segunda-feira, 18 de julho de 2011

Américas antes de Colombo - Parte 6: toltecas


Mesoamérica pós-clássica, 1000-1500 EC
O colapso de Teotihuacán no México central e o abandono das cidades clássicas maias no século VIII indicaram uma mudança política e cultural significativa na Mesoamérica. As civilizações que se seguiram foram construídas sobre as realizações de seus predecessores clássicos, mas raramente os suplantaram, a exceção sendo feita no que diz respeito à organização política e militar.
No México central, povos nômades de além da fronteira norte da região agrícola sedentária se aproveitaram do vácuo político para penetrar nas terras mais ricas. Entre esses povos estavam os toltecas, que estabeleceram uma capital em Tula por volta de 968. Eles adotaram muitas características culturais dos povos sedentários, às quais adicionaram uma ética fortemente militarista. Isto incluía o culto de sacrifícios e da guerra, que são retratados com frequência na arte tolteca. Povos mesoamericanos posteriores, tais como os astecas, tinham certa memória histórica dos toltecas e os consideravam heróis culturais, os criadores da civilização. Dessa forma, eram capazes de traçar suas linhagens até os toltecas, e assim se tornavam pertencentes a uma linhagem altamente valorizada. Todavia, o registro arqueológico indica que as realizações toltecas foram fundidas ou confundidas com as de Teotihuacán na memória dos sucessores toltecas.

A herança tolteca
Entre as lendas que sobreviveram sobre os toltecas estão aquelas relacionadas a Topiltzin, um líder e aparentemente sacerdote tolteca dedicado ao deus Quetzalcoatl (a Serpente Emplumada), que depois passou a ser confundido com o próprio deus nas lendas. Aparentemente, Topiltzin, um reformador religioso, esteve envolvido numa batalha pelo poder sacerdotal ou político com outra facção. Quando foi derrotado, Topiltzin e seus seguidores foram para o exílio, prometendo retornar no futuro para reclamar seu trono na mesma data, de acordo com o calendário cíclico. Supostamente, Topiltzin e seus seguidores navegaram para Iucatã; há evidências consideráveis da influência tolteca na região. A lenda de Topiltzin-Quetzalcoatl era bem conhecida pelos astecas e deve ter influenciado sua reação quando da chegada dos europeus.
Os toltecas criaram um império que se estendia sobre a maior parte do México central, e sua influência se disseminou para muito além dessa região. Embora os maias tenham abandonado muitas cidades e tenham abandonado o calendário de longa duração, as grandes cidades, especialmente em Iucatã, ainda estavam ocupadas. Por volta do ano 1000, Chichén Itzá foi conquistada pelos guerreiros toltecas, e ela e várias outras cidades passaram então a ser governadas por antigas dinastias centro-mexicanas ou por governantes maias sob influência tolteca. A arquitetura de Chichén Itzá – com suas pirâmides do deus Quetzalcoatl e motivos artísticos de guerreiros, serpentes emplumadas e dos símbolos da morte – reflete a influência tolteca. Alguns estados maias na Guatemala, tais como o reino Quiche, também tinham famílias governantes sob influência tolteca.
A influência tolteca se espalhou também na direção norte. Minas de obsidiana eram exploradas no norte do México, e os toltecas devem ter comercializado para obter turquesa no sudoeste norte-americano. Há evidências de contato entre a Mesoamérica e os habitantes dos penhascos do Colorado e do Novo México, que são os ancestrais dos modernos índios pueblos do sudoeste norte-americano. Tem sido sugerido que a grande cidade anasazi de adobe no cânion Chaco no Novo México foi abandonada quando o Império Tolteca sucumbiu e o comércio pela turquesa local deixou de existir.
Até onde a influência chegou a leste é uma questão em aberto. Houve contato entre a Mesoamérica e a elaborada cultura e cidades dos povos Hopewell dos vales do Ohio e do Mississippi? Os acadêmicos divergem. Finalmente, no vale do baixo Mississippi a partir de aproximadamente 700, os elementos da tradição Hopewell parecem ter sido enriquecidos por contatos externos, talvez com o México. Essa cultura do Mississippi, que floresceu entre 1200 e 1500, era baseada no cultivo de milho e feijão. As vilas, localizadas normalmente ao longo de rios, tinham templos escalonados feitos de terra e às vezes grandes montes sepulcrais. Alguns dos funerais incluem cerâmica bem acabada e outros bens e parecem ter sido acompanhados por execuções rituais ou sacrifícios de servos e esposas. Isto indica estratificação social na sociedade. Cahokia, próximo a St. Louis, Illinois, abrangia 13 km² e deve ter tido mais de 30.000 pessoas vivendo em seu centro e em trono dele. Sua maior pirâmide de terra, chamada Monk’s Mound (monte dos Monges), cobre mais de 60.000 m² e é comparável em tamanho às maiores pirâmides do período clássico no México. Muitas dessas características culturais parecem sugerir contatos com a Mesoamérica, embora nenhum objeto definitivamente mexicano tenha sido encontrado em um sítio do Mississippi. Até agora, certos traços e temas artísticos, incluindo a serpente emplumada, fortemente sugerem contato.

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