domingo, 10 de abril de 2011

Violência gratuita

O evento ocorrido no Rio de Janeiro na última quinta-feira 07/04/2011, o assassinato indiscriminado perpetuado por uma pessoa insana em uma escola, que levou à morte 12 crianças além de ferir outras, excetuando-se o sensacionalismo dos meios de imprensa, foi um dos mais horrendos dos últimos anos. Esse evento deixa-nos a sensação de que a sociedade falha na avaliação dos perigos cotidianos.

Aprendi nos meus anos vividos que a maioria dos acontecimentos, por mais inusitados que sejam, quando avaliados retroativamente depois de ocorridos, sempre são precedidos por sinais e indicações que não foram interpretados adequadamente. Essa característica é um dos pilares da Engenharia de Segurança do Trabalho, onde as análises dos quase acidentes ou incidentes, tanto qualitativas quanto quantitativas, são utilizadas para a prevenção de acidentes.
A nossa sociedade atual não se preocupa com esses sinais indicadores, que podem levar a comportamentos irracionais monstruosos. Vivemos solitários na multidão, uns mais que outros. Quantos, em cada grande cidade brasileira, podem ter agora sentimentos que levem ao comportamento louco do assassino da escola do Rio de Janeiro? Mas nós estamos muito mais preocupados com o sucesso pessoal, afinal vivemos numa sociedade onde a competição esta arraigada e que progride por causa disso. Mas tudo tem o seu preço, ou custo de oportunidade: temos que abrir mão de alguma coisa em prol de outra. Ou seja, o que fazemos depende do valor que damos às coisas nas escolhas que fazemos. E as escolhas que fazemos estão voltadas quase sempre para nosso pequeno mundo, para o que está próximo a nós. Dessa forma, não damos tanta importância a comportamentos poucos convencionais de alguns. É mais fácil discutir e acompanhar novelas, clubes de futebol e sensacionalismos perpetuados pela televisão que notar um louco pensando em assassinar pessoas (segundo dados do IBGE, mais de 95% dos domicílios brasileiros tem pelo menos um aparelho de televisão).
Não nos esqueçamos: aqueles que vivem à margem da sociedade também podem impactá-la. Eles estão à margem, mas não estão fora. Eles também fazem parte da nossa sociedade que os ignora, até que eles ponham em prática atos covardes e terríveis como o engendrado pelo louco assassino da escola do Rio de Janeiro.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Coisas do futebol brasileiro

O futebol brasileiro, tão prolífico em craques, é administrado por uma horda de fanfarrões digna dos filmes de pastelão, se não houvesse por trás das armações interesses vários. Não importa a esfera: clubes, federações estaduais e a confederação máxima do futebol brasileiro são conduzidos por dirigentes que usam essas entidades sem nenhum pudor em interesse próprio. O que se diz hoje pode ser desdito amanhã e voltar a valer novamente no dia seguinte.
A CBF, em dezembro de 2010, resolveu considerar a Taça Brasil, jogada entre 1959 e 1968, e o torneio Roberto Gomes Pedrosa (também conhecido como Taça de Prata), disputado de 1967 a 1970, como equivalentes ao Campeonato Brasileiro e, consequentemente, os campeões desses torneios como campeões brasileiros. De uma hora para outra, o Santos pulou de 2 para 8 títulos e o Palmeiras que tinha 4, também passou a ter 8 títulos de campeão brasileiro. Também foram agraciados com mais 1 título Bahia, Fluminense, Cruzeiro e Botafogo. Essa decisão estapafúrdia da CBF, que equiparou torneios totalmente distintos e de valores diferenciados, ainda gerou aberrações: alguns dos títulos do Santos na década de 1960 foram conquistados com a equipe jogando apenas 4 partidas! O Palmeiras foi campeão brasileiro duas vezes no mesmo ano - 1967! Dessa forma, o Cruzeiro poderia reivindicar também ser campeão brasileiro duas vezes em 2003, quando venceu o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil.
No mesmo ato, em dezembro de 2010, a CBF negou ao Flamengo o título de 1987 da Copa União, declarando apenas o Sport campeão brasileiro daquele ano e que essa era uma decisão ireevogável. Pois bem, passados meros dois meses, a decisão irrevogável da CBF foi revogada: o Flamengo também é campeão brasileiro de 1987. Ou seja, agora (não sei até quando), o primeiro clube brasileiro a conquistar 5 campeonatos brasileiros desde 1971 passa a ser o Flamengo, com o quinto título conquistado em 1992, e não mais o São Paulo, que conquistou seu quinto título em 2007. Mas, na verdade, com os títulos da década de 1960 concedidos ao Santos pela CBF, o Santos conquistou seu quinto título em 1965!!! Ah, mas só vale a partir de 1971!!!
Coisas do futebol brasileiro, um dos melhores do mundo dentro de campo, mas conduzido por verdadeiros gatunos e gangues fora dele. Vá entender...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Aumentos abusivos de preço

Chegamos a dezembro e a onda especulativa chegou junto. Sem nenhuma cerimônia, os preços começaram a subir. Os combustíveis aumentaram de preço, a comida, roupas: tudo! No restaurante onde eu esporadicamente almoço, a tabela de preços foi corrigida em 25% em dezembro. Vinte e cinco por cento!!! Lá eu não almoço mais.
Essa onda especulativa em nada ajuda a economia nacional. O governo adotou algumas medidas para evitar a inflação, retirando mais de R$ 60 bilhões de circulação para conter o crédito, mas falta punição para quem pratica aumentos abusivos. A estabilidade econômica é um trunfo do qual não podemos abrir mão. Tenhamos consciência disso: devemos todos evitar e denunciar aqueles que praticam excessos na correção de preço. Só assim trabalhamos para evitar a especulação e a inflação elevada.

domingo, 14 de novembro de 2010

Entrevista

De modo geral, mudanças e novas experiências incomodam. É mais fácil manter-se na zona de conforto sem a preocupação de encarar fatos novos. Mas, ao mesmo tempo, a curiosidade inerente à nossa espécie nos move a experimentar. Foi essa a sensação que eu tive ao saber que deveria fazer uma entrevista com uma pessoa com mais de 60 anos e depois, baseado no documento gerado pela entrevista, escrever um artigo sobre a história de vida dessa pessoa. Primeiro vieram as dúvidas quanto à entrevista: Quem entrevistar? Como guiar uma entrevista deixando o interlocutor à vontade? Como reagir a uma resposta inesperada? Depois, as dúvidas quanto ao artigo: Como fazer um artigo, se nunca eu fiz um? Como transferir informações obtidas em uma entrevista para um artigo e concatená-las adequadamente?
Mesmo não tendo certeza se o que foi realizado está de acordo com o que deveria ser feito, a experiência desfrutada na realização dessa empreitada - entrevista, artigo - foi única. Primeiro, a sensação de estar me transportando no tempo e no espaço enquanto ouvia os relatos da pessoa entrevistada é inigualável. Segundo, as interpretações dos acontecimentos fornecida por ela, mostrando-me que as visões do mundo não são únicas sequer para a mesma pessoa, que pode mudar de opinião com o tempo, de acordo com os estímulos externos recebidos. E, por último, as reações no momento da entrevista: perceber as emoções, ver os olhos mirarem um ponto incerto, como se olhassem através do tempo, lágrimas e sorrisos. Depois disso, ao escrever o artigo, a resposabilidade, o respeito e o cuidado com a fidelidade daquele relato.
Muito gratificante. O novo incomoda, mas a curiosidade nos faz seguir adiante. E a incerteza transforma-se então em fascínio.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Duas faces do governo brasileiro: eleições x ENEM

Apenas seis dias bastaram para o governo brasileiro mostrar as suas duas faces administrativas extremas sem deixar dúvidas.
No domingo, 31 de outubro de 2010, houve a demontração de eficiência e organização nas eleições e na apuração dos votos. Às 20h13 (horário de Brasília), o TSE anunciou o resultado da eleição presidencial, declarando a candidata Dilma Rousseff eleita.
Nos dias 6 e 7 de novembro de 2010, foram aplicadas as provas do Exame Nacional do Ensino Médio - o ENEM 2010. Várias universidades do país utilizam os resultados do ENEM como fase única de ingresso ou como complementação da nota de seus vestibulares de ingresso.
Os problemas ocorridos na aplicação das provas do ENEM 2010 foram vários. Parte das provas (o caderno de perguntas de capa amarela) trouxe vários erros de impressão, com questões faltando e questões diferentes com mesma numeração. A folha de respostas também apresentou problemas. No caderno de perguntas, as questões de 1 a 45 eram de ciências humanas e, de 46 a 90, de ciências da natureza. Na folha de respostas, o cabeçalho de ciências da natureza aparecia primeiro (na numeração de 1 a 45). O de ciências humanas vinha depois (na numeração de 46 a 90). O escritor Laurentino Gomes, autor dos livros "1808" e "1822", criticou o erro de citação de um trecho de um dos seus livros. A questão cita a data de 1810 como ano da abertura dos portos no Brasil. Segundo Gomes, o ano correto é 1808. Mais erros ocorreram, o que provocou tumulto em alguns locais de aplicação de provas.
Vale lembrar que em 2009 o ENEM precisou ser adiado porque as provas vazaram na gráfica responsável pela impressão.
Estes dois eventos mostram duas facetas do nosso governo. Uma muito eficiente (ligada à política) e outra sombria, recheada de erros e descaso (ligada à educação). Coincidência?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Sem candidatos

Quem irá presidir o nosso país nos próximos quatro anos é Dilma Rousseff, que foi eleita ontem com os votos de 41,1% dos eleitores. Mesmo sendo a candidata do atual presidente, que atingiu níveis de popularidade quase insanos, Dilma se elegeu sem a aprovação sequer da maioria simples daqueles com obrigação de votar no país. Além disso, a abstenção nesse segundo turno representou 21,5% dos eleitores (mais de 29,1 milhões preferiram não votar!). Somando-se a isso os votos em branco e nulos, chegamos a 26,8%. Ou seja, a cada quatro eleitores, mais de um preferiu não escolher ninguém para governá-lo dentre os candidatos possíveis. Chego à conclusão de que a eleição de Dilma foi apenas o resultado do apoio do governo de Lula e de não haver candidatos de oposição pelo menos "factíveis"; isso mesmo: a oposição foi incapaz sequer de fabricar um candidato. O marasmo político que se estabeleceu no país nos últimos anos apaziguou o antagonismo. Aqueles que governam e aqueles que são da "oposição" se mesclam em turbilhões de negociatas de cargos públicos e falcatruas tais que acabaram se tornando quase indistinguíveis. É isso que se reflete na frieza dos números da eleição. Votou-se por obrigação e por falta de opção. O nosso país merece mais do que isso.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Interpretações

Sempre leio as postagens dos blogs da turma e quando há temas em que me sinto confortável em opinar ou comentar, eu o faço.
Dias atrás, comentei uma postagem do blog Aporias Históricas, de Ivana Driele. O texto trata das formas como o conhecimento é transmitido pelos professores. Em determinado trecho, é feita uma correlação entre a Matemática e as Ciências Humanas (“Matemática sempre me pareceu irracional... Por isso minha maior afeição às ciências humanas, e principalmente à história, pois há debates discussões, o que praticamente exclui a ideia de verdade absoluta.”). Eu interpretei este trecho como a preferência da última em detrimento da primeira e, polidamente, comentei fornecendo argumentos tentando mostrar que o conhecimento não deve ser excludente. O comentário foi retrucado com se ele se tratasse de uma crítica, seguindo-se tentativas de explicações e entendimentos até chegarmos a um denominador comum. Pronto! Terminei a digressão. Cheguei onde eu queria chegar.
Quando escrevemos, estamos completamente expostos às mais variadas interpretações de quem nos lê. As palavras que escrevemos devem ser meticulosamente medidas para que possamos transmitir com a maior clareza possível a ideia que temos em mente. E, obviamente, estamos sujeitos às críticas e comentários que porventura venham a ser feitos aos nossos escritos. E esse, parece-me, será o carma a carregar enquanto historiador. Vi a simpática discussão com Ivana relacionada ao tema da transmissão do conhecimento como um grande aprendizado no que diz respeito à interpretação do que escrevo. Meus escritos sempre estarão sujeitos a interpretações várias. Os meus pontos de vista regerão a interpretação do que eu leio. Essa é a lição que aprendi, de muita valia para mim.

domingo, 24 de outubro de 2010

Ilha do Retiro 23/10/2010

Ontem estive na Ilha do Retiro, tema da minha postagem anterior. Fui ver o clássico pernambucano da Série B, Sport x Náutico, que acabou empatado em 1 a 1. O futebol foi de baixa qualidade. A bola foi maltratada demais. Eu não ia a um estádio desde 2008. Havia uma maioria esmagadora de torcedores do Sport, confiantes na vitória para chegar ao grupo dos quatro clubes que ascendem à Série A, eu inclusive, e uns poucos fanáticos torcedores do Náutico isolados num pequeno trecho de arquibancada.
É impressionante o comportamento totalmente passional da torcida. O amor e o ódio ora com o time, ora com algum jogador específico se alternam com mais velocidade que o piscar das luzes de uma árvore de natal. Parece que ali, no estádio, é o lugar onde o comportamento deixa de ser racional. Independentemente de profissão, religião, sexo ou condição financeira, o torcedor  passa a fazer parte de um corpo quase único, reagindo instantaneamente ao andamento do jogo, como um bando de aves em revoada. O xingamento ou o elogio pode começar em qualquer parte do estádio, não importa: ele reverbera rapidamente por toda a torcida. E, quando o jogo termina, tudo volta ao normal. Ninguém verá a grande maioria daqueles que ali estavam repetindo o comportamento do estádio. Sai a paixão, volta a razão. E a vida segue.
Ilha do Retiro Stadium, 10/23/2010
Yesterday I was at the Ilha do Retiro stadium, theme of my previous post. I went to see the match between Sport and Náutico, which ended tied at 1-1. The football (soccer) played was of low quality. The ball was mishandled too much. The last time I had gone to the stadium was in 2008. There was an overwhelming majority of supporters of Sport confident of victory to reach the group of four clubs to be promoted to Series A Brazilian Championship, including myself, and a few isolated fanatics Náutico fans in a small section of bleachers.
It's amazing how passionate the fans behavior. Love and hate at times with the team, sometimes with a specific player take turns with more speed than the flashing lights of a Christmas tree. The stadium seems to be where the behavior ceases to be rational. Regardless of profession, religion, sex or financial condition, the fan becomes part of a single body, immediately reacting to what happens in the match, like a flock of birds in flight. Mockery or praise can start anywhere in the stadium, no matter: it reverberates throughout the crowd quickly. And when the match ends, everything returns to normal. Nobody will see the most of those who there were behaving like at the stadium. Passion is replaced by the reason again. And life goes on.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Como o tempo modifica a paisagem...

O Brasil se prepara para a próxima Copa do Mundo de Futebol em 2014, e o Recife será uma das sedes. O Recife já teve privilégio de sediar uma partida de Copa do Mundo em 1950, realizada em 2 de junho daquele ano na Ilha do Retiro quando se enfrentaram Chile e Estados Unidos, com a vitória do primeiro por 5 a 2. A tribuna de honra do estádio recebeu ninguém menos que Jules Rimet, então presidente da FIFA, que deu nome à taça em disputa até 1970, quando o Brasil a conquistou em definitivo.
Acima está uma foto do estádio da Ilha do Retiro em 1950, um pouco antes do início da copa. Espetacular! A ilha acima e à esquerda é a ilha de Joana Bezerra, onde hoje está o fórum do Tribunal Regional Federal. Observe que toda a área por trás do estádio era formada por manguezais e ilhas. A avenida Eng. Abdias de Carvalho não existia (parte de baixo da foto). Seria construída durante a década de 1950. A área nas cercanias do estádio ainda não era urbanizada. Época de um Recife bucólico, de um futebol romântico...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O filme foi mal montado pelo editor...

Ontem à noite acompanhei a transmissão do debate entre Dilma Rousseff e José Serra promovido pela RedeTV! e pela Folha de São Paulo. A impressão que eu tive era de estar vendo um filme que foi mal montado pelo editor. Tentarei explicar.
O mediador do debate foi o jornalista Kennedy Alencar, repórter especial da Folha e apresentador do programa É Notícia, da RedeTV!
Pois bem. Tão logo se inicia o debate, com o mediador fazendo a mesma pergunta aos dois presidenciáveis, que recebe as “respostas” no tempo adequado, mas sem ter a mínima correlação com o que foi perguntado. Inicia-se então o erro de montagem do filme pelo editor de imagens.
Os presidenciáveis simplesmente não respondem às perguntas a eles dirigidas. Eles ora divagam ora pavoneiam-se. Nunca a resposta tem correlação com a pergunta. E mais: a réplica e a tréplica são usadas para, no caso de Serra, listar seus feitos enquanto Deputado Federal e Ministro do Planejamento e da Saúde, e no caso de Dilma, falar do que foi realizado no governo Lula, como se nada houvesse sido feito pelos governos anteriores que possibilitassem as realizações do Governo Federal nos últimos oito anos. Apontar ou defeitos próprios ou de seus aliados jamais.
Por isso, a sensação que eu tive foi de estar vendo um filme mal montado, onde o editor misturou a sequência das cenas, fazendo com que o que seja respondido não corresponda à pergunta.
Mas não! O debate foi transmitido ao vivo!
Ou seja, eles simplesmente fogem aos temas que não lhes interessa! E nós, meros expectadores mortais, ficamos esperando pelos temas que realmente interessam e eles simplesmente não vêm.
Não verei os debates que venham a ocorrer para essa eleição. Não quero mais ter a sensação de ver um filme de má qualidade.