quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ferramentas de pedra descobertas na Arábia forçam os arqueólogos a repensar a história humana

As ferramentas encontradas no sul da Arábia datam de 125.000 anos atrás - 55.000 anos antes do que se pensava quanto aos humanos terem saído da África.
Machados manuais de pedra pertencentes a humanos que
viveram na Arábia há mais de 100.000 anos.
Fotografia: AAAS/Science/PA

Um conjunto espetacular de ferramentas de pedra descobertas embaixo de um abrigo de rocha desmoronado no sul da Arábia obrigou a uma importante reflexão da história da migração humana para fora da África. A coleção de machados manuais e outras ferramentas modeladas para cortar, furar e lixar trazem a marca das primeiras manufaturas humanas, mas datam de 125.000 anos atrás, cerca de 55.000 anos antes do que se acreditava nossos ancestrais terem deixado o continente.
Os artefatos, descobertos nos Emirados Árabes Unidos, apontam para uma dispersão muito anterior dos antigos humanos, que provavelmente tomaram um atalho partindo do Chifre da África para a península Arábica cruzando um canal raso no mar Vermelho que se tornou transitável no final de uma idade do gelo. Um vez estabelecidos, estes pioneiros devem ter prosseguido através do golfo Pérsico, talvez alcançando a Índia, a Indonésia e até mesmo a Austrália.
Michael Petraglia, arqueólogo da Universidade de Oxford, que não esteve envolvido no trabalho, disse à revista Science: "isto é realmente espetacular. Destrói o apoio da atual visão de consenso".
Os humanos anatomicamente modernos - aqueles semelhantes às pessoas vivas atualmente - evoluíram na África há cerca de 200.000 anos. Até agora, a maior parte da evidência arqueológica tem apoiado um êxodo a partir da África ou várias ondas de migrações, ao longo da costa mediterrânea ou do litoral árabe entre 80.000 e 60.000 anos atrás.
Uma equipe liderada por Hans-Peter Uerpmann da Universidade de Tübingen na Alemanha descobriu as mais antigas ferramentas de pedra enquanto escavavam sedimentos na base de uma protuberância desmoronada localizada numa montanha calcária chamada Jebel Faya, localizada a cerca de 55 km do litoral do golfo Pérsico. Escavações anteriores no sítio tinha encontrado artefatos da dos períodos do ferro, bronze e neolítico, evidência de que a formação rochosa forneceu milênios de abrigo natural para os humanos.
O grupo de ferramentas inclui pequenos machados manuais e lâminas bilaterais que são consideravelmente similares àquelas fabricadas pelos primeiros humanos no leste da África. Os ppesquisadores temporariamente rejeitaram a possibilidade de outros hominíneos terem feito as ferramentas, tais como os neandertais que já ocupavam a Europa e norte da Ásia, mas que não estavam na Arábia na época.
As pedras, uma forma de rocha rica em sílica chamada sílex córneo, foram datadas por Simon Armitage, um pesquisador da Royal Holloway, da Universidade de Londres, usando uma técnica que mede até onde os grãos de areia em volta dos artefatos foram queimados. Outra parte do trabalho dos arqueólogos, descrito na Science, concentrou-se nos registros de mudanças climáticas e no histórico do nível do mar na região. Eles mostram que, entre 200.000 e 130.000 anos atrás, uma idade do gelo global causou quedas nos níveis dos mares em até 100 metros, enquanto os desertos do Saara e da Arábia se expandiram em regiões vastas, desoladas e inóspitas.
Mas à medida que o clima esquentou no final da idade do gelo, chuvas refrescantes caíam sobre a Arábia, tornando a região acessível à ocupação humana. " O interior antes árido da Arábia teria sido tranformado em uma paisagem amplamente coberta de savanas, com sistemas de abrangentes de rios e lagos", disse Adrian Parker, pesquisador da Universidade Oxford Brookes e coautor do artigo.
A revitalização da Arábia coincidiu com registros de baixos níveis do mar, que deixou apenas uma faixa rasa de água de cerca de cinco quilômetros no estreito de Bab al Mandab que separa o leste da África da península Arábica. Uerpmann disse qie os primeiros humanos caminhado ou atravessado com dificuldade, mas acrescentou: "Eles poderiam ter usado jangadas ou canoas, que eles certamente poderiam fazer na época".
Os recém-chegados teriam encontrado bons campos de caça no final de sua jornada, abundante em asnos selvagens, gazelas e cabritos monteses, disse Uerpmann.
A descoberta estimulou o debate entre os arqueólogos, alguns dos quais dizem que é preciso evidências mais fortes para das suporte às afirmações dos perquisadores. "Eu não estou totalmente convencido", disse à Science o arqueólogo da Universidade de Cambridge, Paul Mellars. "Não há aqui um pedaço de evidência de que estas ferramentas tenham sido feitas por humanos modernos, nem que eles tenham vindo da África".
Chris Stringer, paleontólogo do Museu de História Natural de Londres, disse: "A região da Arábia tem sido terra incognita na tentativa de mapear a dispersão dos humanos modernos a partir da África durante os últimos 120.000 anos, levando a muita teorização frente a poucos dados".
"Apesar da desconcertante falta de diagnóstico da evidência fóssil, este trabalho fornece sinais importantes de que os primeiros humanos modernos talvez tenham se dispersado a partir da África através da Arábia, até o estreito de Ormuz, há 120.000 anos".

(Fonte: Science)

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