quarta-feira, 27 de julho de 2011

Américas antes de Colombo - Parte 14: governo imperial inca e realizações culturais

O conceito de estreita cooperação entre homens e mulheres também se refletia na visão inca do universo. Os deuses e deusas eram cultuados por homens e mulheres, mas as mulheres sentiam uma afinidade particular pela lua e pelas deusas da terra e do milho, as deidades da fertilidade. A rainha inca, a esposa mais velha do inca (que normalmente também era sua irmã), era vista como um elo com a lua, rainha e irmã do sol; ela representava a autoridade imperial para todas as mulheres. Mas, apesar da ideologia de igualdade dos gêneros, a prática inca criou uma hierarquia de relacionamentos de gêneros que se combinava com a dominação do estado inca sobre os povos subjugados. O poder do império sobre os grupos étnicos locais é demonstrado pela capacidade que os incas tinham em selecionar as mais belas jovens mulheres para servir nos templos ou para serem dadas ao inca.
A integração da política imperial com a regional e a diversidade étnica era uma realização política. Os líderes étnicos eram mantidos, mas acima deles estavam os administradores incas retirados da nobreza de Cuzco. A reciprocidade e a verticalidade continuaram a caracterizar os grupos andinos à medida que eles passaram a ser governados pelos incas, com a reciprocidade entre o estado e as comunidades locais simplesmente sendo mais um nível adicionado. O estado inca forneceria estradas, projetos de irrigação e matéria-prima para obtenção de bens. O milho, por exemplo, era normalmente cultivado em terras irrigadas e era particularmente importante como uma safra ritual. O estado patrocinava a irrigação junto com o seu cultivo. O estado inca manipulava a ideia de reciprocidade para conseguir força de trabalho, reprimindo duramente resistência e revoltas. Além do campesinato ayllu, havia também uma classe de pessoas, os yanas, que eram retirados de seus ayllus e serviam permanentemente como criados, artesãos ou como trabalhadores dos incas ou da nobreza inca.
A nobreza inca era significativamente privilegiada e aqueles aparentados do próprio inca ocupavam as posições mais elevadas. Toda a nobreza provinha dos dez ayllus reais. Além disso, dava-se status de nobre aos residentes de Cuzco para capacitá-los ao serviço em altos postos burocráticos. Os nobres se distinguiam por roupas e costumes. Apenas a eles se permitia usar os grandes carretéis que aumentavam as orelhas e motivou os espanhóis a chamá-los depois de orejones (orelhões). Uma classe mercantil distinta era notavelmente ausente na maior parte do Império Inca. Diferente da Mesoamérica, onde o comércio de longa distância era muito importante, a ênfase inca na autossuficiência e na regulação da produção e do excedente pelo estado limitou o comércio. Apenas no norte do império, nas tribos do Equador, a última região conquistada pelos incas, havia uma classe especializada de comerciantes.
O sistema imperial inca que controlava uma área de quase 5.000 km de extensão foi uma realização política impressionante, mas como todos os impérios, ele durou apenas enquanto pôde controlar suas populações subjugadas e seus próprios mecanismos de governo. Um sistema de múltiplos casamentos reais como uma maneira de formar alianças criou requerentes rivais pelo poder e a possibilidade da guerra civil. Foi exatamente isso que aconteceu na década de 1520, pouco antes da chegada dos europeus. Quando os espanhóis chegaram ao Peru, eles encontraram um império enfraquecido desgastado pelo conflito civil.

Realizações culturais incas
Os incas se inspiraram nas tradições artísticas de seus predecessores e nas habilidades dos povos conquistados. Cerâmicas e tecidos de muita beleza eram produzidos em oficinas especializadas. A metalurgia inca estava entre as mais avançadas das Américas, e os artesãos incas trabalhavam ouro e prata com grande habilidade técnica. Os incas também usavam cobre e algum bronze para armas e ferramentas. Como os povos mesoamericanos, os incas não fizeram uso prático da roda, mas diferente deles, não desenvolveram um sistema de escrita. No entanto, os incas faziam uso de um sistema de cordas com nós, ou quipos, com os quais informações numéricas e talvez outras informações eram registradas. Esse sistema funcionava de certa forma como um ábaco, e com ele os incas realizavam censos e mantinham registros financeiros. Os incas tinham uma paixão pela ordem numérica, e o povo era dividido em unidades decimais de forma que a população, o alistamento militar e os detalhes de trabalho poderiam ser calculados. A existência de tantas características associadas à civilização no Velho Mundo e, apesar disso, a ausência de um sistema de escrita entre os incas deveria fazer-nos compreender a variação do desenvolvimento humano e os perigos de nos tornarmos muito apegados a certas características ou traços culturais na definição das civilizações.
O talento inca foi mais bem exibido na política, na sua arquitetura e nos edifícios públicos. A lapidação inca era consideravelmente acurada e os melhores edifícios foram construídos de grandes pedras encaixadas sem o uso de argamassa. Alguns desses edifícios eram imensos. Estas construções, os grandes terraços agrícolas e projetos de irrigação e o sistema extensivo de estradas estavam entre as maiores realizações incas, exibindo sua habilidade técnica e sua capacidade, assim como seu poder em mobilizar grandes quantidades de mão-de-obra.

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