terça-feira, 26 de julho de 2011

Américas antes de Colombo - Parte 13: conquista e religião, governo imperial inca

Conquista e religião
O que impeliu os incas à conquista e à expansão? O desejo normal de ganho econômico e poder político que podem ser vistos em outros impérios fornece uma explicação adequada, mas deve haver outras mais de acordo com a cultura e a ideologia inca. O culto dos ancestrais era extremamente importante na crença inca. Os governantes falecidos eram mumificados e então tratados como intermediários dos deuses, exibidos em público durante os festivais, recebiam oferendas de comida e presentes e eram consultados sobre assuntos importantes por oráculos especiais. Do reino chimu, os incas adotaram a prática de “herança dividida” real, na qual todo o poder político e os títulos do governante passavam para seu sucessor, mas todos os seus palácios, riqueza, terras e propriedades permaneciam nas mãos de seus descendentes masculinos, que os usava para sustentar o culto da múmia do inca morto pela eternidade. Então, cada novo inca, para assegurar seu próprio culto e lugar na eternidade, precisava conseguir terras e riqueza, e estas normalmente vinham como parte de novas conquistas. Na verdade, quanto maior o número de governantes incas no passado, maior o número de cortes reais para sustentar e maior a demanda por trabalho, terras e tributos. Este sistema criou uma necessidade perpétua por expansão, ligada diretamente ao culto ancestral e ao culto das múmias reais, assim como às tensões entre as várias linhagens reais. De certo modo, o culto dos mortos pesava cada vez mais pesadamente sobre os vivos.
A vida política e social inca era infundida de significado religioso. Como os astecas, os incas tinham o sol como sendo a deidade mais elevada e consideravam o inca como sendo o representante do sol na Terra. O magnífico Templo do Sol em Cuzco era o centro da religião estatal, e nos seus limites as múmias dos incas do passado residiam. O culto do sol era disseminado por todo o império, mas os incas não proibiam o culto dos deuses locais.
Outras deidades também eram adoradas como parte da religião estatal. Viracocha, o deus criador, era o favorito do inca Pachacuti e permaneceu importante. A crença popular era baseada em um profundi animismo que favorecia muitos fenômenos naturais com poderes espirituais. Montanhas, pedras, rios, cavernas ou tumbas e templos eram considerados como sendo huacas, ou santuários sagrados. Nesses lugares, ofereciam-se preces e eram feitos sacrifícios com animais, produtos e humanos. Na área de Cuzco, linhas imaginárias saiam do Templo do Sol, organizando os huacas em grupos pelos quais determinados ayllus se responsabilizavam. Muitos sacerdotes serviam nos templos e mulheres se dedicavam à preparação de tecidos e comida para sacrifícios. Os sacerdotes do templo eram responsáveis principalmente pelos grandes festivais e celebrações e pelas profecias das quais as ações do estado muitas vezes dependiam.

As técnicas do governo imperial inca
Os incas foram capazes de manter o controle sobre seu vasto império através de várias técnicas e práticas que asseguraram tanto cooperação quanto subordinação. O império era governado pelo inca, que era considerado virtualmente um deus. Ele governava a partir de sua corte em Cuzco, que também era o lugar do templo principal; o sumo-sacerdote era normalmente um parente próximo. Twantinsuyu era dividido em quatro grandes províncias, cada uma delas com um governador e também divididas em unidades menores. Os incas desenvolveram uma burocracia estatal na qual quase toda a nobreza desempenhava uma função – enquanto alguns cronistas falam de uma organização estatal baseada em unidades decimais de 10.000, 1.000, 100 e números menores de famílias para recolher impostos e mão-de-obra, pesquisas recentes revelam que muitas práticas e variações locais eram permitidas para dar continuidade ao governo inca. Aos governantes locais, ou curacas, era permitido manter suas posições e eram concedidos privilégios pelo inca em troca de lealdade. Os curacas eram isentos das obrigações tributárias e normalmente recebiam trabalho ou produtos agrícolas daqueles sob seu controle. Como garantia, os filhos dos chefes conquistados eram levados a Cuzco para serem educados.
Os incas intencionalmente disseminaram a língua quéchua como um meio de integrar o império. Os incas também fizeram uso extensivo de colonos. Ocasionalmente, falantes de quéchua de Cuzco poderiam ser assentados em uma recentemente conquistada para dar o exemplo e estabelecer uma guarnição. Em outras ocasiões, uma população conquistada irrequieta era movida para novas terras. Por todo o império, um complexo sistema de estradas foi construído com pontes e trilhas elevadas quando necessário. Ao longo destas estradas foram estabelecidas estações a cerca de um dia de caminhada umas das outras para servir como hospedarias, depósitos e centros de abastecimento para os exércitos incas em movimento. As estações, ou tambos, também serviam como pontos de troca para o sistema de mensageiros que transmitiam as informações através do império. Os incas provavelmente mantinham mais de 10.000 estações.
O império inca funcionava pela extração de terras e trabalho das populações sujeitadas. Os povos conquistados eram alistados nos exércitos sob oficiais incas e eram recompensados com bens de novas conquistas. Os povos sujeitados recebiam acesso a bens que antes não estavam disponíveis a eles, e o estado inca se responsabilizava por grandes projetos de construção e irrigação que anteriormente teriam sido impossíveis. Em troca, os incas exigiam lealdade e tributo. O estado reclamava todos os recursos e os redistribuía. Os incas dividiam as áreas conquistadas em terras para o povo, terras para o estado e terras para o sol – isto é, para a religião e sustento dos sacerdotes. Havia também propriedades privadas mantidas por alguns nobres.
Com poucas exceções, os incas, diferente dos astecas, não exigiam tributo em espécie e sim trabalho nas terras designadas ao estado e à religião. As comunidades cumpriam turnos de trabalho nas terras do estado e do templo e ocasionalmente em projetos de construção ou na mineração. Estes turnos de trabalho eram um aspecto essencial do controle inca. Além disso, os incas exigiam mulheres para tecer panos de alta qualidade para a corte e para propósitos religiosos. Os incas forneciam a lã para as famílias produzirem tecidos. Os tecidos, uma grande forma de arte andina, tinham significância política e religiosa. Algumas mulheres eram tomadas como concubinas pelos incas e outras eram selecionadas como servas para os templos, as chamadas “Virgens do Sol”. Em tudo isso, os incas tinham um sistema imperial completo, mas que permanecia sensível às variações locais de forma que sua aplicação acomodasse diferenças étnicas e regionais.
Em teoria, cada comunidade visava a autossuficiência e dependia do estado para os bens difíceis de adquirir. Os ayllus de cada comunidade controlavam a terra, e a vasta maioria da população masculina era composta de camponeses ou pastores. As mulheres ajudavam nos campos, teciam e cuidavam do lar. As funções e obrigações eram específicas por gênero e teoricamente equivalentes e interdependentes. Os povos andinos reconheciam a descendência paralela, de forma que os direitos de propriedade dentro dos ayllus e entre a nobreza passavam tanto pela linha masculina quanto pela feminina. As mulheres passavam direitos e propriedades para as filhas, e os homens para os filhos. Se nos tempos pré-incaicos as mulheres possam ter servido como líderes dos ayllus é uma questão em aberto, mas sob os incas isso parece ter sido incomum. A ênfase inca nas virtudes militares reforçava a desigualdade entre homens e mulheres mesmo que a ideologia de complementaridade dos sexos fosse muito forte.

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