segunda-feira, 13 de junho de 2011

Linguagem e fabricação de ferramentas se desenvolveram juntas

O avanço evolucionário viu os humanos da idade da pedra dominarem a arte de fabricação de ferramentas manuais e pavimentou o caminho para a linguagem se desenvolver.
Pesquisadores dizem que os humanos primitivos estavam
limitados pelo cérebro e não pela habilidade manual
quando fabricavam ferramentas de pedra.
Fotografia: David Sillitoe/Guardian
Os humanos da idade da pedra dominaram a arte de fabricação de elegantes ferramentas manuais em um avanço evolucionário que estimulou potente cérebro e potencialmente pavimentou o caminho para a linguagem, segundo os pesquisadores.
O projeto de ferramentas de pedra se modificou radicalmente na pré-história humana, começando há mais de dois milhões de anos com lâminas afiadas mais primitivas, e culminando com machados de mão primorosa e perfeitamente afiados há 500.000 anos.
O desenvolvimento de ferramentas de pedra sofisticadas, incluindo objetos cortantes robustos e bordas de serra, é considerado um momento chave na evolução humana, porque ele prepara o terreno para uma melhor nutrição e comportamentos sociais avançados, tais como a divisão do trabalho e a caça em grupo.
“Tem havido uma grande discussão na comunidade arqueológica sobre porque levou tanto tempo para se fabricar ferramentas de pedra mais complexas. Nós simplesmente não tínhamos a habilidade manual, ou não éramos espertos o bastante para pensar em técnicas melhores?” Foi o que disse Aldo Faisal, neurocientista do Imperial College de Londres.
A equipe de Faisal investigou a complexidade dos movimentos da mão usados por um artesão experiente enquanto ele fazia réplicas de ferramentas de pedra simples e depois mais complexas. Bruce Bradley, arqueólogo da Universidade Exeter, usou uma luva com sensores eletrônicos adaptados enquanto lascava pedras para fazer uma lâmina afiada e depois um machado manual mais sofisticado.
Os resultados mostraram que os movimentos necessários para fazer uma machado manual não eram mais difíceis que aqueles usados para fazer uma lâmina de pedra primitiva, sugerindo que humanos primitivos estavam limitados pela potência do cérebro e não pela habilidade manual.
Os humanos primitivos estavam adaptados para fazer lâminas de pedra, mas estas eram tão finas que poderiam se quebrar enquanto estavam sendo usadas. Os movimentos necessários para fabricar ferramentas avançadas não eram mais difíceis, mas tinham de ser executados mais inteligentemente, para produzir uma ferramenta que tivesse um corpo espesso e robusto com uma borda cortante afiada.
As ferramentas de pedra mais antigas e simples, conhecidas como lâminas olduvaienses, foram descobertas junto com vestígios fossilizados de Homo habilis, um provável ancestral dos humanos modernos, na garganta de Olduvai, Tanzânia. Machados manuais feitos de pedra foram descobertos próximos a ossos de Homo erectus, a espécie ancestral humana que conduziu a migração para fora da África. Machados manuais são normalmente fabricados simetricamente em ambos os lados em forma de lágrima.
O mapeamento cerebral de fabricantes de ferramentas de pedra modernos mostram que áreas chave no hemisfério direito do cérebro se tornam mais ativas quando eles passam da fabricação de lâminas para a fabricação de ferramentas mais avançadas. Curiosamente, algumas dessas regiões cerebrais estão envolvidas no processamento da linguagem.
“O avanço de ferramentas de pedras brutas para elegantes machados manuais foi um grande salto tecnológico para nossos primitivos ancestrais humanos. Machados portáteis eram ferramentas mais úteis para defesa, caça e trabalhos de rotina”, disse Faisal, cujo estudo aparece no periódico PLoS ONE. “Nosso estudo reforça a ideia de que fabricação de ferramentas e linguagem se desenvolveram juntas porque ambas requeriam pensamentos mais complexos, fazendo do final do paleolítico inferior uma época central na nossa história. Após esse período, os humanos primitivos deixaram a África e começaram a colonizar outras partes do mundo”.

domingo, 12 de junho de 2011

Dicionário mesopotâmico completado após 90 anos

Projeto iniciado em 1921 para traduzir a antiga escrita cuneiforme finalmente concluído.
Um dicionário de 21 volumes detalhando uma antiga língua mesopotâmica foi finalmente completado após um trabalho de 90 anos.
O Chicago Assyrian Dictionary identifica e explica as palavras entalhadas em pedra e sobre tabletes de argila em escrita cuneiforme pelos babilônios e assírios na Mesopotâmia entre 2500 AEC e 100 EC.
O projeto foi iniciado em 1921 por James Henry Breasted, fundador do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, e viu milhões de cartões fazendo referência a 28.000 palavras na língua semítica acadiana serem compilados nos últimos 90 anos.
Os vários significados para cada palavra estão disponíveis no dicionário de 21 volumes, assim como seu contexto e meios de uso. A entrada para a palavra “umu”, por exemplo, que significa “dia”, percorre 17 páginas e cobre seu uso no Épico de Gilgamesh: “Aqueles que tomaram coroas que governaram o país nos dias de outrora”.
Robert Biggs, professor emérito do Instituto Oriental, trabalhou como arqueólogo em escavações recuperando tabletes assim como no dicionário, passando quase 50 anos no projeto. “Você removia a sujeira, e então surgia uma carta de alguém que poderia estar falando sobre uma nova criança na família, ou outro tablete que poderia ser sobre um empréstimo até a época da colheita. Você percebia que essa era uma cultura não só de reis e rainhas, mas também de pessoas comuns, a maioria semelhante a nós, com preocupações similares por segurança, alimento e abrigo para eles e suas famílias”, disse ele. “Eles escreveram esses tabletes há milhares de anos, jamais imaginando que fossem lidos tanto tempo depois, mas eles nos falam de uma forma que tornam suas experiências para nós cheias de vida”.
Matthew Stolper, professor da Universidade de Chicago que devotou – dentro e fora – 30 anos ao dicionário, disse à Association Press que “muito do que você vê é absolutamente reconhecível – pessoas expressando medo e raiva, expressando amor, pedindo amor”.
“Há inscrições de reis que nos contam quão grandiosos eles foram, e inscrições de outros que nos dizem que esses caras não foram tão grandes”, disse ele. “Há também muitas versões antigas de ‘seu cheque está no correio’. E há uma frase comum em cartas em babilônico antigo que literalmente significa ‘não se preocupe com isso’”.
A conclusão do dicionário foi anunciada pela Universidade de Chicago em 6 de junho de 2011. O diretor do Instituto Oriental Gil Stein disse que ele fornece “a chave para a primeira civilização urbana do mundo”.
“Praticamente tudo o que aceitamos como corriqueiro... tem suas origens na Mesopotâmia: a origem das cidades, das sociedades estatais, a invenção da roda, a maneira como medimos o tempo, e mais importante: a invenção da escrita”, disse ele à AP. “Se nós quisermos entender nossas raízes, temos que entender esta primeira grande civilização”.
(A partir de texto da Science)

sábado, 11 de junho de 2011

Dedo fossilizado aponta para um grupo previamente desconhecido de parentes humanos

Os ‘denisovanos’ compartilharam a Ásia com Neandertais e humanos modernos há 30.000 anos. É o que mostra a análise de DNA do dedo.
Dente molar encontrado na caverna Denisova.
Fotografia: David Reich et al/Nature
Um pequeno dedo fossilizado descoberto numa caverna nas montanhas do sul da Sibéria pertenceu a uma jovem garota de um grupo desconhecido de humanos arcaicos, disseram os cientistas.
Acredita-se que os parentes humanos desconhecidos tenham habitado a maior parte da Ásia muito recentemente – há apenas 30.000 anos – e, dessa forma, dividiram o território com os primeiros humanos modernos e os Neandertais.
A descoberta pinta um quadro complexo da história humana no qual nossos ancestrais deixaram a África há 70.000 anos para encontrar outros parentes distantes, além dos troncudos Neandertais.
Os novos ancestrais foram denominados “denisovanos”, a partir do nome da caverna Denisova nos montes Altai do sul da Sibéria, onde o osso do dedo foi desenterrado em 2008. Os trabalhadores de campo escavando o sítio encontraram várias ferramentas de pedra e ossos que sugerem que a caverna foi ocupada por humanos primitivos por 125.000 anos.
Um grande dente molar, medindo em torno de 1,5 cm em cada lado e encontrado no sítio em 2000, também pertence a um indivíduo denisovano. O dente adulto era muito grande para pertencer a um humano moderno ou Neandertal, mas similar aos molares vistos nos mais primitivos Homo habilis e Homo erectus.
Pesquisadores liderados por Svante Pääbo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, realizaram testes genéticos no dedo fossilizado e descobriram que os denisovanos compartilharam um ancestral comum com os Neandertais.
A maior surpresa veio quando a equipe comparou o DNA dos denisovanos com o dos humanos modernos. Essa comparação revelou que os denisovanos tinham material genético em comum com populações modernas de Papua-Nova Guiné, devido ao intercruzamento com ancestrais dos melanésios. Anteriormente, o grupo de Pääbo havia divulgado evidências de intercruzamento entre Neandertais e os ancestrais dos não africanos vivos atualmente.
“O interessante é que no momento em que existiam Neandertais na Eurásia ocidental, havia esse outro grupo com uma história distinta que presumivelmente estava espalhado no leste da Ásia”, disse Pääbo ao Guardian. “Nós agora estamos começando a obter um quadro mais compreensivo deles. Nós queremos saber: quem era esse povo arcaico e o que os humanos modernos encontraram quando saíram da África?”
Pääbo decidiu não nomear o grupo como uma nova espécie humana para evitar disputas acadêmicas sobre se eles representam uma espécie separada ou não. “Até mesmo para Neandertais, onde temos mais resquícios que de qualquer outro grupo, os paleontólogos ainda podem não concordar se eles são uma espécie ou uma subespécie. É uma discussão acadêmica estéril porque nunca haverá uma definição e eu não quero entrar nela”, disse ele.
A ligação entre os denisovanos e os melanésios modernos foi completamente inesperada e mostra que os denisovanos devem ter vivido muito além da Sibéria, adicionou Pääbo. “Isto nos conta que humanos modernos tiveram bebês não apenas com Neandertais, mas também com denisovanos, e estas crianças foram incorporadas a grupos humanos ancestrais e contribuíram para a nossa existência atualmente. Isto é fascinante. Há dois grupos arcaicos que continuam a existir em nós hoje em dia e provavelmente mais”, disse Pääbo. O estudo foi divulgado na Nature.
Em março de 2010, os mesmos pesquisadores extraíram DNA mitocondrial do osso do dedo. As mitocôndrias são as usinas de força das células e contêm DNA que é passado apenas pela linha feminina. Estes testes deram as primeiras pistas de que o dedo vinha de um grupo de humanos desconhecido.
Richard Green, coautor do trabalho, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, disse: “A história agora fica um pouco mais complicada. Em vez da história ordenada que nós estávamos acostumados a ter de humanos modernos migrando para fora da África e substituindo os Neandertais, agora nós vemos estas linhas de história bastante entrelaçadas com muito mais atores e mais interações do que sabíamos antes”.
Os paleontólogos aguardam por escavações futuras na caverna Denisova para recuperar mais vestígios fósseis dos denisovanos. Alguns fósseis talvez já sejam observados despercebidamente em coleções de museus ao redor do mundo.
“Há muitos fósseis disponíveis que são enigmáticos. Ninguém realmente sabe o que eles são. Pode ser que muitos deles sejam de denisovanos, mas o único jeito de saber seria extrair DNA desses fósseis, mostrar que eles estão relacionados ou foram escavados na caverna Denisova e achar mais ossos de forma que possamos compará-los com outros fósseis. Os denisovanos talvez não sejam tão desconhecidos como pensamos”, disse Pääbo.
(A partir de texto da Science)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O rei Tut foi sepultado às pressas?

Novas pesquisas sugerem que o jovem faraó Tutancâmon deve ter sido sepultado apressadamente em sua luxuriosa tumba após sua morte prematura há 3.300 anos – talvez até mesmo antes que a pintura de sua câmara sepulcral tivesse secado. O microbiologista de Harvard Ralph Mitchell chegou a essa conclusão depois de determinar que micróbios há muito tampo mortos são responsáveis pelas manchas marrom-escuras que cobrem as paredes exuberantemente decoradas do lugar.
Uma pintura da parede norte da tumba de Tutancâmon.
Fotografia: National Geographic/Getty Images


O rei menino do Antigo Egito se tornou faraó aos nove anos e governou por uma década entre 1333 e 1324 AEC. Relativamente obscuro durante a sua vida, Tutancâmon se tornou um nome familiar em 1922, quando o arqueólogo Howard Carter encontrou sua extraordinária tumba no Vale dos Reis no Egito. Apesar de vários roubos aparentes a sepulturas, a tumba estava repleta de riquezas e antigos tesouros, inclusive joias, relicários dourados e uma máscara funerária de ouro maciço. A descoberta estimulou a fascinação pela egiptologia no mundo inteiro no geral e por Tutancâmon em particular.
Desde então, os especialistas se confundem sobre as circunstâncias envolvendo a morte prematura de Tutancâmon. Várias possíveis causas têm sido apresentadas, incluindo crime, gangrena e a condição genética conhecida como ginecomastia, um desequilíbrio hormonal que dá aos indivíduos masculinos aparência feminina. Recentemente, testes de DNA e mapeamentos por tomografia computadorizada da múmia do rei Tut levaram um grupo de pesquisadores a concluir que o faraó de 19 anos sucumbiu a uma combinação fatal de malária, uma perna quebrada e uma doença óssea. E no último outono do hemisfério norte, um egiptólogo da Universidade do Estado da Califórnia adicionou uma nova e incomum teoria à mistura, sugerindo que o rei adolescente sucumbiu à mordida letal de um furioso hipopótamo.
Após completar um estudo planejado não para revelar o mistério da morte do rei Tut, mas para resgatar sua lendária tumba da ruína, o microbiologista de Harvard Ralph Mitchell deve ter inconscientemente preenchido alguns dos detalhes. Além de descascar a pintura e rachar as paredes, peculiares pontos marrom-escuros estragam as antigas superfícies da câmara sepulcral de Tutancâmon, manchando seus elaborados afrescos e hieróglifos. Em 2009, para verificar a natureza e a origem dessas manchas, o Conselho Supremo de Antiguidades do Egito solicitou a ajuda do Instituto de Conservação Getty, uma organização de pesquisa que trabalha para preservar a herança cultural através da ciência. O grupo recebeu a tarefa de determinar se as manchas eram um sinal inevitável de deterioração, o resultado de turistas se amontoando por décadas na caverna úmida ou possivelmente até mesmo um risco à saúde. A tumba já teve uma visitação diária de mais de 4.000 visitantes, um número que agora está limitado a 1.000 pelas autoridades egípcias.
O instituto rapidamente se voltou para Mitchell, que é especializado na biodeterioração de prédios, monumentos e artefatos antigos. Mitchell ajudou a proteger alguns dos mais preciosos e vulneráveis tesouros do mundo durante sua longa carreira, incluindo os trajes espaciais durante o programa Apollo, que foram infestados por um pernicioso bolor negro, e vários sítios arqueológicos maias. Trabalhando com químicos do Getty e com seu próprio grupo de pesquisadores, Mitchell usou análise molecular e sequenciamento de DNA para avaliar as manchas negras.
A equipe identificou melanina, um subproduto do metabolismo de fungos ou bactérias e desse modo fortes evidências de que micróbios mortos há muito tempo deixaram suas marcas no lugar de descanso final do rei Tut. Fotografias tiradas quando a tumba foi aberta pela primeira vez em 1922 revelaram que as manchas não cresceram ou se proliferaram por anos, outra indicação de que os antigos organismos não estão mais ativos – e, como resultado, não são uma ameaça ao sítio ou aos seus visitantes.
Mitchell e seus colegas ainda não indicaram o micróbio específico que causou as manchas, mas sua própria existência deve trazer luz sobre a história do funeral do jovem faraó há cerca de 3.300 anos. “O rei Tutancâmon morreu jovem, e nós acreditamos que a tumba foi preparada às pressas”, explicou Mitchell. “Nós estamos supondo que as paredes pintadas não estavam secas quando a tumba foi selada”. A umidade da tinta, junto com o corpo recentemente mumificado e oferendas de comida tipicamente sepultadas com o morto, teriam criado o ambiente ideal para o crescimento microbiano.
Como o dano não pode ser revertido e os pontos negros são de tal forma uma característica única da tumba, os conservadores não estão propensos a removê-los de suas paredes, Disse Mitchell. “Isto é parte do mistério da tumba”, explicou ele. Agora, cabe a egiptólogos e outros historiadores antigos interpretarem esta nova peça de evidência e desvelar como ela se encaixa no quebra-cabeça milenar da morte do rei Tut.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sudário de Turim: o trabalho de um artista do Renascimento?

O historiador de arte italiano Luciano Buso tem uma nova e original teoria sobre o Sudário de Turim, o controverso tecido de pouco mais de quatro metros de comprimento no qual algumas pessoas acreditam que Jesus Cristo foi envolto ao ser sepultado. Ao invés de considerar a surrada relíquia de linho – que talvez esteja entre os artefatos mais estudados no mundo – como uma fraude, ele sugeriu em recentes entrevistas e em um livro que uma versão autêntica realmente existiu em algum momento da história. Contudo, passados 1.300 anos, ele se desintegrou tanto que a Igreja Católica pediu ao famoso pintor renascentista Giotto di Bondone para criar uma réplica exata, de acordo com a hipótese de Buso. O original, nesse ínterim, ou se esfarelou, ou foi perdido ou queimado.
Por séculos, cientistas e historiadores se dedicaram ao misterioso Sudário de Turim, uma peça de linho manchada de sangue que exibe o esboço desbotado de um homem crucificado, esperando decifrar o que a imagem representa e como ela foi criada. A primeira referência documentada da relíquia data do século XIV, e registros históricos sugerem que ela mudou de mãos muitas vezes até 1578, quando chegou à sua atual residência na catedral de São João Batista em Turim, Itália. Enquanto a Igreja Católica nunca tomou uma posição oficial sobre a autenticidade do tecido, o Vaticano produziu relatos atestando seu valor e organizou várias exibições públicas, a mais recente na primavera (outono no Brasil) de 2010.
O advento da fotografia no final do século XIX alterou para sempre o curso da história do sudário. Em 1898, um advogado chamado Secondo Pio tirou a primeira fotografia conhecida do pano, e o seu negativo revelou novos detalhes, incluindo impressionantes traços do rosto claramente visíveis. O interesse científico na relíquia iniciou-se imediatamente. Em 1902, o anatomista francês Yves Delage, um agnóstico, inspecionou as fotografias e declarou que a figura no sudário era realmente Jesus Cristo. As primeiras análises diretas do tecido foram conduzidas na década de 1970, mais notoriamente pelo Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim, uma equipe de cientistas liderada pelo físico John P. Jackson da Universidade do Colorado. O grupo descobriu que as marcas no tecido eram consistentes com um corpo crucificado e que as manchas eram de sangue humano verdadeiro; eles também sugeriram que os padrões sombreados da imagem continham informação tridimensional. Contudo, eles não puderam explicar como a impressão foi feita sobre o tecido.
Em 1988, os cientistas removeram um pedaço do sudário para testes de radiocarbono. Três laboratórios independentes concluíram que o material se originou entre 1260 e 1390, levando alguns a considerá-lo não autêntico. Desde então, todavia, estudos posteriores colocaram estas descobertas em questão, sugerindo que os pesquisadores inadvertidamente testaram material que foi enxertado sobre o sudário original durante reparos feitos na Idade Média. Outras análises, muitas das quais mostraram resultados controversos e conflitantes, concentraram-se na origem geográfica de traços de pólen e partículas de sujeira detectados no tecido.
Buso não é o primeiro especialista a teorizar que o sudário pode ter sido o trabalho de um artista. Em maio de 2010, por exemplo, o cientista americano Gregory S. Paul publicou um estudo alegando que o esboço da cabeça menor do que o normal e comprimentos dos braços desiguais eram inconsistentes com proporções saudáveis de um humano moderno. Ele lançou a hipótese de que um artista amador gótico com poucos conhecimentos anatômicos tinha pintado o tecido e o transmitiu como uma relíquia genuína. Em 2009, a artista americana Lillian Schwartz declarou que Leonardo da Vinci tinha intencionalmente falsificado o Sudário de Turim para iludir seus contemporâneos, usando primitivas técnicas de fotografia e uma escultura de seu próprio rosto para produzir a misteriosa imagem.

"Beijo de Judas", afresco de Giotto
na Cappella degli Scrovegni em
Pádua, Itália.
Buso acredita que Giotto, um mestre da pintura mais conhecido por decorar a elaborada Cappella degli Scrovegni em Pádua, Itália, nunca intencionou enganar os crentes e até mesmo usou o sudário real do sepultamento de Jesus como seu modelo. Ele alega ter detectado a assinatura do artista e vários desenhos enfraquecidos do número 15 – uma referência, em seu ponto de vista, ao ano que Giotto criou a réplica – escondidas nas mãos e na face da figura. “(Giotto) não estava tentando falsificar nada, o que está claro por ele ter assinado... para autenticar como um trabalho seu de 1315”, disse Buso ao Daily Mail.


Investigações anteriores falharam em desvelar as várias marcas de Giotto no tecido porque elas foram feitas com padrões de pinceladas ocultas quase invisíveis a olho nu, Disse Buso. Ele também apontou que sua teoria coloca a origem do artefato diretamente dentro da janela de tempo indicada pelas análises de radiocarbono de 1988. A hipótese de Buso foi recebida com crítica, inclusive por Bruno Barberis, diretor do Museu do Santo Sudário de Turim. Um fiel determinado da autenticidade do artefato, Barberis disse ao Daily Telegraph que testes físicos e químicos já comprovaram que o sudário não é uma pintura.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ferramentas de pedra descobertas na Arábia forçam os arqueólogos a repensar a história humana

As ferramentas encontradas no sul da Arábia datam de 125.000 anos atrás - 55.000 anos antes do que se pensava quanto aos humanos terem saído da África.
Machados manuais de pedra pertencentes a humanos que
viveram na Arábia há mais de 100.000 anos.
Fotografia: AAAS/Science/PA

Um conjunto espetacular de ferramentas de pedra descobertas embaixo de um abrigo de rocha desmoronado no sul da Arábia obrigou a uma importante reflexão da história da migração humana para fora da África. A coleção de machados manuais e outras ferramentas modeladas para cortar, furar e lixar trazem a marca das primeiras manufaturas humanas, mas datam de 125.000 anos atrás, cerca de 55.000 anos antes do que se acreditava nossos ancestrais terem deixado o continente.
Os artefatos, descobertos nos Emirados Árabes Unidos, apontam para uma dispersão muito anterior dos antigos humanos, que provavelmente tomaram um atalho partindo do Chifre da África para a península Arábica cruzando um canal raso no mar Vermelho que se tornou transitável no final de uma idade do gelo. Um vez estabelecidos, estes pioneiros devem ter prosseguido através do golfo Pérsico, talvez alcançando a Índia, a Indonésia e até mesmo a Austrália.
Michael Petraglia, arqueólogo da Universidade de Oxford, que não esteve envolvido no trabalho, disse à revista Science: "isto é realmente espetacular. Destrói o apoio da atual visão de consenso".
Os humanos anatomicamente modernos - aqueles semelhantes às pessoas vivas atualmente - evoluíram na África há cerca de 200.000 anos. Até agora, a maior parte da evidência arqueológica tem apoiado um êxodo a partir da África ou várias ondas de migrações, ao longo da costa mediterrânea ou do litoral árabe entre 80.000 e 60.000 anos atrás.
Uma equipe liderada por Hans-Peter Uerpmann da Universidade de Tübingen na Alemanha descobriu as mais antigas ferramentas de pedra enquanto escavavam sedimentos na base de uma protuberância desmoronada localizada numa montanha calcária chamada Jebel Faya, localizada a cerca de 55 km do litoral do golfo Pérsico. Escavações anteriores no sítio tinha encontrado artefatos da dos períodos do ferro, bronze e neolítico, evidência de que a formação rochosa forneceu milênios de abrigo natural para os humanos.
O grupo de ferramentas inclui pequenos machados manuais e lâminas bilaterais que são consideravelmente similares àquelas fabricadas pelos primeiros humanos no leste da África. Os ppesquisadores temporariamente rejeitaram a possibilidade de outros hominíneos terem feito as ferramentas, tais como os neandertais que já ocupavam a Europa e norte da Ásia, mas que não estavam na Arábia na época.
As pedras, uma forma de rocha rica em sílica chamada sílex córneo, foram datadas por Simon Armitage, um pesquisador da Royal Holloway, da Universidade de Londres, usando uma técnica que mede até onde os grãos de areia em volta dos artefatos foram queimados. Outra parte do trabalho dos arqueólogos, descrito na Science, concentrou-se nos registros de mudanças climáticas e no histórico do nível do mar na região. Eles mostram que, entre 200.000 e 130.000 anos atrás, uma idade do gelo global causou quedas nos níveis dos mares em até 100 metros, enquanto os desertos do Saara e da Arábia se expandiram em regiões vastas, desoladas e inóspitas.
Mas à medida que o clima esquentou no final da idade do gelo, chuvas refrescantes caíam sobre a Arábia, tornando a região acessível à ocupação humana. " O interior antes árido da Arábia teria sido tranformado em uma paisagem amplamente coberta de savanas, com sistemas de abrangentes de rios e lagos", disse Adrian Parker, pesquisador da Universidade Oxford Brookes e coautor do artigo.
A revitalização da Arábia coincidiu com registros de baixos níveis do mar, que deixou apenas uma faixa rasa de água de cerca de cinco quilômetros no estreito de Bab al Mandab que separa o leste da África da península Arábica. Uerpmann disse qie os primeiros humanos caminhado ou atravessado com dificuldade, mas acrescentou: "Eles poderiam ter usado jangadas ou canoas, que eles certamente poderiam fazer na época".
Os recém-chegados teriam encontrado bons campos de caça no final de sua jornada, abundante em asnos selvagens, gazelas e cabritos monteses, disse Uerpmann.
A descoberta estimulou o debate entre os arqueólogos, alguns dos quais dizem que é preciso evidências mais fortes para das suporte às afirmações dos perquisadores. "Eu não estou totalmente convencido", disse à Science o arqueólogo da Universidade de Cambridge, Paul Mellars. "Não há aqui um pedaço de evidência de que estas ferramentas tenham sido feitas por humanos modernos, nem que eles tenham vindo da África".
Chris Stringer, paleontólogo do Museu de História Natural de Londres, disse: "A região da Arábia tem sido terra incognita na tentativa de mapear a dispersão dos humanos modernos a partir da África durante os últimos 120.000 anos, levando a muita teorização frente a poucos dados".
"Apesar da desconcertante falta de diagnóstico da evidência fóssil, este trabalho fornece sinais importantes de que os primeiros humanos modernos talvez tenham se dispersado a partir da África através da Arábia, até o estreito de Ormuz, há 120.000 anos".

(Fonte: Science)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ossos descobertos empurram para o passado em mais 1 milhão de anos data para o primeiro uso de ferramentas de pedra

Os ossos foram encontrados próximos ao sítio de "Lucy", provável ancestral humana, que viveu há 3,2 milhões de anos.


Marcas em ossos animais sugerem que os ancestrais humanos usavam pedras para cortar carne Há 3,4 milhões de anos. Fotografia: Dikka Research Project/PA

Os ancestrais dos primeiros humanos usavam ferramentas de pedra para remover a carne de carcaças animais aproximadamente 1 milhão de anos antes do que se pensava.
Os arqueólogos revisaram a data depois de identificar cortes distintivos e marcas de esmagamento feitos por ferramentas de pedra em ossos de animais datando de 3,4 milhões de anos.
Os restos, incluindo uma costela de uma criatura semelhante a uma vaca e um osso da coxa de um animal do tamanho de uma cabra, foram recuperados de sedimentos do leito de um rio em Dikka, na região de Afar no norte da Etiópia durante uma expedição realizada em janeiro de 2010.
As marcas mostram onde as ferramentas de pedra foram usadas para cortar e raspar a carne das carcaças e onde os ossos foram esmagados para expor a nutritiva medula interna.
A descoberta sugere que a carne estava no menu a muito tempo em nossa história evolucionária, muito tempo antes do surgimento da primeira espécie humana, o Homo habilis, 2,3 milhões de anos atrás.
"Nós estavamos apenas caminhando quando descobrimos os dois ossos", disse Shannon McPherron, arqueóloga do Instituto Max Planck para Antropologia Evolucionária em Leipzig. "Nós erguemos o fragmento de costela e sobre ele havia estas duas marcas. Logo depois, encontramos o segundo osso, também com um monte de marcas. Imediatamente soubemos que tinhamos encontrado algo potencialmente importante".
Até agora, a evidência mais antiga do uso de ferramentas de pedras era um grupo de mais de 2.600 lascas de pedra com idade estimada em 2,5 milhões que foi desoberto em outra parte da Etiópia em 1997. Estas ferramentas foram lascadas para fazer lâminas de corte afiadas, mas em Dikka, as pedras foram provavelmente usadas da forma que foram encontradas.
Os ossos descarnados foram descobertos próximos a onde o esqueleto de um provável ancestral humano, chamado Lucy, foi encontrado. Lucy pertencia à espécie chamada Australopithecus afarensis e viveu na região há aproximadamente 3,2 milhões de anos. Na época, a região era quente e úmida, com pedaços de savanas e áreas altamente florestadas povoadas com formas primitivas de girafas, macacos, elefantes e rinocerontes.
"Agora quando nós imaginarmos Lucy caminhando na paisagem africana oriental procurando por comida, nós podemos pela primeira vez vê-la com uma ferramenta de pedra na mão buscando por alimento", disse McPherron. O esqueleto de outra fêmea ainda criança, Selam, foi encontrado há 320 quilômetros dali.
A análise detalhada das marcas de corte sobre os ossos mostra que elas diferem substancialmente das marcas de dentes e garras que podem ser deixadas por predadores. Uma das marcas foi feita com um pequeno fragmento de pedra, de acordo com a Nature.
O uso de ferramentas de pedra simples para remover carne e tutano marca um momento crucial na história humana. À medida que os ancestrais dos primeiros humanos se voltavam para a carne como alimento, eles se habilitavam a ter cérebros maiores os quais por sua vez possibilitavam-lhes fazer ferramentas mais sofisticadas.
"Estes ossos talvez nos mostre o começo desse processo", disse Chris Stringer, chefe da área de origens humanas do Museu de História Natural de Londres.
"O que nós precisamos desses sítios agora são evidências das próprias ferramentas de pedra, de forma que nós possamos ver se elas foram manufaturadas ou eram pedras naturais que por acaso foram usadas para o desossamento da carne", complementou Stringer.
Lucy e outros de sua espécie provavelmente carregavam ferramentas de pedra naturais com eles para usar quando encontrassem um animal morto. "Não é uma coisa trivial deixar as árvores para trás, vaguear por essa paisagem aberta e começar a remover carne e tutano de uma carcaça. Estas mesmas carcaças atraíam carnívoros que viam estes primeiros hominíneos como comida,que dessa forma estavam encarando um grande risco", disse McPherron.
(Texto a partir da Science)

domingo, 29 de maio de 2011

Ave, Barcelona!!!

Sábado, 28 de maio de 2011. Nesse dia eu vi pela tv uma grande partida de futebol. Ou melhor: vi uma equipe jogar uma partida impecável, quase perfeita. O Barcelona jogou um futebol irretocável, espetacular mesmo, contra um Manchester United que, às vezes, parecia, encantado, fazer o que eu estava fazendo: assistir a apresentação magistral de seu adversário. A defesa não dá chutões, sai tocando no meio das estátuas adversárias; o meio campo troca passes como quem acaricia a amada e com a paciência dos deuses; e o ataque tem Messi, que inventa espaços, pensa o impensável, joga como poucos jogaram: já se pode, sem nenhuma dúvida, colocá-lo ao lado de Puskas, Pelé, Cruijff, Zico e Maradona. A minha idade me permite a lembrança de quando jogávamos assim: o Flamengo de Andrade, Adílio e Zico, a nossa seleção de 1982. Resta-nos aplaudir com uma pitada de nostalgia, de quando éramos nós os que faziam o espetáculo. Agora o futebol bonito é jogado pelo Barcelona e pela seleção espanhola. O papel se inverteu. Pior para nós, mas para o bem do futebol e para o deleite daqueles que adoram este esporte: Ave, Barcelona!!!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Futebol e paixão

Estava lendo as observações no blogo do professor Antonio Paulo Rezende, A Astúcia de Ulisses (http://www.astuciadeulisses.com.br), e achei interessante a observação postada por Monique, no texto "Três cores que comandam paixões". Náutico, Sport e Santa Cruz têm seus estádios encravados no centro do Recife. Obviamente, quando os estádios foram construídos, eles ficavam em zonas periféricas. No começo do século XX, as partidas ocorriam onde hoje é a Jaqueira, principalmente no campo da av. Dr. Malaquias. Uma foto da Ilha do Retiro às vésperas da Copa do Mundo de 1950 (que eu postei em um texto anterior: http://gleidsonlins.blogspot.com/2010/10/o-brasil-se-prepara-para-proxima-copa.html ) mostra a Ilha do Retiro isolada, e o estádio do Arruda até a década de 1960 ainda era um campo de várzea. Mas o Recife cresceu e englobou essas áreas. Como o planejamento urbano não é algo que se possa contar de nossos governantes (há exceções, como o governador Sérgio Loreto na década de 1920), a cidade vira um caos, como citado por Monique, nos dias de jogo. Quem quiser passar em frente à Ilha do Retiro, Aflitos ou Arruda em dia de jogo, principalmente se for à noite, esqueça. Na verdade, o trânsito recifense está caótico já faz algum tempo. Mas os nossos governantes estão acima disso. Quando metade do Recife ficou literalmente embaixo d’água no último dia 5, o nosso atual governador foi à tv, com o cinismo típico dos políticos, dizer que não havia motivo para pânico, que tudo estava sob controle… Os padrões de qualidade ético, moral e técnico de nossos governantes precisam melhorar… E muito; para que quando falarmos de futebol nos atenhamos apenas ao prazer lúdico do esporte.

domingo, 10 de abril de 2011

Violência gratuita

O evento ocorrido no Rio de Janeiro na última quinta-feira 07/04/2011, o assassinato indiscriminado perpetuado por uma pessoa insana em uma escola, que levou à morte 12 crianças além de ferir outras, excetuando-se o sensacionalismo dos meios de imprensa, foi um dos mais horrendos dos últimos anos. Esse evento deixa-nos a sensação de que a sociedade falha na avaliação dos perigos cotidianos.

Aprendi nos meus anos vividos que a maioria dos acontecimentos, por mais inusitados que sejam, quando avaliados retroativamente depois de ocorridos, sempre são precedidos por sinais e indicações que não foram interpretados adequadamente. Essa característica é um dos pilares da Engenharia de Segurança do Trabalho, onde as análises dos quase acidentes ou incidentes, tanto qualitativas quanto quantitativas, são utilizadas para a prevenção de acidentes.
A nossa sociedade atual não se preocupa com esses sinais indicadores, que podem levar a comportamentos irracionais monstruosos. Vivemos solitários na multidão, uns mais que outros. Quantos, em cada grande cidade brasileira, podem ter agora sentimentos que levem ao comportamento louco do assassino da escola do Rio de Janeiro? Mas nós estamos muito mais preocupados com o sucesso pessoal, afinal vivemos numa sociedade onde a competição esta arraigada e que progride por causa disso. Mas tudo tem o seu preço, ou custo de oportunidade: temos que abrir mão de alguma coisa em prol de outra. Ou seja, o que fazemos depende do valor que damos às coisas nas escolhas que fazemos. E as escolhas que fazemos estão voltadas quase sempre para nosso pequeno mundo, para o que está próximo a nós. Dessa forma, não damos tanta importância a comportamentos poucos convencionais de alguns. É mais fácil discutir e acompanhar novelas, clubes de futebol e sensacionalismos perpetuados pela televisão que notar um louco pensando em assassinar pessoas (segundo dados do IBGE, mais de 95% dos domicílios brasileiros tem pelo menos um aparelho de televisão).
Não nos esqueçamos: aqueles que vivem à margem da sociedade também podem impactá-la. Eles estão à margem, mas não estão fora. Eles também fazem parte da nossa sociedade que os ignora, até que eles ponham em prática atos covardes e terríveis como o engendrado pelo louco assassino da escola do Rio de Janeiro.