quinta-feira, 23 de junho de 2011

Antigo Egito

Por quase 30 séculos – a partir de sua unificação por volta de 3100 AEC, à sua conquista por Alexandre o Grande em 332 AEC – o antigo Egito foi a principal civilização no mundo mediterrâneo. De suas grandes pirâmides do Antigo Império, passando pelas conquistas militares do Novo Reinado, a majestade do Egito tem há muito hipnotizado arqueólogos e historiadores e criou um vibrante campo de todo o seu estudo: a Egiptologia. As principais fontes de informação sobre o antigo Egito são seus muitos monumentos, objetos e artefatos que foram recuperados em seus sítios arqueológicos, cobertos com hieróglifos que foram decifrados no século XIX. O quadro que surge é o de uma cultura com poucos equivalentes na beleza de sua arte, nas suas realizações arquitetônicas e na riqueza de suas tradições religiosas.
Poucos registros escritos ou artefatos foram encontrados do período pré-dinástico (c. 5000-3100 AEC), que abrange pelo menos 2.000 anos do desenvolvimento gradual da civilização egípcia.
As comunidades neolíticas do nordeste da África trocaram gradualmente a caça pela agricultura e fizeram os primeiros avanços que pavimentariam o caminho para o desenvolvimento posterior egípcio das artes, tecnologia, política e religião (que incluía uma grande reverência aos mortos e possivelmente uma crença na vida após a morte).
Por volta de 3400 AEC, acredita-se que dois reinos separados foram estabelecidos: o do norte, baseado no delta do Nilo indo talvez até Atfih ao sul; e o do sul, que se estendia de Atfih ao longo do Nilo até Gebel es-Silsila. Um rei do sul, conhecido como Escorpião, fez as primeiras tentativas para conquistar o norte por volta de 3200 AEC. Um século depois, segundo o historiador Maneton (século III AEC), o rei Menés subjugaria o norte e unificaria o país, tornando-se o primeiro rei da primeira dinastia. No entanto, o mais antigo rei conhecido da primeira dinastia é Hor-Aha, e o primeiro rei a reivindicar ter unido as duas terras foi Narmer (o último rei do período pré-dinástico).

No período tinita (c. 3100-2686 AEC) a capital foi estabelecida no norte, em Mênfis, próximo ao delta. A capital se tornaria uma grande metrópole que dominaria a sociedade egípcia durante o período do Antigo Império. Neste período desenvolveram-se as bases da sociedade egípcia, incluindo a ideologia de grande significância de realeza. Para os antigos egípcios, o rei era um ser divino, intimamente identificado com o todo-poderoso deus Hórus. A escrita hieroglífica mais antiga também data deste período. Como em todos os outros períodos, a maioria dos antigos egípcios eram fazendeiros vivendo em pequenas vilas, e a agricultura (amplamente trigo e cevada) formava a base econômica do estado egípcio. As cheias anuais do rio Nilo forneciam a irrigação e a fertilização necessárias; os fazendeiros semeavam o trigo após a cheia recuar e colhiam-no antes que a estação seca e de altas temperaturas retornasse.

O Antigo Império (c. 2686-2181 AEC) começou coma III dinastia de faraós. Por volta de 2630 AEC, o rei Djoser pediu a Imhotep, um arquiteto, sacerdote e curandeiro, para projetar um monumento funerário para ele; o resultado foi a pirâmide de degraus de Saqqara, próximo a Mênfis. A edificação de pirâmides alcançou o seu auge com a construção da grande pirâmide de Gizé. Construída por Khufu (Quéops), que governou de 2589 a 2566 AEC, foi escolhida pelos historiadores clássicos como uma das sete maravilhas do mundo antigo. Duas outras pirâmides foram construídas em Gizé pelos sucessores de Khufu, Khafra (Quefrén, 2558-2532 AEC) e Menkaure (Miquerinos, 2532-2503 AEC).
Durante as III e IV dinastias, o Egito desfrutou de uma era de paz e prosperidade. Os faraós detinham poder absoluto com um governo central estável; o reino não enfrentou ameaças significativas do exterior e campanhas militares bem sucedidas adicionaram territórios como Núbia e Líbia à sua considerável prosperidade econômica. Durante as V e VI dinastias, a riqueza real foi gradualmente depredada, parcialmente devido às imensas despesas com a construção de pirâmides, e o seu poder absoluto vacilou frente à crescente influência da nobreza e do sacerdócio que crescia em torno do deus solar Rá. Após a morte do rei da VI dinastia Pepi II, que governou por cerca de 94 anos, o período do Antigo Império terminou em caos.

No primeiro período intermediário (c. 2181-2055 AEC), imediatamente após o colapso do Antigo Império, as VII e VIII dinastias consistiram de uma rápida sucessão de governantes baseados em Mênfis até cerca de 2160 AEC, quando a autoridade central se dissolveu completamente, levando à guerra civil entre os governadores provinciais. Essa situação caótica foi intensificada por invasões beduínas e acompanhada por fome e doenças.
Desta era de conflito surgiram dois diferentes reinos: uma linhagem de 17 governantes (IX e X dinastias) baseada em Heracleópolis governou o Médio Egito, entre Mênfis e Tebas, enquanto outra família de governantes existia em Tebas desafiando o poder heracleopolitano. Por volta de 2055 AEC, o príncipe tebano Mentuhotep conseguiu derrubar Heracleópolis e reunificou o Egito, dando início à XI dinastia, encerrando o primeiro período intermediário.

Após Mentuhotep IV, o último governante da XI dinastia ser assassinado, o trono passou para seu vizir, ou ministro chefe, que se tornou o faraó Amenemhet I, fundador da XII dinastia. Uma nova capital foi estabelecida em It-towy, ao sul de Mênfis, enquanto Tebas permaneceu como um grande centro religioso. Durante o Médio Império (c. 2055-1786 AEC), o Egito mais uma vez prosperou. Os reis da XII dinastia asseguraram a sucessão estável de sua linhagem tornando cada sucessor corregente, um costume que começou com Amenemhet I.
O Egito do Médio Império seguiu uma agressiva política externa, colonizando a Núbia (com seus ricos suprimentos de ouro, ébano, marfim e outros recursos) e repelindo os beduínos que tinham se infiltrado durante o primeiro período intermediário. O reino também estabeleceu relações diplomáticas e comerciais com Síria, Palestina e outras regiões, tomou para si projetos de construção que incluíam fortalezas militares e pedreiras e retomou a construção de pirâmides na tradição do Antigo Império. O Médio Império alcançou seu auge sob Amenemhet III (1842-1797 AEC); seu declínio começou sob Amenemhet IV (1798-1790 AEC) e continuou sob sua irmã e regente, a rainha Sobekneferu (1789-1786 AEC), a primeira mulher, pelo que se sabe até aqui, a governar o Egito, que foi a última soberana da XII dinastia.

A XIII dinastia marcou o início de outro período confuso na história egípcia, durante o qual uma rápida sucessão de reis fracassou em consolidar o poder. Como consequência, durante o segundo período intermediário (c. 1786-1567 AEC) o Egito foi dividido em várias esferas de influência. A corte real oficial e a sede do governo foram relocados para Tebas, enquanto uma dinastia rival (XIV dinastia), com sua capital na cidade de Xois no delta do Nilo, parece ter existido simultaneamente à XIII.
Por volta de 1650 AEC, uma linhagem de governantes estrangeiros conhecida com hicsos se aproveitou da instabilidade para tomar o poder. Os governantes hicsos da XV dinastia adotaram e deram continuidade a muitas das tradições egípcias existentes no governo, assim como na cultura. Eles governaram no mesmo período da linhagem nativa de governantes tebanos da XVII dinastia, que reteve o controle sobre a maior parte do sul do Egito, apesar de ter que pagar tributos aos hicsos (a XVI dinastia é alternadamente considerada como sendo de governantes tebanos ou hicsos). Com o tempo, foram ocorrendo conflitos entre os dois grupos, e os tebanos entraram em guerra contra os hicsos por volta de 1570 AEC, expulsando-os do Egito.

Sob Ahmés I, o primeiro rei da XVIII dinastia, o Egito mais uma vez foi reunificado. Durante a XVIII dinastia, a primeira do período conhecido com Novo Império (c. 1567-1085 AEC), o Egito restaurou seu controle sobre a Núbia e iniciou campanhas militares na Palestina, confrontando-se com outras potências na região, como o reino hurrita de Mitanni e os hititas. O país estabeleceu o primeiro grande império mundial, estendendo-se da Núbia ao rio Eufrates na Ásia. Além de reis poderosos como Amenófis I (1546-1526 AEC), Tutmósis I (1525-1512 AEC) e Amenófis III (1417-1379 AEC), O Novo Império foi notável pelo desempenho de mulheres reais como a rainha Hatshepsut (1503-1482 AEC), que começou governando como regente de seu jovem enteado (que depois se tornou Tutmósis III, o maior conquistador militar do antigo Egito), mas que se ergueu para exercer todos os poderes de um faraó.
O controverso Amenófis IV (c. 1379-1362), do final da XVIII dinastia, responsabilizou-se por uma revolução religiosa, dissolvendo o sacerdócio dedicado a Amon-Rá (uma combinação do deus tebano Amon e da divindade solar Rá) e forçando a adoração exclusiva de outro deus-sol, Aton. Trocando seu nome para Akhenaton (“servo de Aton”), ele construiu uma nova capital no Médio Egito chamada Akhetaton, depois conhecida como Amarna. Foi para Aton que ele compôs um poético hino que aparece entre os escritos mais belos da literatura egípcia: o “Hino a Aton”. Com a morte de Akhenaton, a capital retornou para Tebas e os egípcios voltaram a adorar vários deuses. As XIX e XX dinastias, conhecidas como período raméssida (pela sucessão de reis chamados Ramsés), viram a restauração do enfraquecido império egípcio e uma impressionante quantidade de construções, inclusive de grandes templos e cidades. De acordo com a cronologia bíblica, o êxodo de Moisés e dos israelitas do Egito possivelmente ocorreu durante o reinado de Ramsés II (1304-1237 AEC).
Todos os governantes do Novo Império (à exceção de Akhenaton) foram sepultados em profundas tumbas escavadas na rocha (não em pirâmides) no Vale dos Reis, na margem ocidental do Nilo em frente a Tebas. A maioria delas foi saqueada ou destruída, com a exceção da tumba e do tesouro de Tutancâmon (c. 1361-1352 AEC), descoberta praticamente intacta em 1922 por Howard Carter. O esplêndido templo mortuário do último grande rei da XX dinastia, Ramsés III (c. 1187-1156 AEC), também estava relativamente preservado, e ressaltou a prosperidade que o Egito ainda desfrutava durante o seu reinado. Os reis que seguiram Ramsés III tiveram menos sucesso: o Egito perdeu definitivamente suas províncias na Palestina e na Síria e sofreu invasões estrangeiras, notavelmente de líbios e dos “povos do mar”, enquanto sua riqueza foi sendo gradual e inevitavelmente depredada.

Os 400 anos seguintes – conhecidos como terceiro período intermediário (c. 1085-664 AEC) – acompanharam importantes mudanças políticas, sociais e culturais egípcias. O governo centralizado sob os faraós da XXI dinastia deu lugar ao ressurgimento de autoridades locais, até que os estrangeiros da Líbia e da Núbia tomaram o poder à força para si, deixando uma marca duradoura na população egípcia. A XXII dinastia iniciou-se por volta de 945 AEC, com o rei Sheshonk, um descendente dos líbios que invadiram o Egito durante o final da XX dinastia e lá se estabeleceram. Muitos governantes locais foram virtualmente autônomos durante este período e as XXIII e XXIV dinastias são pobremente documentadas.
No século VIII AEC, os faraós núbios chegaram ao poder com Shabaka, governante do reino núbio de Kush, que estabeleceu sua própria dinastia – a XXV – em Tebas. Sob o governo cuchita, o Egito confrontou o crescente império assírio. Em 671 AEC, o governante assírio Esarhaddon expulsou o faraó cuchita Taharka de Mênfis e destruiu a cidade; ele então nomeou seus próprios governantes escolhidos entre governadores e autoridades locais leais aos assírios. Um deles, Necao de Sais, governou brevemente como o primeiro rei da XXVI dinastia (saíta) antes de ser morto pelo líder cuchita Tantamon, numa tomada de poder final malsucedida.

Iniciando-se com o filho de Necao, Psamético, a dinastia saíta governou um Egito reunificado por menos de dois séculos. Em 525 AEC, Cambises, rei da Pérsia, derrotou Psamético III, o último rei saíta, na batalha de Pelúsio, e o Egito se tornou uma satrápia do Império Persa. Os soberanos persas, como Dario (522-485 AEC), governaram o país predominantemente sob os mesmos termos dos reis egípcios: Dario apoiou os cultos religiosos e se responsabilizou pela construção e restauração de seus templos. O governo tirânico de Xerxes (486-465 AEC) desencadeou revoltas no seu e nos reinados de seus sucessores. Uma dessas rebeliões triunfou em 404 AEC, iniciando um último período de independência sob governantes nativos (XXVIII, XXIX e XXX dinastias).
Na metade do século IV AEC, os persas novamente atacaram o Egito, restaurando seu domínio sob Artaxerxes III em 343 AEC. Apenas uma década depois, em 332 AEC, Alexandre o Grande da Macedônia derrotou os exércitos do Império Persa e conquistou o Egito. Após a morte de Alexandre, o Egito foi governado por uma linhagem de governantes macedônios, dinastia que se iniciou com um dos generais de Alexandre, Ptolomeu, e continuou com seus descendentes. O último governante ptolomaico do Egito – a lendária Cleópatra VII – entregou o Egito aos exércitos de Otaviano em 31 AEC. Seguiram-se seis séculos de domínio romano, durante os quais o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma e de suas províncias (inclusive do Egito). A conquista do Egito pelos árabes no século VII e a introdução do islamismo acabaria com os últimos aspectos visíveis da cultura do antigo Egito e empurraria o país na direção de sua forma moderna.


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