises, rei da Pérsia, derrotou Psamético III, o último rei saíta, na batalha de Pelúsio, e o Egito se tornou uma satrápia do Império Persa. Os soberanos persas, como Dario (522-485 AEC), governaram o país predominantemente sob os mesmos termos dos reis egípcios: Dario apoiou os cultos religiosos e se responsabilizou pela construção e restauração de seus templos. O governo tirânico de Xerxes (486-465 AEC) desencadeou revoltas no seu e nos reinados de seus sucessores. Uma dessas rebeliões triunfou em 404 AEC, iniciando um último período de independência sob governantes nativos (XXVIII, XXIX e XXX dinastias).
Na metade do século IV AEC, os persas novamente atacaram o Egito, restaurando seu domínio sob Artaxerxes III em 343 AEC. Apenas uma década depois, em 332 AEC, Alexandre o Grande da Macedônia derrotou os exércitos do Império Persa e conquistou o Egito. Após a morte de Alexandre, o Egito foi governado por uma linhagem de governantes macedônios, dinastia que se iniciou com um dos generais de Alexandre, Ptolomeu, e continuou com seus descendentes. O último governante ptolomaico do Egito – a lendária Cleópatra VII – entregou o Egito aos exércitos de Otaviano em 31 AEC. Seguiram-se seis séculos de domínio romano, durante os quais o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma e de suas províncias (inclusive do Egito). A conquista do Egito pelos árabes no século VII e a introdução do islamismo acabaria com os últimos aspectos visíveis da cultura do antigo Egito e empurraria o país na direção de sua forma moderna.