sábado, 25 de junho de 2011

Cruzadas

A primeira das cruzadas teve início em 1095, quando exércitos de cristãos da Europa ocidental responderam ao apelo do papa Urbano II para irem à guerra contra as forças muçulmanas na Terra Santa. Após a Primeira Cruzada alcançar seu objetivo com a captura de Jerusalém em 1099, os invasores cristãos estabeleceram vários estados latinos cristãos, mesmo com os muçulmanos prometendo fazer guerra santa (jihad) para reconquistar o controle sobre a região. A deterioração das relações entre os cruzados e seus aliados cristãos no Império Bizantino culminou no saque de Constantinopla em 1204 durante a Terceira Cruzada. Quase no final do século XIII, a ascendente dinastia mameluca no Egito realizou o ajuste de contas final com os cruzados, fazendo cair a fortaleza costeira de Acre e expulsando os invasores europeus da Palestina e da Síria em 1291.
No final do século XI, a Europa ocidental tinha emergido como um poder significativo em si mesmo, embora ainda muito atrasada em relação a outras civilizações mediterrâneas tais como o Império Bizantino (anteriormente a parte oriental do Império Romano) e o império islâmico do Oriente Médio e norte da África. Enquanto isso, Bizâncio estava perdendo território consideravelmente para os turcos seljúcidas invasores, que derrotaram o exército bizantino na batalha de Manzikirt em 1071 e continuaram até conquistar o controle da maior parte da Anatólia. Após anos de caos e guerra civil, Aleixo Comneno tomou o trono bizantino em 1081 e consolidou o controle sobre o que restava do império.
Em 1095, Aleixo I enviou mensageiros ao papa Urbano II solicitando tropas mercenárias do Ocidente para ajudar a enfrentar a ameaça turca. Apesar das relações entre cristãos ocidentais e orientais não serem boas, o pedido de Aleixo chegou numa época em que a situação estava melhorando. Em novembro de 1095, no Concílio de Clermont no sul da França, o papa exortou os cristãos ocidentais a levantar exércitos para ajudar os bizantinos e recapturar a Terra Santa do controle muçulmano. O apelo do papa Urbano foi respondido extraordinariamente, tanto entre os níveis mais baixos da elite militar (que formariam uma nova classe de cavaleiros) como entre os cidadãos comuns; foi determinado que aqueles que se juntassem à peregrinação armada usariam uma cruz como símbolo da Igreja.
Quatro exércitos de cruzados foram formados por tropas de diferentes regiões da Europa ocidental, liderados por Raimundo de Saint-Gilles, Godofredo de Bouillon, Hugo de Vermandois e Boemundo de Taranto (com seu sobrinho Tancredo); eles estavam prontos para partir com destino a Bizâncio em agosto de 1096. Um bando menos organizado de cavaleiros e plebeus conhecido como “Cruzada Popular” partiu antes dos outros, sob o comando de um pregador popular conhecido como Pedro o Eremita. O exército de Pedro perambulou pelo Império Bizantino, deixando um rastro de destruição por onde passava. Resistindo ao aviso de Aleixo para esperar pelo resto dos cruzados, eles atravessaram o Bósforo no começo de agosto. No primeiro confronto importante entre cruzados e muçulmanos, as forças turcas esmagaram os invasores europeus em Cibotus. Outro grupo de cruzados, liderado pelo notório conde Emich, realizou uma série de massacres de judeus em várias cidades da Renânia em 1096, atraindo indignação generalizada e causando uma importante crise nas relações entre cristãos e judeus.
Quando os quatro exércitos principais de cruzados chegaram a Constantinopla, Aleixo insistiu que seus líderes fizessem um juramento de lealdade a ele e reconhecessem sua autoridade sobre qualquer terra recuperada dos turcos, assim como sobre qualquer território que eles pudessem conquistar; todos, menos Boemundo, opuseram-se a fazer o juramento. Em maio de 1097, os cruzados e seus aliados bizantinos atacaram Niceia (atual İznik, Turquia), a capital seljúcida na Anatólia; a cidade se rendeu no final de junho. Apesar das relações deteriorantes entre os cruzados e os líderes bizantinos, a força combinada continuou sua marcha através da Anatólia, capturando a grande cidade síria de Antióquia em junho de 1098. Após várias disputas internas pelo controle de Antióquia, os cruzados começaram sua marcha em direção a Jerusalém, então ocupada pelos fatímidas egípcios (que como muçulmanos xiitas eram inimigos dos seljúcidas sunitas). Acampando diante de Jerusalém em junho de 1099, os cristãos forçaram o governador da cidade sitiada a se render na metade de julho. Apesar da promessa de Tancredo de proteção, os cruzados massacraram centenas de homens, mulheres e crianças em sua vitoriosa entrada na cidade.
Tendo alcançado seu objetivo em um inesperado curto espaço de tempo, muitos cruzados partiram para casa. Para governar o território conquistado, aqueles que ficaram estabeleceram quatro grandes estados cruzados: em Jerusalém, Edessa, Antióquia e Trípoli. Protegidos por castelos formidáveis, os estados cruzados mantiveram a supremacia na região até cerca de 1130, quando forças muçulmanas começaram a ganhar terreno em sua própria guerra santa (jihad) contra os cristãos, a quem eles chamavam de “francos”. Em 1144, o general seljúcida Zangi, governador de Mosul, capturou Edessa, levando à perda do estado cruzado mais setentrional.
A notícia da queda de Edessa abalou a Europa, e levou as autoridades cristãs no Ocidente a requererem uma nova cruzada. Liderada por dois grandes soberanos, o rei Luís VII da França e o sacro imperador romano-germânico Conrado III, a Segunda Cruzada teve início em 1147. Em outubro desse ano, os turcos esmagaram as forças de Conrado em Dorylaeum, lugar de uma grande vitória cristã durante a Primeira Cruzada. Após Luís e Conrado conseguirem suas tropas em Jerusalém, eles decidiram atacar a fortaleza síria de Damasco com um exército de cerca de 50.000 homens (a maior força cruzada até então). Anteriormente de boa disposição para com os francos, o governador de Damasco foi forçado a apelar por ajuda a Nur al-Din, sucessor de Zangi em Mosul. As forças combinadas muçulmanas impuseram uma humilhante derrota aos cruzados, terminando decisivamente a Segunda Cruzada; Nur al-Din acrescentaria Damasco ao seu crescente império em 1154.
Após várias tentativas dos cruzados de Jerusalém para capturar o Egito, as forças de Nur al-Din (lideradas pelo general Shirkuh e por seu sobrinho. Saladino), tomaram o Cairo em 1169 e forçaram o exército cruzado a se retirar. Com a morte subsequente de Shirkuh, Saladino assumiu o controle e começou uma campanha de conquistas que se acelerou após a morte de Nur al-Din em 1174. Em 1187, Saladino deu início a uma importante campanha contra o reino cruzado de Jerusalém. Suas tropas na prática destruíram o exército cristão na batalha de Hattin, tomando a cidade e grande parte do seu território.
A indignação por estas derrotas inspirou a Terceira Cruzada, liderada pelo envelhecido sacro-imperador Frederico Barbarossa (que morreu afogado na Anatólia antes que seu exército alcançasse a Síria), pelo rei Filipe II da França e pelo rei Ricardo Coração de Leão da Inglaterra. Em setembro de 1191, as forças de Ricardo derrotaram as de Saladino na batalha de Arsuf; esta seria a única batalha verdadeira da Terceira Cruzada. Com a retomada da cidade de Jaffa, Ricardo estabeleceu o controle cristão sobre parte da região e se aproximou de Jerusalém, embora ele tenha se recusado a sitiar a cidade. Em setembro de 1192, Ricardo e Saladino assinaram um tratado de paz que restabeleceu o reino de Jerusalém (embora sem a cidade de Jerusalém), pondo fim à Terceira Cruzada.
Acredita-se que o poderoso papa Inocêncio III convocou uma nova cruzada em 1198. Disputas de poder entre a Europa e Bizâncio compeliram os cruzados a se desviarem de sua missão para derrubar o imperador bizantino reinante, Aleixo III, em favor de seu sobrinho, que se tornou Aleixo IV na metade de 1203. As tentativas do novo imperador de submeter a igreja bizantina a Roma encontraram dura resistência, e Aleixo IV foi estrangulado depois de um golpe de estado no começo de 1204. Em resposta, os cruzados declararam guerra a Constantinopla, e a Quarta Cruzada terminou com a conquista e saque da magnífica capital bizantina no final daquele ano.
O que restava do século XIII viu uma variedade de cruzadas que não visava apenas a derrubada das forças muçulmanas na Terra Santa, mas também combater a todo e qualquer que fosse visto como inimigo da fé cristã. A Cruzada Albigense (1208-09) teve como objetivo exterminar a seita herética cátara ou albigense do cristianismo na França, enquanto as Cruzadas Bálticas (1211-25) procuravam subjugar pagãos no norte da Europa, próximo às costas sul e leste do mar Báltico. Na Quinta Cruzada, posta em movimento pelo papa Inocêncio III antes de sua morte em 1216, os cruzados atacaram o Egito por terra e mar, mas foram forçados a se render aos defensores muçulmanos liderados pelo sobrinho de Saladino, Al-Malik al-Kamil, em 1221. Em 1229, no que se tornou conhecido com Sexta Cruzada, o imperador Frederico II conseguiu a transferência pacífica de Jerusalém para o controle cruzado através de negociação com al-Kamil. O tratado de paz expirou uma década depois, e os muçulmanos facilmente reconquistaram o controle de Jerusalém.
No final do século XIII, grupos de cruzados procuraram ganhar terreno na Terra Santa através de incursões efêmeras que mostraram ser pouco mais que um aborrecimento para os governantes muçulmanos da região. A Sétima Cruzada (1239-41), liderada por Teobaldo IV de Champagne, recapturou brevemente Jerusalém, perdendo-a novamente em 1244 para forças corasmianas alistadas pelo sultão do Egito. Em 1249, o rei Luís IX da França liderou a Oitava Cruzada contra o Egito, que terminou com a derrota em Mansura no ano seguinte (o mesmo lugar da derrota da Quinta Cruzada). À medida que os cruzados se esforçavam, uma nova dinastia conhecida como mamelucos – descendentes de antigos escravos do sultão – tomou o poder no Egito. Em 1260, forças mamelucas na Palestina conseguiram deter o avanço dos mongóis, uma força invasora liderada por Gêngis Khan e por seus descendentes que tinha emergido como um potencial aliado dos cristãos na região. Sob o cruel sultão Baybars, os mamelucos destruíram Antióquia em 1268, estimulando Luís IX a iniciar outra cruzada, que terminou com sua morte no norte da África. Ele foi depois canonizado.
Um novo sultão mameluco, Qalawan, derrotou os mongóis no final de 1281 e voltou sua atenção para os cruzados, capturando Trípoli em 1289. No que foi considerado a última cruzada, uma frota de navios de guerra de Veneza e Aragão chegou para defender o que restava dos estados cruzados em 1290. No ano seguinte, o filho e sucessor de Qalawan, al-Ashraf Khalil, marchou com um exército gigantesco contra porto litorâneo de Acre, a capital efetiva dos cruzados na região desde o fim da Terceira Cruzada. Após apenas sete semanas sob cerco, Acre caiu, terminando efetivamente as cruzadas na Terra Santa após quase dois séculos. Embora a Igreja tenha organizado cruzadas menores com objetivos limitados depois de 1291 (principalmente campanhas militares visando expulsar muçulmanos de territórios conquistados ou conquistar regiões pagãs), o apoio a tais esforços desapareceu no século XVI, com o surgimento da Reforma e o correspondente declínio da autoridade papal.

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