sexta-feira, 17 de junho de 2011

As construções do imperador romano Adriano capturavam o Sol

A propriedade de campo do imperador estava alinhada para receber os solstícios.
No solstício, o sol brilha no edifício Roccabruna (esquerda),
iluminando a parede oposta (direita).
Fotografias: Marina De Franceschini
A vila de Adriano a 30 quilômetros a leste de Roma era o lugar onde o imperador poderia relaxar em banhos de mármore e esquecer as aflições do poder. Mas ele não podia nunca perder completamente a linha do tempo, afirma Marina De Franceschini, arqueóloga italiana que acredita que alguns dos edifícios da vila estão alinhados de forma que produzam efeitos da luz do sol nas estações.
Por séculos, os acadêmicos têm acreditado que os mais de 30 edifícios na propriedade palaciana campestre de Adriano estavam orientados mais ou menos ao acaso. Mas De Franceschini afirma que durante o solstício de verão, lâminas de luz penetram dois dos edifícios da vila.
Em um, o Roccabruna, a luz do solstício de verão entra através de uma abertura em forma de cunha acima da porta e ilumina um nicho no lado oposto do interior (veja a imagem acima). E em um templo do edifício Accademia, De Franceschini observou que a luz do sol passa através de uma série de portas durante os solstícios de inverno e verão.
“Os alinhamentos me deram uma nova chave de interpretação”, disse De Franceschini, que afirma que os dois edifícios são conectados por uma esplanada que era uma avenida sagrada durante os solstícios. Baseada em textos antigos descrevendo rituais religiosos e no estudo de esculturas recuperadas, ela acredita que os efeitos de luz estavam ligados a cerimônias religiosas associadas à deusa egípcia Isis, que fora adotada pelos romanos.
De Franceschini, que trabalha com a Universidade de Trento na Itália, publicará um livro nos próximos meses descrevendo o trabalho astronômico-arqueológico. Ela dá crédito a dois arquitetos, Robert Mangurian e Mary-Ann Ray, por inicialmente observar o efeito luminoso em Roccabruna.
Robert Hannah, um classicista da Universidade de Otago na Nova Zelândia, afirma que as ideias de De Franceschini são plausíveis. “Elas certamente estão prontas para futuras investigações”, disse ele.
Hannah, que atualmente está buscando identificar alinhamentos associados com ascensão de estrelas em templos gregos em Chipre, acredita que o Panteão, um grande templo em Roma com uma janela circular no topo de seu domo, também age como um relógio solar de calendário gigante, com a luz do sul iluminando superfícies interiores importantes nos equinócios e em 21 de abril, o dia do aniversário da cidade.
Poucos edifícios clássicos foram investigados quanto a alinhamentos astronômicos, disse Hannah, parcialmente porque é mais fácil verificar alinhamentos em estruturas pré-históricas como Stonehenge, que não tem artefatos potencialmente contraditórios.
Jarita Holbrook, astrônoma cultural da Universidade do Arizona em Tucson, EUA, também não está surpresa com os alinhamentos solares da vila de Adriano. Eles são “uma parte comum da maioria das culturas”, disse ela. Mas, acrescenta, também é fácil construir edifícios coincidentemente alinhados com características astronômicas.
De Franceschini planeja passar a semana do próximo solstício de verão na vila de Adriano, na esperança de documentar os efeitos de luz no templo de Apolo mais cuidadosamente. O solstício de verão do ano passado foi chuvoso, disse ela. “Espero que esse ano consigamos fotos melhores”.

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