terça-feira, 12 de julho de 2011

Américas antes de Colombo - Parte 2: sociedades, tribos e estados

Tipos de sociedades nativas americanas
A ideia de uma área relativamente contígua de desenvolvimento cultural faz mais sentido que o conceito prévio de centros independentes. O conceito anterior produziu uma imagem das Américas na qual civilizações e tradições culturais isoladas se desenvolveram paralelamente com pouco contato ou intercâmbio. A ênfase na variação artística e na diversidade regional contribuiu para essa visão, mas os acadêmicos estão progressivamente começando a examinar as amplas similaridades entre as antigas culturas americanas. Enquanto muitas diferenças e variações existiam, havia também uniformidades de organização, subsistência, tecnologia e crença, o que as tornava mais parecidas entre si que qualquer uma delas era das civilizações do Velho Mundo.
Até certo ponto, podemos fazer distinções entre as antigas sociedades americanas baseados em suas organizações políticas e econômicas. A agricultura sedentária e junto com ela a densidade populacional são uma chave. Caçadores e coletores, vivendo da mesma forma que os primeiros imigrantes que chegaram às Américas, continuaram a ocupar grandes porções dos continentes, divididos em pequenos bandos e se deslocando sazonalmente para tirar proveito dos recursos naturais. Estes povos às vezes estavam organizados em tribos maiores e talvez reconhecessem um chefe, mas geralmente suas sociedades estavam organizadas em torno de grupos familiares ou clãs e havia pouca hierarquia ou especialização de tarefas. Com algumas exceções, a cultura material desses povos tendia a ser relativamente simples.
Os povos que fizeram uma transição parcial para a agricultura viviam em sociedades maiores e muito mais complexas. Aqui, as vilas com 100 ou 200 pessoas em vez de bandos com 25 eram mais comuns. Os homens continuaram a caçar e a guerrear, mas as mulheres cultivavam os campos. As técnicas agrícolas tendiam a ser simples e muitas vezes necessitavam de migrações periódicas quando os solos se exauriam. As vilas dessas tribos de lavradores semissendentários e caçadores foram encontradas no litoral brasileiro e nas florestas do leste da América do Norte.
Foi entre os povos que fizeram a transição completa para a agricultura sedentária que as sociedades complexas emergiram mais claramente, porque foi com eles que o excedente de produção foi estabelecido mais firmemente. Estas populações puderam atingir milhões. Os homens tornaram-se agricultores, formando uma base camponesa para uma sociedade hierárquica que talvez incluísse classes de nobres, mercadores e sacerdotes. Estados poderosos e até mesmo impérios poderiam resultar, e a coleta de tributos dos povos subjugados e sua redistribuição pela autoridade central formava a base do governo.

Tribos e estados
Os povos sedentários e os caçadores muitas vezes viviam próximos uns dos outros e compartilhavam hostilidades mútuas e indiferenças. Mas, de fato, os povos sedentários, semissendentários e caçadores-coletores nunca foram claramente definidos e muitos aspectos da vida eram compartilhados por todos eles. Até certo ponto, os grandes estados imperiais com sistemas políticos e religiosos altamente desenvolvidos e arquitetura monumental (os quais podemos chamar de civilizações, tais como Teotihuacán no México ou Chimu no Peru) eram variantes de um padrão amplamente difundido, a tribo ou sociedade de chefatura.
Da Amazônia ao vale do Mississippi, as populações – às vezes de dezenas de milhares – eram governadas por chefes tribais hereditários que governavam a partir de centros urbanos sobre um grande território, incluindo pequenas vilas que pagavam tributos ao governante. A cidade predominante muitas vezes tinha uma função cerimonial, com grandes templos e uma classe sacerdotal. Belas cerâmicas e outros bens indicam especialização.
A existência de uma hierarquia social com classes de nobres e plebeus também era uma característica de muitos das sociedades de chefatura. Às vezes, argumenta-se que nas sociedades que construíram estados os centros cerimoniais se tornaram verdadeiras cidades, e as relações familiares ou de clãs foram substituídas pelas classes sociais. A escala da sociedade era maior, mas as diferenças nem sempre eram tão óbvias. Tanto astecas quanto incas com suas hierarquias sociais complexas mantiveram aspectos da organização anterior de clãs. Na realidade, em termos de organização social, guerra e cerimonialismo, parece haver pouco que diferencie as cidades-estado maias de algumas das chefaturas da América do Sul ou do sudoeste da América do Norte. Cahokia, próximo a St. Louis, uma importante cidade da cultura do Mississipi (c. 1050-1200) com seus grandes montes de terra cobrindo uma área de 13 km², provavelmente sustentava uma população de cerca de 30.000 pessoas, tão grande quanto as das grandes cidades da civilização maia.
Uma diferença entre agricultores sedentários e caçadores nômades deve ser mais aplicável que as diferenças entre “civilizados” e “incivilizados”. A construção e o entalhe em pedra, e então a habilidade dos arqueólogos para reconstruir uma cultura, parece ter se tornado uma importante característica em determinar a diferença entre um estado e uma sociedade de chefatura ou tribo – e, por extensão, entre “civilizações” – e sociedades que parecem não merecer o título. Ao mesmo tempo, deveríamos reconhecer que os povos sedentários e os caçadores reconheciam as diferenças entre os seus modos de vida, e quando eles entravam em contato, muitas vezes compartilhavam hostilidades e invejas mútuas entre si. Os incas olhavam de cima os povos da floresta tropical amazônica e se referiam a eles como chuchos (bárbaros), mas nunca conseguiram conquistá-los. Os incas comercializavam com eles de tempos em tempos, e às vezes os usavam como mercenários. Os astecas chamavam os nômades que viviam no norte de chichimec, que talvez signifique “incivilizado”, mas os próprios astecas se originaram de um desses grupos, que estavam constantemente pressionando as regiões sedentárias mais ricas e bem alimentadas. Até certo ponto, o padrão de tensão entre nômades e “civilizados” do Velho Mundo foi reproduzido nas Américas.

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